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O futuro da Ferroviária passa por Roberto Braga

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Após o seu retorno na divisão especial paulista, a Ferroviária deu início a uma reformulação profunda em sua gestão, onde diretores saíram e um novo conceito foi implantado para alavancar ainda mais o clube.

O resultado foi com troféus sendo conquistados desde 2015 e com disputas em torneios nacionais desde 2016, um fato raro para times do interior do estado de São Paulo, que lutam cada vez mais para sobreviver, onde o futebol brasileiro tem se tornado cada vez mais para os grandes.

Hoje, a espinha dorsal formada dentro do clube grená gira entorno de três profissionais, dentre eles está Roberto Braga.

O araraquarense de 33 anos foi um dos que impulsionaram a Locomotiva para que ela chegasse no lugar que está hoje.

Formado em Educação Física na Universidade do Estado de São Paulo de Bauru, fez também Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, além de ser mestre em Ciência da Motricidade, também pela UNESP.

Durante quatro anos, trabalhou como Coordenador Pedagógico do Núcleo de Ensino da Universidade do Futebol e começou na Ferroviária como Coordenador das Categorias de Base do Clube, de acordo com o seu Curriculo Lattes.

Em 2017, virou Diretor de Planejamento, função que exerce até hoje e os resultados começaram a levar o clube em um novo patamar, fortalecendo ainda mais as categorias de base e um novo conceito na estrutura que possuí na Fonte Luminosa e no Parque do Pinheirinho.

O Portal RCIARARAQUARA.COM teve a oportunidade de entrevistar, com exclusividade, o profissional, que contou mais sobre o futuro da instituição, o desenvolvimento na base e do futebol feminino, negociações, Roque Júnior e o projeto de ter várias escolas da Ferroviária espalhadas por Araraquara. A conversa durou um pouco mais de 40 minutos por telefone. Confira:

RCI Araraquara: Quem é Roberto Braga? Como você entrou  para o mundo do futebol?
Roberto Braga: Eu sou nascido em Araraquara. Tentei ser jogador de futebol e cheguei a jogar futsal aqui por muito tempo. Disputei até um Campeonato Paulista, mas acabei passando na faculdade e fui estudar. Fiz concomitante em Bauru, na época na FIB, me dedicando aos estudos e futsal. Porém, me interessei muito pelo futebol quando estive lá e trabalhei com isso nas principais vertentes. Fui treinador, professor em escola de futebol e trabalhei muito com pesquisa no futebol. Em 2011, me formei e já fazia alguns trabalhos para o São Paulo Futebol Clube. Depois, trabalhei na Universidade do Futebol, um lugar que presta consultoria e dá cursos. Além do São Paulo, trabalhei também no Botafogo-RJ e de parcerias com a UNICESP. Em 2016, quando a Ferroviária subiu, eu recebi convite do Pedro Martins [da parceria com o Athletico-PR e depois CEO da Ferroviária, em 2017] para voltar à Araraquara e fui coordenador da base do clube, onde iniciamos um projeto. Hoje, estou em uma nova função, mas trabalho há quatro anos aqui.

RCI: E sobre esta nova função? Esperava assumir como diretor de planejamento da Ferroviária?
RB: A ideia do projeto sempre foi muito integrada. Quando eu cheguei para ser o coordenador e reestruturar toda a base da Ferroviária, eu sempre tive uma proximidade com futebol profissional pela abertura que o Pedro havia me dado. Então, naturalmente, eu já compartilhava de algumas decisões no dia a dia com os demais responsáveis. Quando o Pedro saiu, ele achou por bem essa mudança para três diretorias, e não mais um cargo de diretor executivo que ocupou. Para mim, foi uma surpresa, mas de forma positiva. Já estava ambientado, apenas com o modo de trabalhar um pouco diferente, com algumas responsabilidades novas que eu acabei assumindo.

