Home Cidade

Orlando Pires, último pracinha de Araraquara completou 100 anos

Ele é um dos dez soldados da nossa terra que integraram a Força Expedicionária do Brasil (FEB) na Segunda Guerra Mundial.

1426
O aniversário de Orlando Pires

No dia 29 de dezembro de 2019, Orlando Pires completou 100 anos de vida. Ele é o último ‘pracinha’ ainda vivo entre os dez araraquarenses que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, que aconteceu entre o dia 1º de setembro de 1939 e 8 de maio de 1945.

A reportagem do RCIA ARARAQUARA conversou com o ‘pracinha’ – termo que surgiu da expressão “sentar praça”, que significa se alistar nas Forças Armadas -, Orlando Pires que falou um pouco sobre o tempo na caserna. Com a voz mansa e memória boa, o ex-militar contou que entrou para o Exército Brasileiro depois de passar por um sorteio. “Eu fui sorteado para cumprir o serviço militar em 1942 e, depois de passar por uma avaliação, fui encaminhado para o quartel de Pindamonhangaba. Lá eu passei por treinamento, mas quando começaram a chamar os soldados para irem para a guerra, escolheram primeiro os maus elementos para comporem o primeiro pelotão, e eu acabei não sendo convocado. Depois fui enviado para o Quartel de São Sebastião que era encarregado de proteger a costa brasileira. Lá eu fiquei por dois anos e quando começaram a montar o segundo pelotão que seria enviado para o combate, em 1945, logo a guerra acabou e nós acabamos não indo. Para mim, foi uma pena, pois tinha vontade de ir para a Europa combater os alemães”, contou o pracinha.

Orlando e a neta Isabela Pires durante entrevista ao RCIA ARARAQUARA

MERECIMENTO

Orlando relatou à reportagem que ganhou a patente de tenente do Exército por merecimento. Ele disse que depois do final da guerra, em maio de 1945, foi dispensado do serviço militar junto com os demais pracinhas. Porém, conta que antes de deixar o quartel em São Sebastião, foi desafiado por um comandante a disputar uma corrida com ele e ganhou. “O comandante chegou e perguntou se alguém queria disputar uma corrida com ele. Se ele perdesse, o soldado ganharia oito dias de licença paga. Já se ele ganhasse, ficaria oito dias na cadeia do quartel. Eu aceitei o desafio, e ele falou: ‘esse nanico acha que consegue ganhar de mim. Vamos ver’.  Nós então nos alinhamos na pista de atletismo do quartel e quando o juiz deu o sinal da largada, eu deixei ele sair na frente e antes do final da pista consegui ultrapassá-lo e ganhei a corrida. Ao final ele disse que eu corria demais”, lembra o ex-militar.

Orlando comemorou o aniversário de 100 anos ao lado de sua neta, a agrônoma Isabela Pires

HOMENAGEM

No dia 11 de maio de 2018, o Tiro de Guerra 02-002 de Araraquara, comemorou o Dia da Vitória com um evento que contou com o encontro dos pracinhas araraquarenses José Marino, este já falecido e Orlando Pires. O evento marcou a comemoração do Dia da Vitória das forças aliadas sobre os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália).

Entre os 25 mil militares brasileiros que combateram na Segunda Guerra Mundial, Araraquara teve dez integrantes na Força Expedicionária Brasileira, com destaques para Antônio da Motta, José Marino, Argenton e Orlando Pires.

Orlando Pires indo às compras na quintanda

CENTENÁRIO

O também corretor de imóveis aposentado, Orlando Pires, comemorou seu centenário ao lado de sua família. A neta dele, a agrônoma Isabela Pires, contou para a reportagem que o avô nasceu no dia 25 de dezembro de 1919, mas só foi registrado no dia 29, por isso, o aniversário dele é comemorado nas duas datas. Orlando, que é viúvo de Lídia Delfino Pires, falecida há 28 anos, é o patriarca de uma família composta por três filhos, seis netos e nove bisnetos.

O Brasil declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) em 1942, depois que vários navios da Armada foram atacados. Somente naquele ano, 19 embarcações foram alvejadas pelos submarinos alemães.

Na época, o país possuía poucos oficiais da ativa para integrarem a missão. Sendo assim, foi preciso convocar reservistas para lutar. Muitos deles eram profissionais liberais, como advogados e médicos.

A fim de estar preparado para a entrada no conflito, o Brasil recebeu ajuda dos Estados Unidos e enviou alguns membros da tropa para fazer treinamento em território americano.

No dia 29 de junho de 1944, um trem trazendo os homens da FEB chegou à Vila Militar no Rio de Janeiro. A Força estava dividida em três regimentos de Infantaria – o 1º do Rio de Janeiro; o 6º de Caçapava, São Paulo; e o 11º de São João del-Rei, Minas Gerais. Apenas o 6º, de Caçapava, atravessaria a cidade do Rio, enquanto os demais seriam enviados a outros lugares. Era uma forma de manter em sigilo o embarque.

A operação foi feita à noite, em etapas, durante um dos blecautes realizados no Rio. Esses blecautes eram feitos com o objetivo de proteger a população de um improvável ataque aéreo alemão. Muitos pracinhas sequer tiveram tempo de se despedir de seus familiares e amigos e não sabiam para qual nação iriam.

O desembarque aconteceu em 16 de julho de 1944, na Itália. Os combatentes só entenderam que estavam no país europeu quando avistaram o Monte Vesúvio.

Com a voz mansa e memória boa, o ex-militar contou que entrou para o Exército Brasileiro depois de passar por um sorteio

CURIOSIDADES

 – Na época, muitos críticos duvidaram da capacidade brasileira em enviar homens para o fronte da batalha. Por conta disso, alguns diziam que era mais fácil uma cobra fumar do que isso acontecer. Até hoje o símbolo da Força Expedicionária é uma cobra fumando cachimbo.

– Os restos mortais dos brasileiros foram inicialmente enterrados na cidade italiana de Pistoia. Somente em 1960 é que foram transladados ao Brasil, onde permanecem no Monumento Nacional dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

– A FEB foi a única tropa a pisar na Europa com militares de todas as raças: negros, índios, pardos e brancos.

– A Força Aérea Brasileira (FAB) esteve presente na II Guerra Mundial pelo 1º Grupo de Aviação de Caça comandado pelo tenente-coronel aviador Nero Moura. O grupo foi criado em 1943 e organizado e preparado nas bases americanas, no Canal do Panamá e nos Estados Unidos. Desembarcou em Nápoles no dia 6 de outubro de 1944. Na Itália, incorporou-se ao 350º Grupo de Caça americano pertencente a 62ª Brigada de Caça do XXII Comando Aerotático da Força Aérea do Mediterrâneo.