Era assim que os locutores da Rádio Cultura de Araraquara por mais de 70 anos anunciaram pelas ondas médias da emissora localizada na Avenida Espanha, quase esquina da Rua Gonçalves Dias, a hora certa – quase que a hora oficial da cidade – acompanhada pela população que vivia um período de efervescência econômica a partir dos anos 50.
“Em Araraquara 12 horas; as sirenes instaladas nos altos da Fábrica de Meias Lupo apontam para o meio-dia”.
As sirenes estavam colocadas na parte externa do prédio, cerca de 20 metros de onde está a portaria do Shopping Lupo. Era uma espécie de chave, acionada somente a cada 24 horas e seu barulho se ouvia num raio de aproximadamente quatro quilômetros o suficiente para atingir os mais bairros mais populosos como São Geraldo, Fonte Luminosa, Vila Xavier e Carmo, além do centro comercial, é evidente.
O meio-dia do rádio em Araraquara se dividia então entre o programa Parada de Notícias apresentado por Nildson Leite Amaral e o bloco de Músicas Selecionadas por Jofre David, diretor artístico da emissora, indo a programação até 12h30. Entre um programa e outro é que se dava o meio-dia, competindo ao locutor comercial pedir ao técnico de som a abertura do microfone por exatos dois minutos, tempo para seu deslocamento até a chave. O locutor acionava a chave e barulho das sirenes era captado no estúdio e transmitido a toda cidade, configurando o histórico – meio dia.
Nos anos 90 com a venda da emissora e a transferência da fábrica de meias para as margens da Rodovia Washington Luís as sirenes silenciaram tanto quanto o lockdown que começou neste domingo ao meio-dia por conta de um decreto assinado pelo prefeito Edinho Silva, visando evitar que as pessoas saiam de casa e propaguem o coronavírus. O meio-dia neste 21 de fevereiro se tornou em uma doce lembrança, motivada por configurações adversas.
Dado o sinal de alerta pelo lockdown, está em vigor um decreto que estabelece ruas silenciosas e penalidades para os que não cumprirem o isolamento social.