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Araraquarenses defendem Libras como segundo idioma oficial do Brasil

Conheça a história de Raquel e Pedro, mãe e filho que se dedicam a ensinar e aprender mais sobre Língua Brasileira de Sinais

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Pedro Viviani e Raquel Nogueira Chediek, mãe e filho em defesa da libras

O Brasil tem quase 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Araraquara, os dados mais recentes são de 2010 e apontam 10.153 pessoas com deficiência auditiva.

Atualmente, 490 pessoas com deficiência auditiva são atendidas pela Assessoria de Pessoas com Deficiência, sendo 255 mulheres e 235 homens. Desse total, 171 têm deficiência congênita.

Em torno de 40 estão matriculados nas escolas de Araraquara com acompanhamento de intérprete de libras e 56 cadastrados e em atendimento no Centro de Reabilitação (órgão da Secretaria Municipal de Saúde).

A Libras, Língua Brasileira de Sinais, reconhecida há 19 anos como meio legal de comunicação e expressão dos surdos, ainda é pouco difundida no país, embora seja defendida pela comunidade surda.

E não se trata apenas de barreira linguística. Faltam ainda professores surdos e intérpretes que possam atuar nas escolas, dizem os especialistas.

A educação bilíngue dos surdos, que prevê Libras como primeira língua e o português como segunda, foi instituída por lei em agosto deste ano.

Raquel e Pedro

Professora da rede municipal de ensino, Raquel Nogueira Chediek é uma das araraquarenses que defende a Libras como segunda língua. Formada em pedagogia, ela teve um filho surdo e, além disso, adquiriu deficiência auditiva severa depois de adulta.

Ela relembra que quando o filho nasceu e descobriu que ele era surdo não entendia nada de libras. “Quando nascia um surdo em família ouvinte, a orientação na maioria das vezes era a reabilitação, a oralização e evitar o uso da língua de sinais”, explica a professora e mãe de Pedro Viviani.

Raquel recorda que, seguindo as recomendações da época, colocou aparelho no filho aos 5 anos, quando o menino passou a ir a uma fonoaudióloga. “Foi quando conheci um pessoal da comunidade surda, que utilizava libras”, completa.

Ano mais tarde, ela também teve perda de audição. “Foi uma perda severa bilateral neurosensorial que me fez entender ainda mais a questão do que é ser surdo, dentro de uma comunidade que preza pela oralização, pelo som”, avalia.

Libras na Educação

Raquel entrou na rede pública de ensino como agente educacional em 2002. Com o passar dos anos, foi acumulando cursos relacionados a libras e aprofundando-se no tema. “Percebi que a libras fez falta para ele quando pequeno, a alfabetização teria sido melhor com a língua de sinais”, reforça.

Raquel acredita que “conforme você ensina o significado pela libras, fica mais fácil aprender esse signo de outras formas, seja oralizando ou pela escrita”.

Em 2012, Raquel passou a ser professora na rede municipal, atuando junto a alunos com déficit intelectual e, nesse período, nas horas extras, teve a experiência de trabalhar como interprete de libras.

Em agosto de 2018, a professora foi chamada pela secretaria municipal da educação para coordenar uma sala bilíngue, ensinando libras no contraturno para alunos surdos do Ensino Fundamental 1 e em 2019 deu sequência às aulas na sala bilíngüe.

Para ela, é fundamental que a alfabetização nas crianças surdas ocorra também pela libras, pois os surdos de famílias ouvintes chegam ao ensino fundamental muitas vezes sem se comunicar e sem se socializar por não ter uma língua comum. “Essas crianças chegam aos 6, 7, 8 anos sem nenhuma língua adquirida”, acrescenta.

Legado ao filho Pedro

Dados do IBGE de 2020 mostram que 5% da população brasileira tem problemas de audição, de leve a profunda. Os números apontam ainda que apenas 2% da população de surdos no mundo tem acesso a educação em Língua de Sinais.

Depois de dedicar sua vida a buscar entender todos os detalhes que envolvem a surdez para deixar um mundo melhor para seu filho, Pedro Viviani, hoje com 25 anos, Raquel vê que seu esforço gerou frutos. O garoto cresceu e retribuiu tamanha dedicação de sua mãe.

Pedro estuda na UFSCar. Faz bacharelado em Tradutor e Intérprete de Libras/Língua Portuguesa (TILSP). De acordo com a Lei 12.319/2010, que regulamenta a profissão de TILSP, este é o profissional que apresenta competência para realizar a tradução de textos envolvendo diferentes suportes de registro (escrita, vídeo, etc.), profissão que vem crescendo exponencialmente nas últimas décadas.

Ele conta que entrou em 2018 na UFSCar no curso de Educação Especial, mas resolveu mudar de curso “para conhecer mais a cultura dos surdos”. Segundo Pedro, no curso, ele tem a teoria e a prática e se aprofunda na interpretação e tradução, tanto do português para libras quanto da libras ao português.

“Araraquara em Sinais”

A Prefeitura de Araraquara, através da Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular, em parceria com Secretaria de Saúde, Secretaria de Esportes e Cultura e Secretaria de Desenvolvimento Econômico, lançará no mês de outubro o Programa intitulado “Araraquara em Sinais”, que pretende ampliar e garantir políticas públicas de inclusão para as pessoas com deficiência auditiva, no que diz respeito ao mercado de trabalho, à qualificação profissional, ao acesso igualitário aos concursos públicos, ao incentivo à cultura, lazer e vivência esportiva. O programa será apresentado em Audiência Pública na Câmara Municipal no dia 7/10, às 18h, momento em que estará aberto para contribuições dos munícipes e vereadores interessados na causa.

Setembro Azul

O Setembro Azul carrega histórias por uma sociedade inclusiva e celebra os direitos conquistados pela comunidade surda ao longo dos anos. São várias datas alusivas dentro do mês de setembro:

Dia 10 – Dia Mundial da Língua de Sinais;

Dia 23 – Dia Internacional da Língua de Sinais. No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão e representa um grande avanço para essa comunidade. A língua de sinais não é universal e cada país tem a sua;

Dia 26 – Dia Nacional dos Surdos. A data foi escolhida porque no dia 26 de setembro de 1857 a Comunidade Surda teve uma grande vitória: a criação da primeira Escola de Surdos no Brasil. Atualmente conhecido como INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos);

Dia 30 – Dia Internacional do Surdo e Dia Internacional da Tradução e do Tradutor/Intérprete. Um dia para relembrar as lutas ao longo dos anos e comemorar as conquistas alcançadas pela Comunidade Surda no mundo inteiro e valorizar o profissional que traduz e interpreta a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) para a língua portuguesa e vice-versa, mediando a comunicação entre surdos e ouvintes nos mais diferentes espaços da sociedade.