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Gratidão pelos meus 58 anos de Jornalismo

Por Ivan Roberto Peroni

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Completo neste 6 de janeiro, 58 anos de jornalismo. Confesso, não ter sido fácil. Atravessei o tempo com uma única profissão. Somente a ela me dediquei e procurei honrá-la de todas as formas, correto, justo, exagerado as vezes, não me zango dos processos, e tão pouco carrego comigo mágoa ou rancor dos que se insurgiram com minhas palavras. Me zango sim, comigo mesmo, pois houve dias em que poderia ter ido mais a fundo, dando “voz de prisão” ao corrupto, à quem roubou, ao que tirou do pobre o pão nosso de cada dia.

Mas não, pensava comigo que a pena maior viria dos confins do paraíso, onde a porta se abre para os equilibrados, sensatos, aqueles de bom senso, e fechadas estariam para os mentirosos, desequilibrados, desonestos, incertos e não sabidos da glória que existe por trás de cada gesto. Assim eu me fiz, desde o dia 6 de janeiro de 1966, quando numa pequena discoteca em uma emissora de rádio na Avenida Feijó fui recebido por Adilson João Telarolli, diretor artístico da Voz da Araraquarense. Ele naquele instante estava ao lado de Rubens Santos e ambos eram ídolos de uma geração que brilhava no rádio e no jornalismo de Araraquara.

Eu, acabara de sair do ginásio, mecânico torneiro, cheirando a graxa das oficinas da Escola Industrial, sonhava estar no rádio no esplendor dos meus 16 anos. Imaginava como era a magia da minha voz sair de uma caixa e onde as pessoas poderiam me ver e fantasiar a doce loucura de sentir pela voz como eu seria, belo ou feio, aquilo que não estariam vendo. Pura fantasia.

Em menos de 3 anos estava eu na Rádio Cultura levado pelas mãos de Marcondes Machado; a Cultura era a elite do rádio, o sonho de qualquer radialista, agora ao lado de Antonio Carlos Araujo, Antonio Carlos Rodrigues dos Santos, Rubens Brunetti, Nildson Leite Amaral, Carminho Tucci, Wagner e Valdir João Picollo. Por conta deles, abraço hoje todos os meus amigos de ontem, e de hoje, prefiro não fazer uma lista de quem não vejo há mais de 10 anos.

Mas, foi n’O  Diário que cresci. O jornal foi a minha vida, razão do meu viver. Tinha um pai, sábio inteligente, corajoso, audacioso. Roberto Barbieri era assim, destemido, capaz de fazer Bilac mudar de ideia – “não verás nenhum jornalista como este”. Ele foi o Mestre a mostrar o caminho da verdade e da vida profissional.

Meus pais, meus irmãos simplórios como sempre foram vibravam com isso e me entusiasmavam a entender o mundo, como ele é. Vai que esse mundo é todo seu. E assim foi. Ribeirão Preto, São Paulo, O Estadão, Jornal da Tarde, Folha de São Paulo, Agência Folhas, Revista O Cruzeiro, Emissoras Coligadas, tudo saltava, não apenas para estar aos ouvidos ou olhos das pessoas. Eu queria simplesmente voltar a terra onde nasci. Eu queria me sentir criança outra vez, lembrando sempre que aqui era o meu lugar. Voltei e fiquei. Há 36 anos ao lado de duas colaboradoras que me acompanham e entendem o meu olhar – gratidão à Sônia Marques e Bete Campos.

Envelheci é verdade, afinal os segredos da vida e do jornalismo passaram pelos vãos dos dedos e os passos já não os mesmos de outrora, caminho lento, não posso ter a mesma velocidade das peladas no campinho do Lelé do Açougue, muito menos nos campeonatos internos do 22 e do Clube Araraquarense. Hoje sou o que sou. A tecnologia me fez e faz continuar sonhando. Entrei na máquina do tempo, ela e eu andamos na mesma velocidade, nem por isso ouso desafiar os jovens do jornalismo de agora. Estou no “i” das gerações e eles estão no fim do alfabeto – “Y” ou “Z”. Então aceito o que eu sou.

Aceito o tempo como conselheiro, só que do espelho quero distância pois eu o sinto como inimigo mortal, traidor e trapaceiro querendo acertar contas que não tenho como pagar: cabelos se foram, pálpebras caídas, a sonolência que reduziu meu caminhar. E o sexo? Ah… o sexo, nada que a paciência não resolva e que os 58 anos de jornalismo mostrem o Ivan, impávido e colosso. Relembro a música My Way com Frank Sinatra – eu enfrentei tudo e me levantei e fiz do meu jeito.

A todos e a minha cidade, muito obrigado.

*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro  da ABI, Associação Brasileira de Imprensa

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR