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Nuvem de gafanhotos está com os dias contados. Saiba o porquê

Especialista em insetos é enfático: não há motivos para alarde e já há protocolos para conter essa praga

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O que acontece quando, em plena pandemia, combinamos uma nuvem de gafanhotos de cerca de 10 quilômetros de comprimento com a possibilidade de transmissão de mensagens instantâneas por várias redes de comunicação? A receita é excelente para produzir as teorias mais apocalípticas até então vividas pela humanidade desde que o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo.

Mas a população brasileira pode ficar calma. Ao contrário do que se tem dito nas redes sociais, o fenômeno é natural. Ocorre de tempos em tempos e pode estar com os dias contados, segundo o agrônomo Dori Edson Nava, que tem mestrado e doutorado no estudo de insetos, e um dos pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS).

“Os ventos estão a favor do Brasil e contra essa nuvem de gafanhotos”, explica Nava. “Caso contrário eles já estariam no País.” Isso porque estima-se que os gafanhotos possam se locomover cerca de 150 quilômetros num só dia. Os ventos estão direcionando os insetos para as províncias de Córdoba e Santa Fé, na Argentina, podendo chegar ao Uruguai.

O atraso causado pelos ventos é o primeiro ponto a favor do Brasil. O segundo é o clima. A partir de hoje o frio fica mais acentuado na região Sul. O pico de frio será maior neste final de semana. “E no decorrer da próxima semana o clima pode ficar mais ameno, mas há previsões que não passe dos 10°C”, explica o pesquisador. Com o frio os insetos não voam, tem sua atividade reduzida e podem morrer, reduzindo drasticamente sua população.

O terceiro ponto é a falta de opções de alimento. Exceto as pastagens naturais do Pampa gaúcho, as demais lavouras já foram colhidas. Agora é época de plantio dos cereais de inverno no Brasil.

Fenômeno natural

A espécie de gafanhotos que viralizou em diversos vídeos nas redes sociais é natural da porção sul da América do Sul. Por isso já são velhos conhecidos no Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil. Com a união de clima quente, pouca chuva e ausência da ação de inimigos naturais como aves, sapos e outros insetos, essa população de gafanhotos se multiplicou.

A praga está presente no Brasil desde o século 19 e já causou grandes perdas às lavouras de arroz na região Sul nas décadas de 1930 e 1940. Há cerca de 4 safras, um surto semelhante aconteceu no Maranhão, e, no ano passado, no Paraguai.

Controle

Pelo Twitter, a ministra da Agricultura Tereza Cristina fez um post para tranquilizar a população. “Montamos um plano de monitoramento dessa nuvem de gafanhotos e a gente espera que ela não chegue ao Brasil”, disse num vídeo publicado na noite de terça (23). “Mas há ações que podem ser implementadas caso isso aconteça”.

Caso a nuvem chegue ao País, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento pode acionar o alerta emergencial de fitossanidade que fará o uso de pesticidas para conter o avanço dos insetos, com aplicação feita por aviões agrícolas.

“Mas isso está em último caso”, explica Nava. “Essa espécie de gafanhoto nem é uma das principais que atacam as plantações brasileiras sendo mais conhecida como uma praga secundária”. Para se ter uma ideia, há cerca de 12 mil espécies de gafanhotos no mundo e apenas uma dezena delas causam danos ao homem.

E agora, está mais tranquilo ou tranquila? Continuamos com a missão de trazer boa informação aos seus leitores e ajudar que notícias apocalípticas não se espalhem.

Fonte – AgroSaber