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Infectologista aponta baixa evidência de que ivermectina funcione no tratamento da covid

Polêmica envolvendo medicamentos ainda confunde a população; ação de distribuição gratuita de “kit covid” com remédios foi cancelada após repercussão negativa nas redes sociais

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"Kit covid", que teve distribuição cancelada, continha ivermectina

Uma ação de distribuição gratuita de “kit covid”, contendo medicamentos para prevenção da doença, foi agendada para este sábado (10) na região do Valle Verde, Zona Norte de Araraquara, mas foi cancelada na tarde desta quinta-feira (8), após a iniciativa repercutir negativamente nas redes sociais. A entrega dos remédios seria feita por voluntários do Projeto Livres para Voar. O vereador Marcos Garrido (Patriota) também estava envolvido na entrega dos remédios e, assim como empresários da cidade, iria doar 100 kits, de um total de 600 previstos.

Receita do "kit covid", que seria distribuído na periferia de Araraquara
Receita do “kit covid”, que seria distribuído na periferia de Araraquara

Quem assina as receitas do “kit covid” é o médico Sergio Roberto de Andrade Leite (Cremesp 16 925), de Araraquara.  De acordo com o indicado pelo profissional, os pacientes deveriam tomar  quatro cápsulas de ivermectina (15g), uma a cada 15 dias durante a refeição; quatro cápsulas de vitamina D3, uma a cada 7 dias durante a refeição, além de banhos de sol diários de 10 minutos, entre 10 e 14h.

Em Araraquara, entre os profissionais da Saúde, as opiniões divergem. Há médicos que defendem o tratamento com esses medicamentos já nos primeiros sintomas da covid-19, inclusive receitando para pacientes na UPA, e existem os que descartam totalmente essa alternativa, como a postura adotada pela Secretaria Municipal de Saúde.

Para esclarecer à população essa questão tão controversa, o Portal RCIA ouviu a infectologista araraquarense Estela Cirino Cattelani. De acordo com ela, com base em consenso das sociedades brasileiras de Infectologia, de Pneumologia e de Medicina e também de sociedades internacionais, são baixas as evidências de que a hidroxicloroquina e a ivermectina sejam eficientes no tratamento e na prevenção da covid-19.

A infectologista araraquarense Estela Cirino Cattelani

“O  que acontece é que, talvez pela própria sensação de impotência, no sentido de não poder fazer nada em relação a essa doença tão grave, as pessoas querem intervir de alguma maneira. Existe no mundo um protocolo de tratamento e ações,  só que ele não está nesses remédios, pelo menos não existe comprovação científica de que esses remédios tenham alguma ação efetiva contra a covid-19”, explica a especialista.

Estela conta que também está na torcida para que surja alguma medicação que seja eficaz contra o coronavírus. A infectologista lamenta que muitas pessoas de boa fé que acreditam nesses medicamentos infelizmente estão sendo induzidas por poderes políticos, por forças e interesses econômicos e por trabalhos científicos manipulados.

“Se tivéssemos uma liderança em que a gente confiasse, independente de partido político, talvez não estivéssemos vivendo um transtorno tão grande nesse momento”, conclui a especialista.

O médico Sergio Roberto de Andrade Leite disse que “o kit que pretendíamos doar era para prevenção, para evitar adoecimento. Não para tratar enfermos. A prevenção beneficiaria muitos pela sua eficácia e baixo custo. Infelizmente o querer ajudar ganhou conotação negativa, motivo pelo qual entendemos que devemos interromper até normalizar a situação”.