RCI: Falando sobre o trabalho da base. Se pegarmos os últimos 3-4 anos, como você e a Ferroviária enxergam esta evolução atualmente?
RB: A partir do momento que o clube subiu para a primeira divisão, era necessário ter um projeto de base forte para os jogadores terem uma identidade dentro do clube, ter jogadores revelados no futebol profissional, poder negociá-los. Era uma ideia, de fato, para o clube poder se fortalecer e não viver de jogadores de fora, digamos, “os forasteiros”: ficam três meses e vão embora. A ideia era ter uma identidade com o clube de uma maneira estratégica. Hoje, a base é um dos pilares nos últimos anos. A meta era essa, reestruturar todo esse processo, digno da história da Ferroviária. Ainda é lento. Tinham vários passos a serem dados e nós traçamos um projeto que tem dado esse respaldo. Evoluímos em questões estruturais, nas ideias de jogo e qualidade dos atletas para poder promover jogadores na equipe profissional. Quando isso não acontecer, de receberem propostas, se tornem um ativo para fortalecerem o clube financeiramente.

RCI: Atualmente, a Ferroviária possui as categorias Sub-15, 17 e 20 no masculino, que disputam o Campeonato Paulista. Existe também um projeto para que o clube tenha as categorias sub-11 e 13?
RB: Existe um projeto aqui dentro que eu chamo de “crescer para baixo”. Este ano, iniciamos a categoria Sub-13 e 14, só com meninos nascidos em Araraquara e na microrregião. Eles treinam quatro vezes por semana e já iniciamos este processo. A nossa ideia é ter mais destas categorias, com a Sub-11 e 12, e parcerias com as escolas públicas da cidade e voltadas ao futebol para que eles possam ter a oportunidade de jogar na Ferroviária. Sabemos que isso é uma cobrança da torcida. A gente tenta e faz isso hoje. Acredito eu que hoje sejamos o time que possui mais jogadores da cidade nas categorias de base dentro dos clubes que disputam o Paulistão. Hoje, temos um nível de aproveitamento bom de Araraquara e região com a convicção de que quanto mais cedo este processo começar, mais qualidade teremos na base, dando a oportunidade de vivenciarem isso. Temos outras metas, mas com um prazo maior, como ter uma rede de escolas da Ferroviária. São ideias futuras que o clube tem.

RCI: Existe a possibilidade destas outras categorias [do Sub-11 ao 14] disputarem um Campeonato Paulista ou outros torneios regionais?
RB: Existe sim. Porém, hoje nós não disputamos porque precisamos ter um projeto sólido. Não adianta fazermos isso se não estivermos bem estruturados e dar totais condições para os meninos. Sabemos que existem muitos clubes que acabam emprestando suas camisas para escolinhas de futebol e não tem um suporte necessário. Não queremos fazer assim. Além disso, temos a questão de jogadores até 14 anos de não conseguimos fazer um contrato de formação com o clube. Esse menino pode ser visto por uma outra instituição e ir embora. Então, ficamos desguarnecidos com relação a isso. Essa é uma outra questão que nos preocupa porque é um investimento e a gente precisa estar com o clube protegido para que isso valha a pena. Queremos investir e que os melhores jogadores fiquem na Ferroviária, não que saiam e o clube fique sem respaldo.

roberto braga afe2Roberto Braga com a taça da Copa Paulista 2017

RCI: Hoje, a Ferroviária disputa a Copa Internacional Sub-16 [mescla de jogadores do Sub-15 e 17], organizada pelo Shandong Luneng, da China. Como surgiu este convite para a disputa e qual a sua avaliação deste campeonato?
RB: Este convite surgiu de um relacionamento muito bom que a Ferroviária tem construído com os principais clubes do estado, como São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Desportivo Brasil, Red Bull e outros. Hoje, existe uma comissão na Federação Paulista de Futebol para decidir as questões nas categorias de base e eu faço parte desta comissão que conta com profissionais destes clubes. Então, estreitou-se muito os laços e estes clubes maiores começaram a ver na Ferroviária um projeto organizado, começando a surgir convites por saberem que é um clube que vale a pena e que vai participar de uma maneira interessante. Até o momento, o saldo tem sido o melhor possível, porque conseguimos a oportunidade para que os meninos abaixo do Sub-17 joguem e são jogos de muita qualidade, de nível muito alto, e estamos fazendo um bom campeonato, apesar de não termos vencido ainda. Tomamos um gol contra o São Paulo no último minuto e contra Barueri passamos o jogo todo na frente, mas tomamos o empate no final. Fizemos jogos de qualidade e de nível bom contra grandes clubes. Isso é o principal dentro desta categoria, que a gente consiga jogar bem contra estas equipes. Quanto mais eles jogarem, maior será o nível dos jogadores daqui para irem para as categorias Sub-20 e profissional. Essa é a nossa ideia principal dentro deste tipo de campeonato.

