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Lockdown: a influência e as lembranças do meio-dia na vida de Araraquara

Neste domingo, quando o relógio da antiga Fábrica de Meias Lupo anunciar meio-dia, entra em vigor o lockdown estabelecido para ser uma das barreiras de enfrentamento a pandemia em Araraquara. O relógio da Lupo a partir dos anos 30 se transformou no horário oficial da cidade.

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O locutor se ajeitava, impostava a voz para anunciar: Em Araraquara, pontualmente doze horas! A sirene instalada no alto da fábrica de Meias Lupo também está assinalando para todo o Brasil, meio dia! E continuava... A Rádio Cultura de Araraquara passa a apresentar Músicas Selecionadas, oferta de Meias Lupo.

Era assim que os locutores da Rádio Cultura de Araraquara por mais de 70 anos anunciaram pelas ondas médias da emissora localizada na Avenida Espanha, esquina da Rua Gonçalves Dias, a hora certa – quase que a hora oficial da cidade – acompanhada pela população que vivia um período de efervescência econômica a partir dos anos 50.

As sirenes estavam colocadas na parte externa do prédio, cerca de 20 metros de onde está a portaria do Shopping Lupo. Era uma espécie de chave, acionada somente a cada 24 horas e seu barulho se ouvia num raio de aproximadamente quatro quilômetros o suficiente para atingir os mais bairros mais populosos como São Geraldo, Fonte Luminosa, Vila Xavier e Carmo, além do centro comercial, é evidente.

O meio-dia do rádio em Araraquara se dividia então entre o programa Parada de Notícias apresentado por Nildson Leite Amaral e o bloco de Músicas Selecionadas por Jofre David, diretor artístico da emissora, indo a programação até 12h30. Entre um programa e outro é que se dava o meio-dia, competindo ao locutor comercial pedir ao técnico de som a abertura do microfone por exatos dois minutos, tempo para seu deslocamento até a chave.  O locutor acionava a chave e barulho das sirenes era captado no estúdio e transmitido a toda cidade, configurando o histórico – meio dia.

O que representa meio-dia na história da cidade

A realidade do ontem virou tema para que Angela Cristina Ribeiro Caires escrevesse a história da fábrica de meias: “Quem chega à Araraquara, de longe avista o prédio que, no alto de seus nove andares, exibe o relógio que por muito tempo marcou as horas e o ritmo da vida na cidade. Hoje, escondido entre outros edifícios construídos no centro de Araraquara, o grande relógio do prédio que antes abrigava a fábrica de Meias Lupo – e onde atualmente está instalado o Shopping Lupo – continua a marcar o tempo. Tempo de trabalhar, tempo de viver, tempo recordar…”, comenta Cristina em sua matéria.

Angela e as lembranças do relógio da Lupo

Mais adiante ela relata o que exatamente acontecia nos anos 60 em Araraquara: “O apito do meio dia e o locutor da Rádio Cultura dizendo em tom solene: Em Araraquara, pontualmente doze horas! A sirene instalada no alto da fábrica de Meias Lupo também está assinalando para todo o Brasil, meio dia! E continuava… A Rádio Cultura de Araraquara passa a apresentar Músicas Selecionadas, oferta de Meias Lupo.

Nos anos 90 com a venda da emissora e a transferência da fábrica de meias para as margens da Rodovia Washington Luís as sirenes silenciaram tanto quanto o lockdown que começou neste domingo ao meio-dia por conta de um decreto assinado pelo prefeito Edinho Silva, visando evitar que as pessoas saiam de casa e propaguem o coronavírus. O meio-dia neste 21 de fevereiro se tornou em uma doce lembrança, motivada por configurações adversas.

Dado o sinal de alerta pelo lockdown, estará em vigor um decreto que estabelece ruas silenciosas, atividades comerciais e serviços não essencias suspensos e penalidades para os que não cumprirem o isolamento social.