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Para entender o carioca Pedro José Neto e seus laços com os campos de Araraquara

Poucos são os que buscam se aprofundar na história da sua própria cidade; nem mesmo nas escolas há o interesse em mostrar às crianças os traços históricos da terra em que vivem - Araraquara. Somos desconhecedores da saga de um carioca que aqui chegou por ironia do destino.

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Nesta igreja construída em 1696, foi batizado em 1760, Pedro José Neto; nela também ocorreu o batismo de Luiz Alves de Lima, o Duque de Caxias, nascido na freguesia em 25 de agosto de 1803

Há exatos 204 anos, Araraquara era fundada por Pedro José Neto. O dia 22 de agosto, simplesmente sexta-feira de quarto crescente, perpetuou-se pela ousadia do carioca nascido em Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim, Bispado do Rio de Janeiro, em 1760.

O Rio Inhomirim era uma importante via fluvial da Baixada Fluminense. Por ele, entraram colonos que se estabeleceram em terras planas e férteis. Segundo Monsenhor Pizarro, visitador pastoral em 1795, por iniciativa dos moradores foi construída uma capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim, às margens do caminho de Inhomirim. A data da fundação e o nome do doador do terreno não se sabem “em razão da antiguidade deste templo”. Inhomirim significa, em tupi-guarani “campo pequeno”, lembrando que, antes dos portugueses, as terras eram dos índios Tupinambás.

Com vinte anos de idade, Pedro José Neto mudou-se para a freguesia de Piedade da Borda do Campo, hoje Barbacena, em Minas Gerais. Nessa freguesia, a 12 de Agosto de 1784, casou-se com Ignácia Maria, também fluminense. Teve com ela, dois filhos: José da Silva Neto e Joaquim Ferreira Neto, que faleceram em Araraquara.

Em 1787, Pedro José Neto e sua família mudaram-se para Itu, em São Paulo. Alguns anos depois, devido a problemas políticos locais, a Justiça de Itu, por seu capitão-mor Vicente Taques Góis e Aranha, condenou-o ao desterro na freguesia de Piracicaba, em São Paulo, dando ao réu, a oportunidade de deixar seu domicílio por uma ordem legal ou então por vontade própria.

Em 1807, ele adentrou as matas onde hoje está São Carlos, fixando-se depois nos campos de Araraquara. Em 1809, juntamente com seus filhos, requereu a posse de uma sesmaria, cujos domínios principiavam no Morro do Espigão que verte para o córrego do Brejo Grande, buscando o Ribeirão do Barreiro. Era a sesmaria do Ouro onde construiu uma capelinha dedicada a São Bento (padroeiro) nos Campos de Aracoara (lugar onde mora a luz do dia, a “Morada do Sol”) na região habitada pelos indígenas da tribo Guayanás.

Com o aparecimento de novos exploradores e preocupado em não arrumar atritos, Pedro José Neto indicou-lhes a existência de terras devolutas, contíguas à sua, para que eles, por meios regulares, também se estabelecessem e se tornassem senhores dos respectivos territórios. Essas sesmarias – Rancho Queimado, Cruzes, Lageado, Cambuy, Bonfim, Monte Alegre e Monte Alegre das Almas foram demarcadas oficialmente entre 1812 e 1819.

Em 22 de agosto de 1817, de acordo com o decreto real nº 32, foi criada a freguesia de São Bento, na época com cerca de 336 habitantes. Sua economia inicial estava baseada na pecuária e agricultura de subsistência.

Em 30 de outubro de 1817, foi elevada a distrito e em 10 de julho de 1832 passou a categoria de município, o qual somente foi instalado em 24 de agosto de 1833. Foi neste período, que José Joaquim de Sampaio, trouxe para Araraquara as primeiras mudas de café e de laranja, entendendo a importância do futuro.

Durante a década de 1830 a 1885, o café teve pouca importância na economia da cidade, devido ao alto custo do transporte e mão de obra escrava; dos quase sete mil habitantes da cidade na época, cerca de mil eram escravos.

Araraquara passou à categoria de comarca em 20 de abril de 1866, de acordo com a lei provincial nº 61. Neste período a cidade já possuía um aspecto urbano agradável, de acordo com relatos do Tenente – Bacharel Alfredo D. ’Escragnole, durante sua volta da Guerra do Paraguai.

Com a chegada da ferrovia em 1884, a mão de obra escrava acaba sendo substituída pela mão de obra do imigrante (principalmente italianos, portugueses e espanhóis) e a cidade entra no complexo comercial do café.

Pouco antes do advento da Republica, em 6 de fevereiro de 1889 se transforma em cidade pela lei provincial de nº 07.

Trecho do livro “Senhores dos Verdes Campos” de autoria do jornalista Ivan Roberto Peroni, lançado em 2018, que conta a história do agronegócio de Araraquara através de suas entidades representativas Canasol e Sindicato Rural.