RCI: Aprofundando mais o assunto nas categorias de base, o volante Kaio Fernando, revelado na base da Ferroviária e que foi de grande sucesso no Campeonato Português jogando pelo Santa Clara, foi vendido para o Krasnodar, da Rússia. Como o clube vê este negócio? A parceria com o clube português [está desde 2017] continua?
RB: A parceria continua. Temos uma boa relação e estamos em contatos frequentes com o pessoal do Santa Clara. Hoje, a parceria funciona da seguinte maneira. Eles têm a preferência de um jogador da Ferroviária e vice-versa. Eles não têm uma exclusividade. Podem querer ou não querer. Nada impede que outro jogador nosso vá para outro time em Portugal, mas ele [Santa Clara] tem a preferência. O Roque Júnior esteve lá no meio do ano passado visitando o clube português e mantém um contato. É uma porta que se abre na Europa com um clube do interior. Para nós é de muita valia. É uma relação muito próxima e acompanham a gente, não ficando apenas nos negócios. O Kaio é um fruto disso. Digo porque ele é um trabalho que a Ferroviária tem feito a muito tempo. Antes da minha gestão, já havia um trabalho com ele. Tem muitas pessoas que merecem o crédito pela formação dele. Por ele ter jogado aqui, numa Copa Paulista e ter conseguido esta ponte com Portugal, é um projeto que envolve profissionais que passaram pela Ferroviária nos últimos oito, nove anos que deixaram o seu grãozinho de areia durante esta construção.

RCI: É política da Ferroviária não divulgar os valores de uma negociação, mas a mídia portuguesa noticiou que o negócio girou em torno dos €3 milhões (aproximadamente R$ 14 milhões). Por ser o clube formador, a Ferroviária, além de parte deste valor, receberia também uma porcentagem do Mecanismo da Solidariedade da FIFA pela transação ter sido feita para outro país?
RB: Pelo Mecanismo de Solidariedade, não, pois a Ferroviária tinha um percentual do jogador. Este mecanismo serve apenas para quando o clube formador não possui um percentual em uma negociação futura. Por exemplo, como o Kaio foi negociado, a Ferroviária não detém mais este percentual dele. Mas, se ele for negociado para um outro clube [que não seja na Rússia], o clube terá o Mecanismo de Solidariedade. Quanto aos valores da negociação e o percentual, eles são definidos entre os clubes. É uma política não se abrir para proteger o interesse de ambos. Não ganhamos com o Mecanismo, mas sim com a negociação.

RCI: O valor recebido acabou sendo bom para o clube?
RB: Quando se fala de um valor total, há muitos participantes, até porque o Santa Clara teve um investimento grande pelo atleta. A principal renda desta negociação foi do Santa Clara que colocou ele para jogar em uma liga forte, mas logicamente que é um dinheiro muito importante para nós e para que o clube possa girar no seu dia a dia com todo o investimento que é necessário para manter um projeto como o da Ferroviária. Hoje, somando o masculino e feminino, temos 210 jogadores, mais de 60 profissionais, envolvendo staff, comissão técnica e cozinha. É como eu digo, hoje somos uma empresa de médio para grande porte. Estes valores são reinvestidos no futebol do clube para estar amanhã em uma Série C e B, e continuar crescendo junto com a cidade.

RCI: Continuando a ponte Araraquara-Portugal, o atacante Luís Henrique [revelado também na base afeana] é outro que está emprestado, mas ao Portimonense. Existe a possibilidade da volta do jogador para o segundo semestre?
RB: Existe a possibilidade de volta. O que houve com o Portimonense foi um empréstimo [de agosto de 2018 até metade deste ano] com a opção de compra. Caso essa compra não se realize, o jogador retorna à Ferroviária e faz o segundo semestre aqui. É um jogador de muito potencial, foi artilheiro de uma Copa São Paulo de Futebol Júnior e fez gol pela equipe principal. Se ele voltar, continuaremos investindo nele. Na pior das hipóteses, teremos um jogador mais maduro e evoluído tendo vivenciado um mercado internacional.

