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Amália Acetozi Massafera: “Se precisar partir, vou em paz”

Com quase 103 anos (completaria em 25 de junho), faleceu neste sábado (22), Amália Massafera que por 20 anos teve uma loja de vestuário chamada Modas Amália no centro antigo de Araraquara. Deixa os filhos Luis Antônio, Roberto e Carlos Eduardo. Seu corpo será velado a partir das 7h deste domingo; o sepultamento ocorrerá às 14h no Cemitério São Bento.

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Amália Massafera com os filhos Luís Antônio, Roberto e Carlos Eduardo

“Eu não mudaria nada em minha vida, porque fiz de tudo, em cada momento fiz as coisas com amor. Tenho boas lembranças de todas as fases, exceto da doença do meu marido Gerson Massafera, que foi uma fatalidade. Sinto muito a falta dele, mas eu não queria que voltasse nada, meus filhos já estão criados, são muito bons, colaboram bastante, eu tenho meus netos. Acho que a minha missão está cumprida, se precisar partir, vou em paz!”.

Foi com mais ou menos 80 anos que Amália Massafera fazendo um retrospecto da sua vida parecia se sentir realizada com tudo que existia a sua volta. A perda do marido com 39 anos de idade contudo parecia nunca ter sido aceita por ela, enfrentando desafios, vencendo dificuldades, criou ânimo para se tornar uma grande comerciante em tempos plenamente difíceis: “Tive a minha loja por uns vinte anos. Logo que voltei de Marília, depois que meu marido morreu, abri uma loja de brinquedos e lingerie, mas não deu muito certo, porque a dona da casa morava em cima, era meio louquinha e jogava água nas prateleiras. Não sei porque ela fazia isso! Então eu mudei para a alfaiataria do meu pai, montei a loja lá. Estava indo tudo direitinho, até que resolveram vender o prédio, disseram que iam construir um cinema lá”.

Os extremos de uma vida: com os pais Maria e Secondino Acetozi, em foto do Estúdio Monteiro e Garcia em Araraquara (1918); à direita, aos 80 anos de idade.

Sabendo que teria que criar os filhos, Amália não abandonava a luta no comércio da cidade: “Eu me lembro que naquele momento o seu Henrique Lupo Lupo falou para eu mudar para um prédio dele, e eu disse: “Ah, seu Henrique é muito dispendioso”. E ele me falou: “Medo? Você trabalha, Amália, quem trabalha não tem quer ter medo”. Por fim, acabei montando a loja ali no prédio e o negócio foi aumentando. Eu ia a São Paulo e ao Rio de Janeiro comprar blusa, vestido, bolsa, sapato. Em São Paulo eu ia em cada beco sozinha, não estava nem aí! Ficava num hotelzinho conhecido, que era mais barato. Quando a gente precisa tem uma força que não sei de onde vem! Depois meus filhos acharam que eu devia parar, porque tive um problema de tiroide, meu rim cresceu, estava retendo água. Até hoje tenho problema, minha mão incha, senão eu teria ficado com a loja. Então meus filhos venderam a loja e acabou!”.

SUA INFÂNCIA

Na década de 20, na Escola Italiana de Araraquara, era costume saudar Mussolini, como a turma de Amália Massafera (5ª à esquerda, sentada)

Aos 6 anos, Amália Acetozi começou a frequentar a escola italiana que tinha na Rua Gonçalves Dias (1). Só se falava em italiano, tinha cartilha, livro, a professora se chamava dona Onorina. “Imagine aquelas menininhas, com 3, 4, 5 aninhos, todas em fila, com a mãozinha levantadinha assim, coisa do Mussolini. Era linda, a escola! Mas aí eu comecei a fazer confusão com o português, porque eu também frequentava o grupo escolar, e acabei deixando a escola italiana”, contava a comerciante para as pessoas mais próximas.

A VIDA

Em 1941, Amália Massafera (1ª à direita) foi a chácara de Nhozinho, amigo da família

“Conheci meu marido no cinema que tinha na Rua 2. Eu tinha uns 15 anos, estava passando o filme Diabo Branco. Minhas irmãs eram namoradeiras, mas eu não estava nem aí para o namoro, preferia ficar em casa, trabalhar, tomar conta dos irmãos mais novos. Mas meu marido, Gerson Massafera, ficou na marcação, no fim me convenceu. Ficamos noivos por quatro anos, me casei aos 23 e nasceram o Luís Antônio, o Roberto e o Carlos Eduardo. Nós nos mudamos para Marília, a cidade era nova, tinha uns 18 anos. Primeiro fomos morar numa casa bonitinha, de madeira, depois mudamos para uma casa de tijolo, com quintal, jardim à volta. De repente, meu marido ficou doente e pronto, acabou a história. Dizem que ele teve um tumor na cabeça. Em Marília não souberam dizer o que ele tinha e fomos para São Paulo, ficamos lá 8 meses. Ele morreu com 39 anos. Ainda moço suportou tudo aquilo”. Essa narrativa feita por ela há mais de 20 anos para As Memórias do Comércio: os caminhos do interior”, publicação do Sesc, ainda se mantém viva na memória dos que sempre viveram ao seu lado, comenta o filho Roberto Massafera, que deu a mãe o orgulho dele ser prefeito de Araraquara e deputado estadual.

A SAÚDE

Com idade avançada e problemas com a saúde nestes últimos anos, Amália como ela mesmo sempre dizia “Acho que a minha missão está cumprida, se precisar partir, vou em paz!”. Contudo, deixa os mais belos exemplos de uma mulher destemida para enfrentar e vencer os desafios surgidos, daí as inúmeras manifestações de pesar ocorridas nas redes sociais.

Seu corpo será velado à partir das 7h deste domingo (23) no Velório Almeida e o sepultamento ocorrerá às 14h no Cemitério São Bento.