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Ivo Dall’Acqua diz que “enfrentar uma crise desse porte gera insegurança sem precedentes”

De acordo com levantamento da Fecomércio, entre os segmentos do comércio, a queda mais acentuada coube ao de vestuário, que deve registrar um tombo de 67% nas vendas e um prejuízo de até R$ 3,5 bilhões

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O araraquarense Ivo Dall’Acqua Júnior, vice-presidente da Fecomércio-SP

O vice-presidente da Fecomércio-SP Ivo Dall’Acqua Júnior disse que a crise gerada na economia pela disseminação do novo coronavírus trará resultados negativos dramáticos para o comércio. No Estado de São Paulo, a entidade estima uma queda de até 20% nas vendas, no primeiro semestre deste ano, devido à suspensão, entre março e maio, das atividades comerciais, exceto nos segmentos considerados essenciais, como supermercados, farmácias e postos de combustíveis.

A retração foi  fortemente influenciada pelos prejuízos gerados em datas festivas, que tradicionalmente inflam os negócios, como o Dia das Mães e o Dia dos Namorados. De acordo com levantamento da Fecomércio, entre os segmentos do comércio, a queda mais acentuada coube ao de vestuário, que deve registrar um tombo de 67% nas vendas e um prejuízo de até R$ 3,5 bilhões. A queda diária no faturamento, segundo o vice-presidente da entidade, foi de R$ 1 bilhão por dia.

Até o dia 9 de junho, o varejo paulistano perdeu quase R$ 17 bilhões, o que significa 6% de todo o faturamento esperado para 2020. O prejuízo diário é de cerca de R$ 220 milhões – em média, 30% do total das vendas esperadas diariamente. Mesmo com esse retorno, com o tempo de trabalho reduzido, somando-se ainda a um cenário comprometido, o restabelecimento econômico deve ocorrer gradualmente.

LIVE

Em live no Instagram da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em 10 de junho, Dall’Acqua afirmou que também contribuiu muito a baixa na intenção de consumo das famílias neste período. “As pessoas têm estado, como regra, focadas em comprar apenas o essencial, por não imaginar o que ainda está por vir”, explicou. Também colaborou para este cenário negativo o encolhimento da renda das famílias, seja pelo desemprego, seja por endividamento.

Após 82 dias fechado por conta da pandemia, o comércio de rua voltou a abrir suas portas no dia 10 de junho. No dia seguinte, foi a vez dos shoppings. Na avalição de Dall’Acqua, nem mesmo a reabertura gradual das atividades do setor – que será feita em cinco etapas – será suficiente para impedir um recuo de 33% do comércio varejista do Estado, neste mês, no comparativo com junho do ano passado.

De sua parte, a Fecomércio-SP apresentou aos Governos do Estado e do município protocolos de saúde e higiene, regras de autorregulação e fiscalização e proteção aos consumidores e funcionários. “A fiscalização do cumprimento das regras é do poder público. Nós trabalhamos com a disseminação de recomendações e orientações”, detalhou.

Entre elas, citou como o cliente deve ser recebido na loja, a medição da temperatura do funcionário e do cliente, o uso adequado de EPIs e a redução do expediente normal do estabelecimento, que foi adequada à logística de transporte público de São Paulo e das cidades da Região Metropolitana, para evitar aglomerações em horários de pico por onde circulam em torno de 33 milhões de pessoas.

NEGOCIAÇÃO

Na entrevista, Ivo Dall’acqua destacou que as precauções para se adaptar às novas regras são apenas um item do complexo gerencial corporativo, não importando o tamanho do empreendimento. “Empresas têm que se preocupar com a administração de empregados, o caixa do negócio e com a preservação do patrimônio, entre outros pontos”, lembrou.

Isso, porém, é mais delicado para as pequenas e microempresas – em torno de 97% de todas as empresas na área comercial e responsáveis por 65% dos postos de trabalho. Conforme o dirigente, grande parte desses empreendimentos são familiares, “muitos o negócio de uma vida”. Para esses empresários, enfatiza, enfrentar uma crise desse porte gera uma insegurança sem precedentes.

Tanto que exigiu uma iniciativa incomum da Federação, de chamar os comerciários para negociar fora da data data-base (período do ano destinado à revisão das condições de trabalho). Os sindicatos profissionais foram chamados para sentar à mesa e dialogar.

“Houve sensibilidade, diante do momento inusitado, quando propusemos aditivos às convenções ou dissídios coletivos. As medidas provisórias do governo, principalmente a MP nº 936/2020, ajudaram na negociação.”

COMPROMISSO

A retomada das atividades exige compromisso de governos, empresas e seus empregados e sociedade, diz Dall’Acqua, enfatizando que é importante que todos tenham essa consciência. “Mas precisamos olhar mais além. É necessário, mais do que ter, promover a conscientização dos envolvidos, abrirmos mãos de conforto ou daquilo que se conquistou, em benefício de um bem maior, a vida”, observou.

Ele lembrou que os empresários têm que fazer a sua parte, respeitando o atual momento, que chamou de “abertura ainda tímida” dos estabelecimentos, para evitar uma situação pior, que é o recuo compulsório para uma etapa anterior à reabertura, como está ocorrendo em algumas regiões, devido ao surgimento de novos casos de covid-19. “Essa é uma situação terrível. Empresarialmente, é desastroso”, declarou.

Outro ponto destacado por ele na entrevista foi a questão dos impostos devidos pelas empresas. Segundo Dall´Acqua, os governos “não foram exatamente generosos” com a questão tributária. “O trabalho de construção do diálogo com todas as partes envolvidas continua.”

Para Dall’Acqua, contudo, a postergação do pagamento de tributos, como decretaram governos federal, estaduais e municipais, não é a solução mais adequada. E lembrou: o cumprimento da responsabilidade das empresas só teve sua data adiada.

Da mesma forma, classificou como insuficientes os recursos disponibilizados pela União para mitigar os prejuízos dos empresários com os estabelecimentos que ficaram fechados até aqui. Além de escasso, o crédito para capital de giro e pagamento de salários não está chegando aos empreendedores. Segundo o vice-presidente da Fecomércio-SP, há um excesso de regras para aprovação dos empréstimos, o que trava a liberação de recursos.

Diante de um quadro ainda cheio de incertezas, Dall’Acqua considera que a retomada deverá ocorrer de forma muito lenta. A recomendação que fez aos empresários é evitar o aumento do endividamento, buscando alternativas para manter a liquidez e o fluxo de caixa, incluindo a redução das margens de lucro.