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Arma de fogo não garante a liberdade

Por Walter Miranda

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Em discurso inflamado durante o lançamento da candidatura do deputado federal Major Vitor Hugo para o governo de Goiás, no último dia 29, o presidente afirmou: “Só com o pessoal do CAC (Colecionadores, Atiradores e Caçadores) nós liberamos a quantidade de 350 para quase 700 mil armas no nosso governo. A arma de fogo na mão do cidadão de bem é a garantia que ele pode dar à sua família”.

Como pode um ser humano que se diz cristão, maior autoridade política do país, fazer tanta apologia à arma de fogo, incluindo armas de guerra como fuzil AR-15, que dispara 45 tiros por minuto, ou AK-47, que dispara 600 tiros por minuto, quando Jesus Cristo nos ensinou a não matar (Êxodo 20:13)? Ele não andava armado e era contra qualquer violência, nos ensinando que, se nos derem uma bofetada numa das faces, que ofereçamos a outra (Lucas 6:29).

Penso que ninguém nasce violento, criminoso. A sociedade, num mundo cheio de tantas aflições e injustiças vindas até da classe política, forma bandidos. O aumento da violência decorre da falta de investimento na educação, e impedindo que crianças convivam em lares violentos.

Entre janeiro de 2013 e março de 2022, a Receita Federal junto com a Polícia Federal apreenderam 23 mil armas pesadas, sendo que aproximadamente 15% eram fuzis, considerados armas de guerra.

Matéria do G1, no dia 5 de março de 2019, reproduziu notícia da BBC – Rádio e TV do Reino Unido – dando conta de que a tolerância zero a armas e álcool tornou o Japão um dos países mais seguros do mundo. No ano de 2019 foram cometidos apenas 22 crimes com armas de fogo. Lá vigora a lei da tolerância zero a armas e álcool.

Na terra do sol nascente, ao invés de gastos com armamentos, se investe muito em educação, US$ 10,7 mil por aluno no ano de 2021. O Brasil investiu apenas US$ 3.866 no mesmo ano, sendo que boa parte se perdeu com a corrupção.

A renda média líquida por pessoa no Japão, em 2018, era US$ 28.872 (cerca de R$ 149 mil) por ano, sendo que quase 80% das pessoas com idade entre 15 e 64 anos tinham emprego remunerado. Não tenho dúvida de que com boa distribuição de renda e qualidade de vida, as pessoas não preferem o mundo do crime e não precisam andar armadas.

A gerente de projetos do Instituto Sou da Paz, Natália Pollachi, numa das entrevistas à TV Globo, afirmou que boa parte da comercialização de armas de fogo alimenta a criminalidade. Ela considera uma “política irresponsável” incentivar as pessoas a se armarem. O assalto a bancos em Araçatuba no ano 2021, foram efetuados por grupos portadores de armas de guerra.

Entre 2019 e 2021, segundo a Polícia Federal, o registro de armas no Brasil triplicou. Foram mais de 150 mil novos armamentos autorizados por ano, representando aumento de mais de 220%, quando comparado com o triênio anterior.

Considero uma atitude criminosa, inconsequente, num país onde 33 milhões de seres humanos passam fome, qualquer governante defender armar a população, em vez de investir em educação de qualidade para todas as crianças, exatamente como fazem o Japão e outros países desenvolvidos. Não votem em políticos que defendem armar a população. Penso, finalmente, que armas de fogo não garantem a liberdade.

(*) Walter Miranda, de vice-presidente do Sindifisco Nacional-Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil/Delegacia Sindical de Araraquara; Diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Saúde e Previdência do Estado; militante da CSP CONLUTAS Central Sindical e Popular.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR CONLUTAS-Central Sindical e Popular