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Retrospectiva Grená 2021: Em meio ao caos, o impossível se tornou real

Na segunda parte da Retrospectiva, o Portal RCIA Araraquara reconta o segundo título histórico conquistado pela Ferroviária na Libertadores Feminina, em meio as incertezas que a pandemia nos reservou com um lockdown severo

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Crédito: Divulgação/Conmebol

A pandemia do coronavírus se agravou e fez a CONMEBOL adiar a Libertadores Feminina de 2020, competição que aconteceria no Chile. A entidade achou, como solução, transferir a competição para 2021 e ainda com a troca de sede, passando para a Argentina a responsabilidade de realizar o torneio.

Campeão do Brasileiro Feminino de 2019, a Ferroviária tinha vaga garantida, ao lado de Corinthians e também do Avaí/Kindermann, herdando vaga por ter ficado em terceiro lugar, já que o Timão havia vencido a Libertadores de 2019.

As Guerreiras Grenás vinham com uma nova treinadora. Tatiele Silveira não teve seu vínculo renovado com o clube e deu espaço para Lindsay Camila, que estava de auxiliar-técnica da Seleção Brasileira Feminina Sub-17.

Na única preparação feita pela equipe em pouco menos de um mês de trabalho, um jogo-treino diante do São Paulo e derrota por 4 a 1.

Fora do campo, também houve momentos de tensão pouco antes da participação do torneio continental. Na lista de atletas divulgada pelo clube, a zagueira Andreia Rosa, uma das mais identificadas com a camisa grená, ficou de fora da disputa e também deixou a equipe, rumando para o Grêmio.

Com embarque para Buenos Aires programado, a delegação grená seguiu viagem com a esperança de fazer uma grande competição.

Na primeira fase, as Guerreiras Grenás ficaram no Grupo D, com Universidade de Chile, Libertad-Limpeño-PAR e Peñarol-URU.

O primeiro duelo foi diante das paraguaias e com uma derrota acachapante por 4 a 0, resultado que fez todos duvidarem sobre o desempenho da equipe na competição.

Com pouco tempo para juntar os cacos, foi a vez de enfrentar as uruguaias do Peñarol: empate por 1 a 1, com direito a pênalti desperdiçado por Aline Milene, o que complicou ainda mais a busca por uma das vagas às quartas de final.

Restou então jogar todas fichas diante do último adversário, a líder e classificada Universidad de Chile. A missão era fazer gols e torcer para o Libertad-Limpeño não vencer o Peñarol, também pela última rodada.

Em um jogo emocionante, a Ferrinha conseguiu a vitória por 4 a 1 e  igualou no saldo de gols com as paraguaias e garantiu a classificação pelo número de gols marcados.

O Libertad havia perdido de goleada para a La U por 5 a 0, na segunda rodada, e empatou por 0 a 0 com o Peñarol. Por isso, o escrete grená conseguiu a classificação pelos gols marcados – cinco contra quatro.

Após o jogo, as jogadoras afeanas desabaram em um choro de tamanha emoção que jamais será esquecido. Isso fez a equipe se unir cada vez mais e o crescimento foi eminente dentro da competição.

Na fase quartas de final, o adversário foi o River Plate. Em um jogo bastante duro, o time araraquarense conseguiu a vitória magra por 1 a 0, mas garantiu vaga para mais uma semifinal de Libertadores. O duelo seria um novo encontro diante da Universidad de Chile.

Diferente do confronto da fase de grupos, a partida foi mais disputada e ambas as equipes criaram chances para marcar. As chilenas tiveram uma penalidade a seu favor aos 42 minutos, mas Lopez chutou para fora. mas

O empate sem gols persistiu até o apito final e a decisão se encaminhou para as penalidades. Aí, brilhou a estrela de Luciana, que conseguiu defender três cobranças e ajudou a garantir a Ferroviária em sua terceira final de Libertadores na história.

Na decisão, o adversário foi o América de Cali-COL, que também vinha de triunfo diante do Corinthians na penalidades e tinha como destaque a sua camisa 10, Catalina Usme, uma das grandes jogadoras da América do Sul.

Com a bola rolando, Sochor abriu o placar logo no começo com ajuda da goleira Tapia que não pegou uma bola defensável. Mais da metade do primeiro tempo, as colombianas tiveram um pênalti a seu favor, convertido por Usme.

Porém, a vantagem grená também veio em penalidade sofrida em Lurdinha. Na bola, Aline Milene desta vez conseguiu converter e as Guerreiras saíram com a vantagem para o intervalo.

Na segunda etapa, o América cresceu no jogo e esteve próximo do gol em três oportunidades, mas trave e travessão impediram. Luciana também foi decisiva e fez grandes defesas.

Quando o apito final veio e o placar apontou 2 a 1, a alegria estava feita em Buenos Aires e a Ferroviária conseguiu o segundo título continental, com muita superação,  imprevisibilidade, mas com o seu jeito “sofrido de ser”.

