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Zampieri, um araraquarense vendo a queda do Muro de Berlim

Apaixonado por viagens nos anos 70 e 80, Dirceu Zampieri optou escolher Berlim para acompanhar em 1989, por 20 dias, a derrubada do chamado “muro da vergonha” que criou duas Alemanhas a partir de 1961

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Novembro de 1989, Zampieri num dos pontos demolidos do muro em Berlim

Este sábado (9) marcou a passagem dos 30 anos da queda do Muro de Berlim, o chamado “muro da vergonha” que durante 28 anos separou a histórica capital germânica em duas até a reunificação da Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha) e da Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) em um só país.

Coincidentemente neste dia encontrava-se em Berlim, o araraquarense Dirceu Zampieri que contava aos seus colegas de redação d’O Diário da Araraquarense que um dos seus sonhos era conhecer a Alemanha. De fato, ele foi – em meio aos dias do desmanche do muro, sendo uma das testemunhas oculares daquele momento. Estava Zampieri presenciando  como sempre dizia presenciando um fato que mudaria o mundo para sempre.

Dirceu Zampieri, colaborador dos jornais O Diário e O Imparcial

A queda da barreira de cimento, ferro no meio de Berlim representou o colapso do socialismo real sob a liderança da extinta União Soviética (formada pela Rússia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Cazaquistão, Estónia, Geórgia, Lituânia, Letônia, Moldávia e Ucrânia) e também implementado pela Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia e Tchecoslováquia, além da Alemanha Oriental –  países que formavam a cortina de ferro que separava o mundo capitalista e o mundo socialista.

O araraquarense chegando em Berlim, dia 8 de novembro de 1989

O fim da matriz europeia do socialismo pode ser considerada a antessala do século 21. Um tempo sem Guerra Fria entre americanos e soviéticos, mas com outros riscos a paz e outros muros – maiores e até menos transponíveis do que o Muro de Berlim.

Quando o muro de Berlim caiu no dia 9 de novembro de 1989, não foram poucos os que bradaram a vitória da democracia liberal. Alguns chegaram até mesmo a falar do fim da história diante do colapso em série de diversos regimes comunistas pelo Leste Europeu. A transformação dos governos que faziam parte da Cortina de Ferro levou teóricos a falar da 3ª onda de democratização no mundo – depois de uma primeira onda entre 1826 e 1926 e uma segunda onda ao término da Segunda Guerra Mundial. Mas 30 anos depois da queda do muro e de um dos acontecimentos mais importantes do século 20, a história da uma nova lição ao mundo:  não há nada de inevitável na construção da democracia e seus valores vivem uma encruzilhada. Tampouco existem garantias de sobrevivência da arquitetura internacional construída ao final da Guerra Fria e que abriria um novo capítulo na história da humanidade. Nas principais capitais do mundo, nas salas da ONU e em encontros secretos, redesenha-se a diplomacia internacional com novas regras, novas alianças e novas ameaças. 30 anos depois dos eventos em Berlim, a promessa de que muros não seriam mais erguidos foi ignorada. O debate sobre o valor inquestionável da liberdade foi reaberto e a promessa de que o capitalismo garantiria a felicidade de todos foi amplamente desmentida. Neste ano, o aniversário da queda do muro ocorre em meio a um profundo mal-estar e uma real crise de confiança. Valores liberais que derrotaram o comunismo hoje estão sob a ameaça de uma onda populista, enquanto a desconfiança de cidadãos sobre suas instituições atingiu um nível inédito. Autor do best-seller Como as Democracias Morrem (Zahar), o professor da Universidade de Harvard, Steven Levitsky, alerta que a comemoração da queda do muro é uma ocasião para a reflexão. “A lição desses 30 anos é clara: as democracias são sempre vulneráveis. Temos de estar sempre atentos e talvez tenhamos nos esquecido disso em algum momento”, disse o americano em entrevista ao UOL.

O muro fotografado por Zampieri

NA LINHA DE RACIOCÍNIO

Fascinado com a beleza de Berlim durante os 20 dias que permaneceu com o povo alemão, até 2005 quando faleceu, ainda contava aos amigos o clima de expectativa que reinava entre ocidentais e orientais; acima disso estava a esperança de paz entre dois povos, mesmo sabendo que o lado ocidente teria que carregar o oriente, derrotado pelos percalços deixados pelo regime socialista, falava Zampieri.

A nossa singela homenagem ao querido amigo, Dirceu Zampieri

30 anos depois, Marcos, filho de Dirceu Zampieri, recorda as histórias narradas pelo pai e mostra pequenas pedras ou fragmentos do muro derrubado, ainda guardados num cofre. Alguns amigos também foram presenteados, como o jornalista Ivan Roberto Peroni, editor do jornal O Diário na época, que tem essa lembrança em um estojo todo forrado com algodão.

Casado com Raquel Stávulo dos Santos, em 1955, Dirceu que hoje teria 88 anos de idade, deixou dois filhos: Regina Célia e Marcos Antônio Zampieri. Além de ter trabalhado n’O Diário, por um bom período foi colaborador d’O Imparcial, exercendo outras funções como a presidência da Liga de Assistência Cristo Rei (Casa da Criança) por muitos anos. Da mesma forma foi presidente da ACEA – Associação dos Cronistas Esportivos de Araraquara, sendo responsável pela construção da sede de campo, hoje mantida pela parceria com o CPP – Centro do Professorado Paulista.

Sua vida empresarial também foi intensa nos anos 70/80, sendo proprietário dos hotéis Nipo Brasileiro, Regimara e Hospedar Bem, além de fornecer através da sua cozinha industrial, mediante contrato com o Governo do Estado, alimentação para detentos da Cadeia Pública e Penitenciária de Araraquara.

Dirceu, segundo o filho Marcos Antônio, visitou vários paises: Argentina, Venezuela, Chile, Rússia, Israel, Estados Unidos, Itália, Portugal, França, Alemanha e Jerusalém, dizendo sempre – ser um lugar apaixonante.