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Gildo Merlos: seguem com ele os bons tempos da nossa política

Por Ivan Roberto Peroni

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O falecimento de Gildo Merlos, que foi vereador, presidente da Câmara Municipal e que por mais de 30 anos manteve acesa a chama da influência política regional, além de representar uma perda irreparável para a história da cidade parece mostrar que os gestos e os costumes de Araraquara já estão aparentemente mais pobres. Ele fez parte de um seleto grupo de políticos que aos poucos partem, deixando apenas seus legados.

Assim foi com Miguel Tedde Neto, Arnaldo Izique Caramurú, Rubens Bellardi Ferreira, Elias Damus, Flávio Ferraz de Carvalho, José Pizani, Laurindo Ferreira, Omar de Souza e Silva, Aldo Comito e tantos outros nomes que os jovens de hoje jamais ouviram falar. Porém, está neles a marca do trabalho, cada qual contribuindo a seu modo com a construção de uma grande cidade.

Era o tempo de uma cidade com não mais que 70 mil habitantes, comprometida com a qualidade de vida da sua população, sem as rusgas de um separatismo. Os desencontros políticos não se acentuavam em esquerda e direita; políticas públicas, eram aplicadas de forma igualitária, pois a comunidade vivia em sintonia com princípios e direitos.

Gildo Merlos, filho de espanhóis, ao lado de tantos outros irmãos, era puxado pelo trabalho e todos pontuavam no fim do dia o amor pela cidade, mostrando em cada gesto – decência e respeito como fonte inesgotável de virtudes. A explosão, própria do sangue trazido da pequena Espanha, se acentuava na visibilidade de situações que não expressavam a realidade dos tempos em que – vizinhos ainda conversavam em calçada no começo da noite.

A perda de um filho tão jovem e de forma trágica nos anos 70, vítima de acidente, por todo o tempo tornou Gildo Merlos um ser humano ainda mais bondoso e caritativo. Sabia ele fingir bem, que a vida teria que seguir em frente, forte e firme no tratamento com o próximo; porém era entre quatro paredes que chegavam as lágrimas, contou-me um dia.

Tão justo nas suas decisões e vendo o mundo novo da política que surgia marcado pela desesperança, Gildo foi se afastando… se afastando e decidiu parar. Grandes amigos da Câmara Municipal partindo, políticos seguindo para o outro lado da vida e ele entendia que os tempos já não eram mais os mesmos. Os anos 80/90 agora eram marcados pelo partidarismo desenfreado e maldoso, da política gananciosa que versava sobre privilégios e benefícios saltando na esteira da desonestidade e corrupção.

Definitivamente se afastou; optou viver para quem ainda o entendia como ser humano construído pelos valores que enobrecem o cidadão de bem. Guardado em suas lembranças mergulhou no esquecimento das gerações que brotavam no chão em que ele tanto caminhou. Agora segue para o descanso merecido que Deus proporciona aos homens valentes e destemidos, aos guerreiros que se fazerem líderes por força das circunstâncias, pela naturalidade divina que a terra abraçou e agora leva para a construção de novos lares.

Aqui fica apenas o cenário degradante que as pessoas de bom senso preferem não ver. Então é melhor partir, amigo. É hora de descansar.

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