Home Geral

Encontro promove a troca de saberes com aldeia indígena

412
Indio 40

Visita da aldeia Nimuendajú contou com apresentações culturais e roda de conversa

Indio 40Evento sobre a educação, a arte e a cultura dos povos indígenas em nossa cidade

O I Encontro de Educação, Arte e Cultura: Diálogos sobre Educação e Arte Indígena, promovido pelo coletivo Natureza Viva e Poitara, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, a Unesp e a Fundação Araporã, foi realizado na quarta-feira (31) em Araraquara.

Com objetivo de aprofundar a discussão para gestores da Educação e educadores sobre a cultura indígena, parte integrante da formação brasileira, o encontro contou com a presença de integrantes da aldeia Nimuendajú, ocupada por famílias do povo Guarani Nandeva, localizada no município de Avaí-SP.

Durante a parte da manhã houve apresentações culturais da aldeia na EMEF Olga Ferreira Campos (Jardim Universal), com a presença de alunos da rede municipal de ensino e também a apresentação cultural de alunos do CAIC Ricardo Caramuru de Castro Monteiro, do Vale do Sol. A programação da tarde contou com uma roda de conversa no Espaço Poitara, com a presença de 50 educadores e coordenadores da rede municipal, com mediação do professor de Antropologia da Unesp Edmundo Peggion. Na sequência houve outra apresentação da aldeia Nimuendajú para os educadores e os membros do CEIMAN e da Fundação Araporã, e com apresentação da Cia. Gira o Sol (Coletivo Poitara) com o tema: Integração entre Culturas.

Uma das idealizadoras do encontro, Denise Haddad, integrante do coletivo Poitara, destacou que a ideia do encontro surgiu da vontade de dar visibilidade a comunidades indígenas que estão próximas a nossa região. “Nossa intenção foi fazer com que as crianças tivessem esse contato com essa tradição que é nossa cultura original e fazer um trabalho formativo com os educadores, onde a gente pode compreender como é o processo deles e integrar isso a nossa cultura”, afirma. Segundo ela, essa integração traz união e valoriza esse contexto.

O professor coordenador da escola indígena, Tiago de Oliveira, explicou que a comunidade busca manter sua cultura por meio do estudo da linguística, das ervas medicinais, comidas tradicionais e através das vivências como caça e pesca. “São formas de valorizar a cultura Guarani e manter viva a memória dos nossos ancestrais”, relata. Para ele, esse encontro foi uma oportunidade de apresentar a cultura indígena da sua etnia para a cidade. “Através dos cânticos e também da dança tradicional, nós levamos esse conhecimento para aquelas pessoas, os alunos, professores, que ainda não tinham tido a oportunidade de conhecer uma comunidade indígena.”

De acordo com a vice-diretora da escola indígena, Cleires da Silva Nunes, a aldeia busca nos membros mais velhos da comunidade a manutenção da sua cultura. “E também através da nossa gramática, que a gente lançou recentemente em 2015. Então nossa cultura vem se fortalecendo dentro da escola e dentro das casas com os pais, através de histórias, roda de conversa e pesquisa com os mais velhos.”

Como diferença para nosso sistema de ensino, ela aponta as aulas ao ar livre e em contato com a natureza. “Em termos de conteúdo, nós seguimos o que é passado pelo Governo do Estado, mas sempre buscamos colocar a nossa parte cultural dentro desse conteúdo para manter a nossa cultura viva”, afirma.

Para a vice-diretora, encontros como esses são importantes no combate ao preconceito contra comunidades indígenas. “Passar o conhecimento da minha cultura ajuda o povo a conhecê-la e respeitá-la, para a gente não sofrer discriminação e nem preconceito.”

Já a coordenadora pedagógica da EMEF Olga Ferreira Campos, Daiane Segura, acredita que essa troca enriquece o currículo dos professores e promove o contato dos alunos com a cultura indígena. “Vivenciar as músicas e danças, que muitas vezes os alunos só têm contato nos livros, traz essa questão para o cotidiano deles e valoriza a cultura indígena que é tão importante para o nosso País”.

RODA DE CONVERSA

O professor de Antropologia da Unesp Edmundo Peggion, que fez a mediação da roda de conversa, destacou que encontros como este mostram a realidade dessas sociedades indígenas de hoje. “É uma realidade de luta, de reivindicação e, principalmente, em torno de questões relacionadas aos direitos indígenas”.

Ele reforçou que as políticas públicas específicas da área tem uma função essencial dentro deste contexto. “Eles tem direito na constituição a regularização fundiária, ou seja, a demarcação de seus territórios, eles tem direito a saúde, educação e uma série de outras questões que são as políticas públicas que devem se voltar aos povos indígenas.”

Ainda segundo o professor, a lei n° 11.645 coloca como obrigatório o ensino de questões indígenas e afro-brasileiras nas escolas, e encontros como esses são de extrema relevância diante da falta de material sobre os assuntos. “Trazer a comunidade aqui para dialogar com os professores e com os estudantes é fundamental, pois está numa relação direta com a legislação pública. E também é uma forma da gente conhecer um pouco mais sobre a questão indígena, tão distante, muitas vezes, da nossa realidade.”

Para a professora coordenadora da Educação Integral, Rosângela Gonçalves, que participou da roda de conversa, os indígenas são pessoas extremamente amorosas e preocupadas com a manutenção das suas tradições. “Essa preocupação que a comunidade tem entre o equilíbrio do que eles aprendem e o acesso que eles têm à cultura, à tecnologia, a estar envolvidos com as coisas da comunidade, pesca, jogos, brincadeiras, isso é muito importante. É dessa forma que a gente se preserva e se mantém enquanto pessoas”, avalia.