RCI: Segundo a reportagem apurou em abril, o lateral-esquerdo Arthur estaria fechado com Gil Vicente para o segundo semestre. Faltam detalhes para que a negociação se concretize?
RB: Ainda é um processo que está se construindo. Por enquanto, ainda não tem nada definido.

RCI: Falando sobre o Futebol Feminino, como você tem visto o trabalho da Lorena [March, gerente de futebol] e da treinadora Tatiele Silveira, recém-chegada ao comando do time?
RB: O futebol feminino, aqui, é muito forte. Eu digo hoje que quem faz o futebol feminino em São Paulo são Ferroviária, Corinthians e Santos. Há outros clubes que fazem também. O São Paulo começou a fazer agora, mas se pegarmos a Ponte Preta, por exemplo, não funciona dentro do dia a dia da Ponte Preta. O próprio Palmeiras, não funciona no dia a dia do Palmeiras. Na Ferroviária, o futebol feminino é 100% integrado e faz rotina dentro dos departamentos do clube. Se alguém vier fazer uma visita no clube hoje vai ver o futebol feminino trabalhando lado a lado com a equipe profissional e categoria de base. É um projeto muito forte e que a gente acredita muito, já que a cidade tem uma tradição. Lógico que temos o desafio contra os grandes clubes. Conforme eles entram no cenário, o investimento muda muito. Cada vez vai ficando mais difícil repetir o resultado que a gente teve, de ser campeão paulista, da Copa do Brasil e Libertadores, mas a gente continua com um projeto muito sólido. Neste sentido, a gente tem ótimas profissionais. A Lorena está no clube faz alguns anos e tem estruturado as categorias de base feminino, que é algo que acontece muito pouco nos outros clubes. No profissional, conseguimos manter um bom nível. A Tatiele é uma profissional excelente, uma das poucas que possuem a licença A [de treinadora] na CBF e se diferencia também por isso. Sabemos que isso é uma mudança, um processo novo, que demora para se encaixar para fluir perfeitamente. O projeto de futebol da Ferroviária engloba a base, o futebol feminino e o profissional. Queremos nos diferenciar por isso também.

RCI: Como tem funcionado o trabalho na base, de levar as jogadoras até o profissional? E também na questão de fomentar novos valores em Araraquara e região?
RB: Até o momento tem sido um bom trabalho, mas tem muito a evoluir. Há lacunas e sempre tem coisas que queremos fazer o mais rápido possível, mas dentro das limitações no interior, temos fortalecido muito o clube.

tatiele silveira treinoTatiele Silveira comanda as Guerreiras Grenás

RCI: Hoje, a Conmebol impõe aos times que forem disputar a Libertadores que eles tenham a categoria do futebol feminino para que participem da competição continental. Você acha que isso “assusta” a Ferroviária, devido à procura dos grandes clubes na montagem do elenco? Pode ser um empecilho?
RB: Pensando apenas no futebol feminino, é muito positivo. Muitas vezes eu digo que precisamos ter uma medida compulsória e uma educativa. É mais ou menos quando você é obrigado a colocar o cinto de segurança e se faz uma campanha sobre a sua utilização. Isso acontece de uma maneira similar: obriga-se a ter e mostra o quão bom pode ser para o clube. Obviamente, falando-se no investimento desses grandes clubes, a Ferroviária tem que se reposicionar no mercado. Entre 2014 e 15, éramos um dos principais clubes com investimento. Isso tem sido uma realidade cada vez mais distante. O que a Ferroviária precisa fazer no feminino é mais ou menos o que vem acontecendo no masculino. Talvez não vá pagar os melhores salários, mas que vai ter uma estrutura organizada, de bons profissionais e conseguir fornecer as jogadoras ou quem estiver dentro deste cenário do futebol feminino, um plano de carreira e uma possibilidade de crescer para que possam ir para clubes com salários maiores. Isso não é um problema. A gente vai ter que se posicionar no feminino desta maneira também.

