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Amigos, isto não é despedida!

Por Dovílio Rodrigues (in memoriam)

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Senhor. Agora que pela longevidade, é natural pensar que deixarei sem grande demora a “horta da vida” que o Senhor me colocou como agricultor, num tempo recuado, preciso confessar: Quando aportei nesta encarnação, ainda nem existia o gás de cozinha… O guaraná vinha fechado com tampinha de rolha… A caneta era de metal em formato de pena cortada e tinteiro. O Bom Bril ainda ausente, era substituído pela areia… A penicilina era natural, encontrada na fermentação orgânica de materiais em decomposição, portanto, desconhecida. O rádio e a telefonia engatinhavam… Enfim, já dá para ver que sou alguém corporalmente falando, em fase final.

Citarei apenas algum acontecimentos porque hoje estou colhendo mais uma abobora na horta, que já não produz como dantes e, segundo um amigo, já estou com o caminhão lotado de abobrinha para provavelmente, a última viagem…

Dois meses após minha expulsão de um reteso vaso uterino, pelas contrações que fazem partes do amor e da dor maternal, já estava eu na roça, numa rede entre pés-de-café, de fraldas bastante rusticas, feitas de saco de açúcar aguardando minha mãe que capinava as plantas e vinha me amamentar… Rodeado de cobra que vinha atraída pelo cheiro do leite materno, lembrando-me agora, que o começo já era e foi preocupante.

Abreviando:

Com ano e meio, de mão dada levado por meu pai que conversava com o administrador da fazenda, em dado momento interceptei a conversa e falei: -… Seu Belmiro, o senhor aceita de eu casar com a Alzira? Filha caçula, linda que ele tinha. Ele baixou o olhar e me disse:

– Mas, você ainda não ganhou dinheiro para comprar calça! Como podem ver, já era um aviso que eu teria problemas com sexo ativamente forte…

Aos dois anos: precisavam meus irmãos esconder sob o arroz-feijão o ovo frito de cada um por que eu comia o meu e saia à cata dos demais…

Aos seis anos: já trabalhava no cafezal, mas antes, logo bem cedo, fazia exame de “toque” nas galinhas, par sentir as que iam botar para o almoço suculento, acompanhado de salada de almeirão ou beldroega… (estão rindo?) imaginem o que vem por aí…

Meus amigos e amigas. Retroagindo meu pensamento agora, observei não ser possível, a despeito da abreviação, dizer tudo em rede social, mesmo em muitas posts, tudo que comigo se passou e passa.

Assim pensando, momento que o meu anjo Luiz Silveira, incansável no amor e na dedicação, chegou e disse-me:

-Ah… Você não vai conseguir mesmo, vai faltar espaço pelo enorme volume de tópicos, sem contar que sua jornada ainda não findou e tem acontecimentos que estão por vir, ou no seu esquecimento atual, sem falar que seu desencarne será de novos ensinamentos àqueles que te conheceram e que dará fecho interessante à futura narrativa. Na sua obra “A Vitoria do Colecionador de Derrotas”, você colocou de forma poética e romanceada, boa parte desta sua encarnação; quem sabe no futuro como espirito desencarnado, se houver permissão superior, você poderá estar passando para algum sensitivo encarnado, uma Obra Mediúnica mais completa, onde poderá relatar com detalhes, sua já consumada futura desencarnação.

Tenho alguns agradecimentos inadiáveis a fazer:

Ao BONÍSSIMO Deus, por ter me criado –.

A meu pai, que me ensinou desde bem cedo a trabalhar –.

A minha mãe, que repartiu comigo milhas lagrimas juvenil, pelas chacotas, provocada por infelizes, pelo meu defeito físico (lábios leporino) –.

E ao meu amigo, mensageiro do Amor, anjo de guarda Luiz Silveira.

Obrigado – precisava dizer isso a vocês amigos e amigas…

*Dovílio Rodrigues, barbeiro, fotógrafo d’O Imparcial e O Diário da Araraquarense, e, integrante da equipe da Polícia Técnica de Araraquara. Poeta e Escritor, Espírita, faleceu em 08 de julho de 2018. (Homenagem póstuma pela sua sensibilidade, descrevendo o começo do fim).

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