Uma das estrelas do governo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai pedir ao presidente Jair Bolsonaro, na segunda-feira, 20, durante despacho no Palácio do Planalto, que ele interceda junto às tropas bolsonaristas para suspender a escalada de ataques a ela pela internet após as crises artificiais criadas por setores governistas com a China e principalmente a partir da demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde.
Bolsonaro demitiu Mandetta na tarde de quinta-feira (16) e naquela mesma noite já atirava contra seu novo inimigo número um, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Tereza Cristina é do DEM, como Maia, Mandetta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que acaba de romper com o Planalto.
Ela é também do Mato Grosso do Sul, como Mandetta, e líder ruralista, como Caiado. Sua assessoria identifica articulações e um aumento considerável de ataques contra ela na internet, com o dedo do chamado “gabinete do ódio”, o grupo do Planalto que dispara impropérios e fakenews contra adversários reais ou imaginários do presidente.
No primeiro ano de governo, o DEM teve três ministros: Tereza Cristina, Mandetta e Onyx Lorenzoni, depois rebaixado da Casa Civil para o Ministério da Cidadania. Diante da guerra de Bolsonaro com o partido, Onyx ainda não sabe se deve ou não migrar do DEM para o Aliança, o partido que o presidente tenta criar. Tereza Cristina está sendo indiretamente forçada a optar entre o Ministério da Agricultura e o seu partido. Uma “escolha de Sofia” que ela não está disposta a fazer, pois se sente confortável no DEM e tem boa relação com Bolsonaro. Como sempre diz, neste momento seu negócio é a Agricultura, não a política.
A principal diferença entre os casos dos dois ministros é justamente essa: Mandetta batia de frente com o próprio presidente da República por divergências quanto ao isolamento social no combate ao coronavírus, enquanto o problema de Tereza Cristina não é Bolsonaro. Ela é respaldada por ele, mas alvo de hostes bolsonaristas, principalmente das mais ligadas ao seu setor, a Agricultura. A outra diferença é que, conforme tem dito a aliados e amigos, a ministra não tem a menor intenção de ser “fritada” publicamente durante semanas, como foi Mandetta. Se tiver que sair, quer sair logo. Com mandato de deputada, ela atravessa a Esplanada dos Ministérios e volta para a Câmara.
Além da questão político-partidária em torno do DEM, há também a questão ideológica envolvendo a China. Enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fazem provocações contra o maior parceiro comercial do Brasil, um culpando a China pela pandemia, outro usando o personagem de quadrinhos Cebolinha para ironizar os chineses, Tereza Cristina trabalha em sentido oposto: restabelecer pontes.
A China é a maior importadora de soja do Brasil. No ano passado, foi responsável por 80% das compras do produto e pela entrada de R$ 20 bilhões no setor. Afinal, como lembram integrantes da Comissão de Agricultura da Câmara, da Parlamentar do Agronegócio e da Frente Parlamentar Brasil-China, em maioria bolsonaristas e aliados da ministra, o país tem 1,4 bilhão de bocas a serem alimentadas. Nunca é hora de brigar com a China, muito menos em tempos de pandemia por covid-19, as economias esfarelando e o mundo de ponta cabeça.
A grande preocupação, não só da ministra, mas de toda a agricultura, é que os Estados Unidos entrem no vácuo e se habilitem como principal exportador para a China, tirando mercado brasileiro. E não é só em relação à soja. O Brasil também abriu brechas na China para exportar carne bovina, de frango e de porco. Se essas brechas se fecharem, o que fazer com a produção?
Até por isso, a ministra participou de uma videoconferência de mais de uma hora com o embaixador americano em Brasília, o recém-chegado Todd Chapman. Ela não passou detalhes a seus interlocutores do Congresso, limitando-se a dizer que a conversa foi “muito boa” e deixou claro que a questão agrícola não é de aliança política com esse ou aquele país, mas sim “de mercado”.
Além da Frente, associações e órgãos ligados à agricultura têm defendido a ministra e criticado os ataques do filho do presidente e do ministro da Educação contra a China. Alguns se prontificaram, inclusive, a fazer moções e manifestos a favor de Tereza Cristina, que desestimula iniciativas do gênero e, nas conversas com integrantes desses grupos, sempre se refere ao “nosso governo”, elogia o presidente Bolsonaro e diz que a relação entre eles é muito boa.
O agronegócio, porém, não é um monobloco. Além dos favoráveis, há também os adversários da ministra, que pressionam por mais recursos e agora usam a crise para tentar arrancar mais privilégios. São esses que, na opinião dos aliados dela, estão se aproveitando do ambiente político e dos atritos do presidente com o DEM para tentar miná-la junto ao Planalto. A palavra está com Bolsonaro.