RCI: Quando a CBF implantou a seleção brasileira permanente atrapalhou os planos e o futuro da Ferroviária? A confederação tirou boa parte das jogadoras do clube e depois autorizou o empréstimo delas para outras equipes do futebol brasileiro. Hoje, esse plano não existe mais.
RB: Eu, particularmente, discordo desta medida que foi adotada da seleção permanente, mas eu compreendo. Hoje, quem está à frente da seleção precisa, às vezes, treinar um pouco mais e dar um ritmo de jogo ou de entrosamento para competir com estruturas mais organizadas em relação ao futebol feminino no mundo. Ainda estamos atrás nisto. Se eu estivesse no lugar dos treinadores, eu pensaria isso. Eu consigo entender, mas eu discordo, pois isso acaba enfraquecendo um campeonato. Acho que precisamos ter as principais jogadoras ativas jogando o campeonato para que fortaleça e possa crescer, com patrocinadores, investidores, torcedores e a imprensa vejam uma competição de qualidade. Esse é o principal passo. Na época, eu ainda não estava na Ferroviária, então não sei com precisão o quanto isso impactou no dia a dia do clube, mas olhando para a modalidade feminina no Brasil, é bom ter as principais jogadoras na disputa de um campeonato.

RCI: Sobre o elenco profissional masculino, como você tem visto o trabalho do Roque Júnior? Ele chegou no meio do ano passado, trouxe um “forasteiro”, que era o Vinícius Munhoz, mas depois caiu nas graças do torcedor, levou o time para as quartas-de-final do Paulistão deste ano e renovou contrato até o fim de 2020. O Roque está prestes a completar um ano no clube como diretor de futebol.
RB: As avaliações sobre o trabalho dele são as melhores possíveis. Uma das coisas que a Ferroviária conseguiu institucionalizar é que ninguém é soberano. Tanto o Roque Júnior, como eu e o próprio Bruno Pessotti [diretor administrativo], ninguém é soberano. As decisões são tomadas em conjunto. Isso fortalece muito. E tendo neste hall um diretor de futebol, como o Roque Júnior, nos fortalece ainda mais, por ter um conhecimento do mercado, relações muito amplas, sem contar o conhecimento sobre o futebol, que é muito grande, não só pela vivência como jogador nos lugares em que jogou, mas como treinador também e agora como dirigente. É um cara que trabalha muito pela Ferroviária. Ele chegou aqui sem nenhuma pretensão de ser maior que o clube. Muito pelo contrário. É mais uma a fazer parte desta engrenagem toda. Isso aí faz toda a diferença. Trabalha 12, 13, 14 horas por dia para desenvolver o clube. Não é raro em sábados que não temos jogo você vir ao clube às 18h e ele estar aqui, vendo jogo, assistindo um jogador, conversando, pensando em um processo, em organizar. Este é um principal fator que faz dele um cara diferente. Quer fazer o clube crescer e tem isso como meta da vida. Isso é muito legal. Para mim, é um cara que veio para somar muito no nosso dia a dia.

RCI: Já pensam em renovar o contrato dele?
RB: (Risos). Isso é uma construção nossa. Temos uma relação muito próxima no dia a dia, principalmente nas tomadas de decisões em todas as áreas. Ele está muito feliz. Eu procuro conversar muito com ele para entender as motivações dele também. Eu falo que quem esteve em final de Copa do Mundo e de Liga dos Campeões, precisa ter uma motivação diária para trabalhar. Já viveu tudo o que o futebol pode dar a um jogador. Além disso, ele gostou muito da cidade, do clube e de todo o projeto, que é o mais importante. É uma construção diária que temos aqui e a ideia é renovar com ele, sim. Queremos construir um caminho longo e que ele possa ficar na Ferroviária por muitos anos, acompanhar este crescimento do clube, pois ele é um dos protagonistas disso.