Outro aspecto emocional, só que envolvendo Araraquara, é que a cidade se encontrava em lockdown devido ao agravamento da covid-19. Com o futebol paralisado também por conta da pandemia, os olhos do Brasil se voltaram para a disputa do futebol feminino em outro país e conseguiu trazer um pouco de alegria em meio ao caos vivido por aqui.

Luciana foi uma das grandes personagens da Ferroviária na conquista do bicampeonato da Libertadores Feminina – Crédito: Divulgação/Conmebol

NA LIBERTADORES DE 2021, UM HONROSO TERCEIRO LUGAR

Na defesa do título, a Ferroviária rumou para o Paraguai, sede do torneio da edição 2021, e ficou no Grupo A, com Sol de América-PAR, Deportivo Cuenca-VEN e Independiente Santa-Fe-COL, considerado por muitos como o “grupo da morte”.

Diferente da edição anterior, a equipe faz uma campanha segura  e conseguiu passar na primeira colocação da chave com sete pontos, mesma pontuação do Santa Fe, que ficou em segundo por conta do saldo de gols.

Nas quartas de final, a Ferrinha encarou o Cerro Porteño-PAR, que contou com o apoio da torcida local. Mesmo assim, a equipe eliminou as paraguaias ao vencerem por 3 a 0.

Já na semifinal, um novo encontro contra o Santa Fe. Na fase de grupos, as equipes ficaram no 0 a 0. No mata, a história foi diferente e com um final ruim para os lados grenás.

Depois de buscarem o empate por 1 a 1, o time araraquarense sucumbiu nas penalidades e perde por 4 a 2, dando adeus ao sonho do tricampeonato continental.

Restou, então, a disputa pelo terceiro lugar da competição, o que rendia uma premiação de US$ 30 mil. O adversário seria o Nacional-URU, que foi goleado pelo Corinthians por 8 a 0 pela outra semifinal.

Durante aquela partida, Adriana, atacante da equipe alvinegra, acabou sendo vítima de racismo por uma atleta uruguaia, que não foi identificada até hoje pela CONMEBOL e também não houve manifesto por parte do Nacional.

Em partida muito disputada, o Nacional conseguiu abrir 1 a 0 na primeira etapa, mas na metade do segundo tempo, Rafa Mineira marcou o gol de empate para as Guerreiras e a decisão se encaminhou para as penalidades.

O roteiro não poderia ter sido melhor. A goleira Luciana defendeu três penalidades e o time araraquarense conquistou o honroso terceiro lugar ao vencer a disputa por 3 a 1.

NO BRASILEIRO E PAULISTA, ENTRE AS QUATRO MELHORES

As campanhas feitas no Brasileiro e Paulista consolidaram o trabalho grená e figurou a equipe entre as melhores do país mais uma vez.

No Brasileiro, as Guerreiras terminaram na fase de classificação na quinta colocação, obtendo 27 pontos, com oito vitórias, três empates e quatro derrotas nos 15 jogos disputados, marcando 21 gols e sofrendo 15, tendo um aproveitamento de 60%.

O adversário nas quartas de final foi o Santos. No primeiro duelo, na Fonte Luminosa, a Ferrinha levou a melhor e venceu, de virada, por 3 a 2. O destaque acabou sendo o gol marcado pela atacante Aline Gomes, oriunda das categorias de base do clube e de apenas 16 anos, sendo a mais jovem a marcar com a camisa grená em uma edição de Brasileiro.

Na partida da volta, em jogo muito disputado e cercado por polêmicas envolvendo a arbitragem, a Ferrinha arrancou empate em 2 a 2, na Vila Belmiro, e ficou com a vaga em mais uma semifinal.

O adversário acabou sendo o Corinthians e foi derrotada nos dois jogos, por 3 a 1, em Araraquara e Barueri, terminando na terceira colocação. Isso lhe garantiu a classificação para a próxima Libertadores Feminina, já que o Timão acabou vencendo o torneio continental e abriu mais uma vaga para o Brasil.

Já na disputa do estadual, as Guerreiras Grenás conseguiram a classificação às semifinais com uma rodada de antecedência, deixando o Palmeiras de fora do mata-mata. Se classificaram na quarta colocação e mais uma vez teria o Corinthians pelo meio do caminho.

Com Roberta Batista no comando após saída de Lindsay Camila, a equipe acabou surpreendo o time corintiano com uma postura diferente, jogando no 5-3-2, dificultando o jogo do adversário.

Mesmo assim, o time alvinegro saiu vencedor com o placar de 1 a 0. Na volta, mais uma vez em Barueri, o Corinthians conseguiu impor o seu jogo e goleou a equipe grená por 4 a 1, dando adeus à competição.

LADIES CUP ENCERROU A TEMPORADA

Em uma participação discreta, a Ferroviária praticamente “cumpriu o protocolo” e deu adeus a competição sem vencer um jogo e marcar um gol sequer.

O time ficou no Grupo B, com São Paulo, Internacional e América de Cali-COL. Derrotas para as Soberanas e Gurias Coloradas, e empate sem gols diante das colombianas, terminando na sétima colocação.