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Após a “escuridão”, Nicoly se emociona em retorno à Ferroviária: “Foi muito especial voltar deste jeito”

Mais de um ano depois, volante supera lesão e volta a defender as Guerreiras Grenás na vitória diante do Santos

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Volante Nicoly vibra com retorno aos gramados após um ano parada por conta de lesão - Crédito: Tiago Pavini/Ferroviária SA

“Quando a gente marca a cirurgia, o dia fica marcado. O dia que se lesiona, fica marcado, mas eu prefiro ficar com o dia do retorno”. 13 meses e quatro dias depois, o 29 de maio de 2022 ficou marcado na vida da volante Nicoly, da Ferroviária.

Afastada dos gramados desde o dia 25 de abril do ano passado por conta de uma lesão no ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho esquerdo na partida contra o Real Brasília, pela terceira rodada do Brasileiro Feminino, a jogadora de 24 anos retornou aos gramados na noite deste domingo e ajudou as Guerreiras Grenás a se reencontrarem com a vitória diante dos Santos depois de quatro jogos sem vencer na competição.

O retorno esteve próximo de acontecer na partida contra o Grêmio, quando foi relacionada e ficou no banco de reservas, mas não entrou no decorrer da partida que culminou com a derrota grená no Sul do país.

Em coletiva realizada na Fonte Luminosa pós-jogo, a atleta não segurou a emoção e fez um longo discurso, relatando os momentos vividos durante todo o período de ausência no elenco. Além dos tratamentos depois da cirurgia, aproveitou o tempo para estudar mais sobre o futebol e depois matou as saudades de estar no convívio diário com suas companheiras.

“A família sempre querendo saber como você está e falar que eu estou bem para não transparecer tanto [a dor]. No dia que eu lesionei, eu chorei, a minha mãe chorou, meu pai chorou, minha irmã chorou, a minha vó sentiu muito. Eu não estava em um momento legal. A minha família sentiu, o time sentiu, pois as meninas viajavam e falavam que eu estava fazendo falta, ‘precisava de você dentro do campo’, mas foi um momento de eu me retirar e ajudar de outras formas, conversando muito com elas e assistindo muitos jogos. O que eu aprendi analisando, de sistema e formas, para eu melhorar também. Eu tenho uma frase séria, mas que eu sempre levo para o lado positivo. A escuridão aguça alguns sentidos nossos. Uma pessoa que não enxerga, ela vai sentir diferente. Eu passei por este momento de escuridão. Eu já tinha essa vontade, essa raça, agora então… A cada dia de treino, as meninas falavam do sol, mas eu falava ‘que sol maravilhoso’. De estar lá, treinando, estar conversando, de estar onde eu queria estar. Além da felicidade de ter o contato com a bola, é de também estar no dia a dia. Eu me vejo hoje vivendo cada momento. Eu não penso no próximo jogo, eu penso no próximo treino. Cada dia é assim. Ficar mais de um ano fora você valoriza a cada treino e os momentos com elas”, declarou a jogadora.

Ela viveu a emoção de entrar aos 35 minutos do segundo tempo, no lugar de Luana, que esboçou um grande sorriso ao dar espaço para o seu retorno, ainda mais em casa, sob aplausos dos torcedores presentes na Fonte.

Atuando por cerca de 14 minutos em campo, a araraquarense trouxe neste pouco tempo a responsabilidade de ser uma das lideranças de dentro do grupo, trazendo um elo que estava esquecido, da vibração de todo o grupo a cada lance disputado e recuperando a confiança em poder jogar futebol novamente.

Nicoly comemora com o banco de reservas o gol marcado por Laryh na vitória da Ferroviária sobre o Santos – Crédito: Tiago Pavini/Ferroviária SA

“Lesão não é legal e ninguém quer passar por isso. Fiquei um tempo pouquinho maior que o estipulado por conta de complicações. Então, imagina a minha vontade de voltar. Foram dias difíceis, mas estamos expostos a isso. Agora, passou. Eu fico muito feliz de ter voltado e de termos vencido o jogo. O mais importante que a minha estreia foi voltar a ganhar. Estávamos passando por um processo bem complicado. O pessoal falava que a gente precisava recuperar esta alma, este espírito de doação e que a gente viu hoje. Um jogo que teve muita entrega. O que foi combinado é que, independente de quem estivesse lá dentro do campo, independente de qualquer coisa, Se precisar dar carrinho, ia dar carrinho. Tirei uma bola de carrinho e falei ‘Estou bem! Tô dentro!’. Foi um alívio e foi muito bom. Me preparei muito para no que fosse necessário para ajudar a equipe, eu estivesse bem. Estava louca para voltar. Em janeiro, estava voltando um pouquinho com o time, demorou um tempo para ser liberada, mas coloquei em mente que se for para voltar, que seja para ajudar, não apenas para fazer número. Se for para voltar, é para deixar o time mais forte e foi o que a gente tentou fazer. Quem estava no banco, era passar energia positiva. Toda a bola que a gente for tirar, a gente grita. Então, foi isso. O esporte é coletivo, mas às vezes a gente deixa um banco de um lado e quem tá jogando do outro. Então, eu vi que estávamos em uma sintonia só, todo mundo vibrando, querendo, torcida junto. Foi muito especial voltar deste jeito”, enfatizou.

Agora, Nicoly e as Guerreiras Grenás começam a se preparar para o duelo diante do Avaí/Kindermann, que acontecerá no próximo domingo (5/6), às 15h, no estádio Salézio Kindermann, em Caçador/SC.