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Morre o empresário Takuso Kawakami, da Sorveteria Kawakami

Seu sorvete de creme suíço fez história em nossa cidade, porém, mais que isso Takuso deixa um legado de amor à profissão juntamente com a esposa Thereza, contribuindo de maneira brilhante com o desenvolvimento econômico da nossa cidade. O empresário sofreu um infarto intestinal nesta quarta-feira.

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O sorvete de creme suiço feito por Takuso tornou-se uma referência no interior

Aos 89 anos de idade faleceu nesta quarta-feira (3) um dos mais importantes membros da colônia japonesa de Araraquara: Takuso Kawakami, que por muitos anos esteve à frente da Sorveteria Kawakami, na Rua Itália, proximidades da Praça de São Geraldo.

Sua vida, contam os amigos, foi de muito trabalho: “Na verdade, ele sempre fez desta sua atividade – produção de sorvetes – um caminho de prosperidade, muito sucesso. Eram inigualáveis os sabores”.

Visão empreendedora e afinado no trato com as pessoas buscava preservar através do atendimento, a cordialidade, característica da colônia japonesa. Foi desta forma que conseguiu arrebanhar uma seleta clientela e à sua sorveteria vinham clientes de todas as regiões da cidade.

O começo de uma história empreendedora em 1941 na Avenida 7 de Setembro, 913

Segundo seu filho Carlos, o pai não resistiu a um infarto do intestino que geralmente acontece quando uma artéria, que leva sangue para o intestino delgado ou grosso, fica bloqueada por um coágulo e impede a passagem do sangue com oxigênio até os locais que ficam após o coágulo.

Através das redes sociais, Takuso, casado com Thereza, recebeu em forma de mensagem uma homenagem dos filhos Wilma, Élcio (casado com Rosana), Carlos (casado com Cláudia), Gilson casado com Yumi), Marcos (casado com Cibele) e Márcia (casada com Cláudio). Os netos Eric, Gabriela e Murilo, também participam do comunicado feito aos amigos, clientes e demais familiares.

A SUA HISTÓRIA

Fazendo o sorvete de creme suiço (Foto: Henrique Santos)

Em novembro de 2005, Takuso Kawakami contou em entrevista a Revista Kappa sua história e também dos seus sorvetes tão cheios de sucesso, o principal deles, o de creme suíço, cremoso com sabor de caramelo, receita original  passada para a família Kawakami em 1948.

Aos 11 anos, Takuso, natural de Nova Europa, veio junto com o irmão para Araraquara morar em uma pensão de um senhor japonês, Zenkichi Shiroma. Além de frequentar a escola, aprendiam a língua japonesa com ele. Zenkichi tinha uma sorveteria e aconselhou o pai de Takuso a também abrir um comércio de sorvetes. “Era muito amigo do meu pai e deu esse empurrão. Começamos a aprender, meu irmão fez estágio com ele. E fazia sorvete bom”, contava Takuso.

Segundo o comerciante, para criar o creme suíço Zenkichi pensou que deveria fazer um sorvete que se parecesse a uma bala de caramelo, por isso fez experiências e chegou à massa ideal. Além da receita, o criador do sabor foi também responsável por colocar a família Kawakami no comércio de sorvetes. Após anos trabalhando com seu pai, Takuso abriu seu próprio negócio no ramo e depois ficou como sócio de seu irmão (na sorveteria Kawakami da rua Nove de Julho) por quatro anos. “Aprendi uma profissão que eu nunca pensava que ia exercer”, revelava às pessoas.

Thereza e Takuso com os filhos comemorando Bodas de Diamante do casamento

Em 1975, o comerciante abriu uma fábrica de picolé para vender na rua, em carrinhos, negócio que durou até 1993 e que contava com a ajuda de toda a família. “Cada um fazia uma parte”, dizia Takuso. Só depois ele comprou o prédio da tradicional sorveteria Kawakami no São Geraldo. “Deus me deu um dom de ser comerciante, boa visão de negócio, de compras e vendas”, dizia.

Os seis filhos de Takuso o ajudavam, mas foi combinado com eles que todos deveriam fazer curso superior. “Aquele que entrasse na faculdade não trabalhava mais”, afirmava, com orgulho, o pai que conseguiu que todos os filhos tivessem um diploma universitário.

Mas, paralelo ao comércio de sorvetes, Takuso fez carreira no DER, onde começou a trabalhar como escriturário ainda na década de 50. Em seguida foi para o pedágio, que existia no km 262, da rodovia Washington Luís. Posteriormente, tornou-se fiscal de taxas e multas, período em que viajou por toda a região de Araraquara e São Carlos. Em 1985, foi promovido a inspetor de taxas e multas e a aposentadoria aconteceu em 1989.

Thereza e Takuso celebrando 60 anos de casamento

Antes, segundo ele, o sorvete era mais artesanal. “Hoje é tudo máquina: é pasteurizado, homogeneizado. Tem que acompanhar, senão você fica para trás”, contou um certo dia o comerciante que sempre  ia às exposições e feiras do setor, conversava com fabricantes e, por isso, fazia muitas experiências.

A família criou o sorvete nocciola, de avelã, e começou com o de abacaxi ao vinho, que foi um sucesso. “A Thereza (esposa) foi meu braço direito. Nós gostamos de fazer sorvete e trabalhamos com amor. Sou um homem realizado, na parte financeira e familiar”, enfatizava o comerciante. Sobre a receita, todo mundo sabe que é com açúcar queimado, mas o ponto certo é um segredo guardado na família Kawakami e, por isso, o sabor é o mais vendido na sorveteria, segundo Carlos Eduardo Kawakami, filho de Takuso e responsável pelo negócio hoje. Takuso revela que o creme suíço foi sendo aperfeiçoado, mas lembra com carinho do sorvete feito pelo criador da receita: “O sorvete não mudou muito, mas se a gente fizer o jeitinho que ele fazia fica melhor”, disse em 2005, o comerciante.

O velório e o sepultamento, tendo em vista as regras estabelecidas na Fase Vermelha do Plano São Paulo por conta da pandemia, serão restritos aos familiares.

Os nossos sentimentos à Família Kawakami.