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A morte do ex-governador e seus laços políticos com Araraquara

O ex-governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins que faleceu no último final de semana, teve passagens importantes por Araraquara cinco os cinco anos do seu governo 1975 a 1979. Eleito de forma biônica em plena ditadura militar teve ligações com algumas obras importantes para o município como o Terminal de Passageiros e a Unesp. Uma das suas vistas é lembrada em reportagem especial do RCIA.

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Em 1978, o então governador de São Paulo, Paulo Egydio, sendo entrevistado pelo jornalista Ivan Roberto Peroni na Câmara Municipal de Araraquara

Era começo de 1978 (março), quando em Araraquara desembarcou o governador do Estado, Paulo Egydio Martins para uma visita aos companheiros de partido, a ARENA, e também ao prefeito Waldemar de Santi que havia sido eleito um ano antes pelo MDB. Embora fosse passagem rápida, Paulo Egydio tinha o compromisso de fortalecer o nome de Olavo Setúbal que seria candidato ao governo do Estado pelo seu partido; apesar deste apoio de Paulo Egydio e da significativa aprovação popular à sua administração, Setúbal não conseguiu a indicação da ARENA para o governo do Estado. Sua derrota ocorreu em convenção do partido.

Num final de tarde, ainda garoava quando alguns vereadores pertencentes a ARENA já se encontravam na lateral do prédio da Câmara Municipal, pela Avenida Duque de Caxias, entre eles Gildo Merlos (presidente do Diretório Municipal da ARENA), Geraldo Polezze, João Ferreira da Silva, Laurindo Ferreira Filho, Manoel Marques de Jesus e Octávio Bugni. Logo entraram no prédio e o governador confessou estar em busca de votos dos convencionais para indicar dentro do partido Olavo Setúbal para o cargo de governador do Estado. Não deu certo.

O presidente da Câmara, Gildo Merlos, recebeu o governador

Por quase uma hora representantes da Direita ouviram Paulo Egydio que quase no final da tarde se encontraria com o prefeito Waldemar de Santi (MDB); na pauta estaria construção do prédio que abrigaria no final da Via Expressa o Terminal de Passageiros até então funcionando em frente ao Mercado Municipal, entre as avenidas Portugal e São Paulo. A esta altura, o município de São Carlos já estava com a construção da sua Estação Rodoviária em andamento e anunciando a inauguração para no máximo dois anos.

De Santi naquela tarde, segundo os jornais da época, explicou que pretendia inaugurar a nova Estação Rodoviária bem antes, no entanto falhou na previsão, pois a construtora acabou rompendo o contrato, sendo necessária nova concorrência pública. Ainda assim, Araraquara concluiu a obra em 1981.

De Santi, em 1978, negociações com Paulo Egydio para construção do Terminal Rodoviário

Já a estação de São Carlos com o nome do Governador Paulo Egydio teve um desfecho diferente: no início da madrugada de 17 de abril de 1980, partia do seu terminal o primeiro ônibus com destino a São Paulo. O prefeito Antônio Massei, exultante, lá esteve para acenar para os passageiros que ocupavam um ônibus da Viação Cometa. O prefeito estava acompanhado de um grupo numeroso de populares, vereadores e assessores do Executivo. Porém a inauguração oficial aconteceu um ano depois.

Passagens históricas na vida política de Paulo Egydio como o 24° governador do Estado de São Paulo são inúmeras, uma delas de ter sido eleito indiretamente durante o governo de Ernesto Geisel, pelo então colégio eleitoral da Assembleia Legislativa. À época filiado à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), enfrentou logo no início de sua gestão as epidemias de meningite meningocócica e de encefalite, a primeira, na região metropolitana da Grande São Paulo e, a segunda, no Litoral Sul, vencendo-as com sucesso.

A Estação Rodoviária de Araraquara recém inaugurada em 1981

Foi também no seu governo que o jornalista Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, canal de televisão da Fundação Padre Anchieta e vinculada ao governo do estado, foi assassinado por integrantes de organizações da ditadura militar brasileira, em 1975, seu primeiro ano de mandato.

Durante seu governo, Paulo Egydio inaugurou obras viárias importantes, como a Rodovia dos Bandeirantes e a pista ascendente da Rodovia dos Imigrantes, sendo também responsável pela assinatura do acordo entre o Ministério da Aeronáutica e o governo do estado em 4 de maio de 1976, que mais tarde ergueria o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na década de 1980.

UNESP ARARAQUARA

A UNESP foi criada por Paulo Egydio em 1976. Ela resultou da incorporação dos Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado de São Paulo, então unidades universitárias situadas em diferentes pontos do interior paulista. Abrangendo diversas áreas do conhecimento, tais unidades haviam sido criadas, em sua maior parte, em fins dos anos 50 e inícios dos anos 60.

Paulo Egydio até tentou emplacar Olavo Setúbal como seu sucessor, mas não conseguiu

Entre essas escolas que vieram compor a UNESP, pode-se observar, de um lado certa identidade. Um grupo bastante expressivo, formado por sete unidades universitárias, num conjunto de 14, ocupando amplo espaço, constituído pelas chamadas Faculdades de Filosofia, voltadas preferencialmente para a formação de professores que deveriam compor os quadros das escolas secundárias do Estado. Desse conjunto fizeram parte a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis, a de Araraquara, de Franca, de Marília, de Rio Claro e de São José do Rio Preto.

Outros Institutos Isolados foram criados com a finalidade de formação profissional como a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara, a mais antiga de todas essas escolas, fundada em 1923 e incorporada ao patrimônio estadual em 1956. As outras foram as duas odontologias, de Araçatuba e de São José dos Campos, a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, a de Engenharia de Guaratinguetá e a Medicina de Botucatu.

DESCONHECIMENTO QUASE TOTAL

Medidas tomadas por Paulo Egydio levaram Farmácia e Odontologia para a Unesp

A nova safra política de Araraquara, em sua maioria, desconhece fatos que tornaram Paulo Egydio peça importante da história regional como a construção do Hospital das Clínicas da USP, o prédio dos ambulatórios, o Instituto do Coração e o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP, bem como 67 laboratórios de pesquisa. Construiu o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.

Tendo integrado a ARENA, o PP e o PMDB, encontrava-se filiado ao PSDB desde 2005. Sua morte, contudo passou despercebida da classe política local e nem mesmo as várias vezes que ele por aqui passou foram lembradas. O ex-governador era casado com Brasília Byinton, com teve sete filhos, sendo sepultado em São Paulo.