roque jr 3Roque Júnior conversa com Vinícius Munhoz durante treino

RCI: Estamos a um mês do início da Copa Paulista. Claro que a Ferroviária já possui a vaga para o Brasileiro da Série D 2020, mas creio que a pretensão agora seja a vaga para a próxima Copa do Brasil. Além dos jogadores que disputam a Série D deste ano, pretendem também abrir mais espaço para a base nesta competição?
RB: É um pouco disso que você falou. Nós temos a vaga para a Série D 2020. Isso, por um lado, nos tranquiliza de não ter que disputar com a “faca no pescoço” pelo projeto do clube e isso acaba ajudando. Mas queremos continuar crescendo. Criamos uma tradição na Copa Paulista e isso é importante. Queremos chegar nas fases finais, garantir uma Copa do Brasil e colocar o clube novamente no cenário nacional em uma outra competição. Além disso, acabamos nos tornando especialistas em aproveitar parte deste elenco [que disputa a Copa Paulista] no Paulistão. A gente também tem essa ideia dos jogadores que se destacam aqui de utilizar no estadual, como foi no caso do Higor Meritão, Alisson, Tadeu, e isso tem sido um diferencial da Ferroviária que, independente da vaga na Série D, não podemos abandonar. Porém, enquanto as duas competições estiverem sendo concomitantes, os meninos da base terão a possibilidade de fazer parte do grupo, como foi feito no ano passado em determinado momento, como foi com Pedro do Rio, Richard e outros que foram jogando. É algo que a gente vem fazendo nos últimos anos, mas talvez este possa ser um ano que a gente terá que fazer de forma intensa, principalmente na primeira fase. Se estivermos na Série D, vão coincidir os jogos. Nós não temos uma opção de fazer isso de maneira recorrente.

RCI: Do elenco que disputou o Paulistão, alguns acabaram renovando por mais uma ou duas temporadas e foram emprestados para times das Séries A, B e C do Brasileiro. Apesar disso, ainda não são jogadores certos que podem retornar para o próximo Paulistão. Caso o clube consiga um caixa com eles, é certo que o dinheiro será para investir em um novo time?
RB: Sim, sem dúvidas. É um pouco daquela ideia inicial sobre a base, mas que também servem para estes jogadores. Queríamos atletas que se identificassem com a Ferroviária e que eles gostassem, pudessem ter amor pelo clube e querer crescer. Acho que a gente conseguiu isso e temos muitos casos, como o Diogo Mateus, Tadeu, Gabriel Leite e outros que se identificaram e querem estar aqui. A ideia deles é essa. Logicamente que se aparece uma proposta de um time da Série A, acaba sendo diferente para a própria carreira do jogador e ele opta por isso. Caso isso aconteça, a gente tem a possibilidade de ter um retorno a curto ou longo prazo, de ter um investimento futuro. Isso fortalece o projeto de futebol do clube. Além de ter um desempenho esportivo, é ter também um projeto de gestão de planejamento financeiro sólido para que o clube consiga se manter e evoluir. Muitos clubes ficam apenas direcionados com o projeto esportivo, mas não conseguem se sustentar ao longo dos anos. É isso que a gente quer evitar para que possamos investir em times melhores, com uma grande estrutura e espetáculo que uma empresa dessas necessita.

RCI: Para encerrar. Neste ano, o clube completou 69 anos. O que você espera da Ferroviária em 2020 com 70 anos de idade?
RB: Eu espero que a Ferroviária continue neste caminho que vem sendo construído, de forma sólida e seguro. Sabemos que os desafios são imensos, vamos entrar novamente no Paulistão que será ainda mais difícil. Teremos que gastar muito para fazer uma nova boa campanha, mas a gente espera que o clube continue se fortalecendo, crescendo no futebol e que as pessoas vejam na Ferroviária uma referência de boa gestão, organização e que os nossos torcedores se sintam orgulhosos. O principal objetivo nosso é que o torcedor sinta o dia a dia das pessoas que trabalham aqui, dos jogadores que vestem essa camisa. Se tivermos cumprindo isso, todo o resto é consequência. E queremos subir logo para a Série C, forçar uma Série B e, quem sabe, nos próximos cinco, seis anos, estar em um nível nacional para trazer ainda mais pessoas para o nosso campo.

Crédito das fotos: Reprodução / Facebook / Arquivo pessoal – Thiago Carvalho – Jonatan Dutra / Ferroviária S/A