Se de um lado a Covid-19 fez Araraquara parar, temer pela doença e chorar pela morte de amigos e familiares, por outro o medo da falência tem tirado o sono dos empresários de diversos setores da economia, que sentem na pele e no bolso os impactos do lockdown
Luis Nacir, que cuida da Liga Araraquarense de Combate ao Câncer e representa a Vinni Coffee, empresa de café, ambas totalizando 22 empregos diretos, conta que desde o início da pandemia os empresários foram obrigados a se reinventar. “Tínhamos o respaldo do Governo Federal, fomos naturalmente nos readequando, fizemos demissões no ano passado e estávamos sobrevivendo. Agora com esse lockdown, sem critério e mal feito, jogaram duas batatas quentes em cima de nós: todo mundo perdeu o relacionamento comercial e, com isso, a possibilidade de ganho para manter os empregos; e agora não temos ajuda do governo como antes”, avalia.
Para ele, o decreto municipal, “assina a falência das empresas” e desencadeia uma série de problemas como “a fome das pessoas, o desemprego e muitas coisas ruins que estão por vir, pois as pessoas vão entrar em desespero”, continua Nacir.
Com o novo decreto endurecendo ainda mais as restrições, Nacir teme pela falência total da cidade e é contra o lockdown da forma que está sendo feito. “Seria a favor se resolvesse a questão. Mas não foi dessa forma que ocorreu. Estamos pasmados com a Covid, mas vocês verão o pós-lockdown causando falência e desemprego, tão graves quanto a pandemia”, completa.
Já Francisco Salles Colturato, proprietário do Bar do Zinho da Rua Cinco, acredita que as medidas restritivas sejam necessárias, mas admite que muitos bares, lanchonetes e restaurantes não sobrevivem apenas de delivery.
Por ter uma empresa em que pode contar com a ajuda de familiares na manutenção e funcionamento do estabelecimento, ele esclarece que não enfrenta o desespero pelo qual muitos empreendedores estão passando, tendo que demitir ou mesmo fechar definitivamente.
“Os bares já estavam sendo prejudicados com os fechamentos que vinham ocorrendo. Agora, com o lockdown, a situação se complica ainda mais. Eu tenho apenas um funcionário, mas para quem conta com vários colaboradores a situação é mais complicada, porque pode causar demissões e falência”, avalia.
Para Francisco, Araraquara chegou ao lockdown pois as pessoas se arriscaram muito, sem máscara nem distanciamento social, se expondo em aglomerações. “Tem como bar e lanchonete funcionar sem aglomeração, mas o povo precisa ser educado para isso”, opina.
MEDO DA DOENÇA E DA FALÊNCIA
Empresária da área da cultura, Renata Crespi, responsável por um grupo que agrega várias escolas de dança de Araraquara, é favorável ao lockdown, desde que todos sejam inseridos nas restrições. “Fecha tudo e só deixa hospital aberto”, decreta.
Ao mesmo tempo que teme a doença, por ter perdido muitas pessoas próximas em decorrência da Covid, ela confessa que o medo da falência também a apavora. “Tem hora que parece que estou em uma guerra, como a que meus avós viveram. Estou aterrorizada, penalizada por todos que estão doentes e desesperada pelos pequenos comerciantes”, confessa.
Para Renata Crespi, as perspectivas para a área não são boas neste início de ano. “Converso com pessoas da dança, musculação, natação e todos estão com o mesmo sentimento de pesar pela doença, mas ao mesmo tempo preocupados com a economia”, salienta a empresária.
Com oito funcionários, ela disse que conseguiu manter todos os empregos no ano passado, mas se o lockdown durar muito tempo, não sabe como será nos próximos meses. “Olho para tudo que conquistei e vejo que se continuar como está vou perder tudo isso. Estou agoniada, chateada, perdi amigos queridos. Medo da doença e medo da falência são sentimentos que me apertam o coração. Queremos sobreviver, continuar existindo tanto como CPF quanto CNPJ”, conclui.