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Quarenta e cinco anos de um momento inesquecível

Fábio Donato Gomes Santiago

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Dia 24 de março passaria como um dia qualquer, não fora um fato que há exatos 45 anos marcaria profundamente a minha vida. É que no dia 24 de março de 1979, o Clube Náutico Araraquara havia colocado no seu calendário de festividades artístico musical, uma apresentação na sua majestosa Sede Campo de, ninguém mais, ninguém menos, do que a grande intérprete brasileira Clara Nunes.

Atento a mais este grande evento musical em nossa cidade, o diretor artístico da Rádio Cultura de Araraquara, onde eu trabalhava na época, Antônio Carlos Rodrigues dos Santos, pautou com o empresário da cantora, uma entrevista com a artista, que estava hospedada com o seu grupo no antigo Hotel Municipal de Araraquara, e o mesmo Toninho da Rádio, me escalou para a missão de entrevistar Clara Nunes.

Assim, no dia 24 março de 1979, às 16 horas, com o gravador Gradiente debaixo do braço, lá vou para uma das mais nobres jornadas da vida, entrevistar Clara Nunes. Figura dotada de descomunal carisma, Clara Nunes bateu um papo conosco de mais de duas horas, falando das suas músicas, dos seus sucessos e da sua vida de uma forma geral.

Clara, todos nós sabíamos, além da sua vasta cultura, era também ligada ao mundo da espiritualidade, e sobre esta sua faceta também conversamos demoradamente, tendo ela, Clara Nunes, revelado ser filha de Ogum com Iansã, e frequentava terceiros de um banda e candonblé no Rio de Janeiro, exaltando com suas músicas deuses das religiões africanas e as tradições quilombolas.

Embora filha de pais espíritas kardecistas, ao mudar para o Rio de Janeiro, ela tomou um contato maior com outra linha espiritualista, passando a se identificar com outra manifestação de espiritismo e se aprofundou muito dentro da umbanda.

Após a entrevista, fui lisonjeado com um convite feito pela cantora, para que a acompanhassemos junto com o grupo para um jantar no Hotel Municipal. Não deu outra, foi como jogar o pato na água. Após o ágape, a cantora perguntou se iria assistir ao show, tendo dito a ela que eu teria no dia seguinte, ou seja, 25 de março de 1979, às oito horas da manhã que fazer a prova da OAB na Faculdade de Direito onde acabara de me formar.

Levada, com certeza, pela inspiração da sua espiritualidade, Clara Nunes me intimou, e, ao fazê-lo, profetizou: “vá assistir ao show sem se preocupar com a prova…, você será aprovado”.

Tudo como os Orixás de Clara Nunes preconizadas, hoje comemoro 45 anos daquele dia inesquecível, que foi conhecer pessoalmente Clara Nunes, e 45 anos do marco inicial da minha carreira.

Clara Nunes nos deixou precocemente no dia 02 de abril de 1983, vítima de um choque anafilatico, na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro. Pra nós, eterna, inesquecível, que Deus a tenha em bom lugar.

(*) Fábio Donato Gomes Santiago, advogado, radialista, repórter esportivo da Rádio Cultura em 1975 e colaborador do RCIA Araraquara

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