Houve uma época em que as eleições não somente eram raras, como também muito disputadas, envolvendo quase que toda a população do município, rural e urbana, mesmo aquelas pessoas mais indiferentes à política.
Interessante é que as mulheres aparentemente não se manifestavam sobre os candidatos, além do que candidatas sequer existiam. No entanto, na intimidade do lar, influenciavam seus maridos e filhos, pois nas conversas entre elas, com as vizinhas principalmente, não desconheciam quem era quem. Dessa forma, homens e mulheres, direta ou indiretamente, acabavam participando das disputas. Seria essa uma prova da conscientização popular?
Depois da abertura democrática, as eleições tornaram-se tão rotineiras a ponto até de se chegar à saturação. Porém, de qualquer maneira, não deixavam de ser uma festa. Entretanto, as falcatruas constantes dos maus políticos, denunciadas pela imprensa, levou o eleitor a reavaliar o seu pensamento. A ideia de um candidato engajado na luta em prol do bem comum, voltado aos legítimos interesses populares, caiu por terra. Então o eleitor, e agora mais do que nunca, a eleitora, decepcionaram-se com os políticos.
Porém, como ainda não se descobriu uma fórmula melhor de governar numa democracia, senão conceder ao candidato a um cargo eletivo um voto de confiança pela maioria — pois, afinal, alguém ou poucos têm de mandar em muitos —, as eleições continuam a ser a única maneira de se tentar e poder avaliar a competência e o idealismo daqueles que se propõem em ser líderes.
O eleitor não tem saída, pois o voto ainda é obrigatório. Ele tem de votar, ou protestar anulando seu voto ou então votando no menos ruim, pois ele não está encontrando o melhor, aquele que, de fato, poderia ser o seu legítimo representante.
Assim, as eleições, que deveriam expressar euforia, tornaram-se apáticas. Desconfia-se das propostas, que os candidatos negam ser promessas. Desconfia-se da propaganda, daquilo que, o que dizem, não ser verdades. Quem escolher, dentre os muitos candidatos e as poucas vagas?
O candidato, o cidadão da Roma antiga, quando concorria a um cargo público, fazia sua campanha vestido com uma toga branca, simbolizando sua pureza e honradez. Daí a origem do termo candidato: vem de “candidus”, branco brilhante, branco como a neve.
O político deve resgatar sua antiga imagem de um homem probo, honesto, dedicado e desprendido. E se ele não conseguir afastar a ideia atual, de um sujeito interesseiro, de profissional da política, preocupado com ele mesmo e não com os legítimos anseios populares, nunca será objeto da confiança do eleitor.
Nem parece que estamos quase a três meses das eleições, em 15 de novembro, mesmo porque sequer conhecem-se os candidatos e candidatas ao Legislativo ou ao Executivo, pois tudo não apenas foi agravado pela disseminação do coronavírus, como pela apatia do eleitorado ante à decepção com os políticos que já vem de longe.
Apesar de tudo, ainda há tempo para se pensar em votar no melhor. E esperar o que os candidatos e candidatas têm a dizer para o nosso futuro.
**Luís Carlos Bedran, é sociólogo e cronista da Revista Comércio, Indústria e Agronegócio de Araraquara
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