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Trump descumpre acordo com Bolsonaro e retira apoio ao Brasil na OCDE

EUA confirmam respaldo ao acesso da Argentina e da Romênia e tentam bloquear o processo de ampliação do organismo econômico

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Jair Bolsonaro presenteia Donald Trump com uma camisa da Seleção Brasileira, durante encontro na Casa Branca, em Washington

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, informou o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), José Ángel Gurría, que os Estados Unidos apoiarão apenas o ingresso da Argentina e da Romênia na instituição, o que significa a retirada de seu respaldo ao acesso do Brasil. A agência de notícias Bloomberg obteve a carta de Pompeu, enviada em 28 de agosto.

A decisão contradiz o anuncio público de apoio do presidente americano, Donald Trump, ao acesso do Brasil na OCDE durante a visita de Jair Bolsonaro a Washington, em março deste ano. O respaldo dos Estados Unidos fora endossado pelo secretário de Comércio, Wilbur Ross, durante uma visita em São Paulo.

O apoio americano ao acesso do Brasil na OCDE foi um dos principais resultados da visita do presidente Jair Bolsonaro a Donald Trump, em Washington, em março passado, e selou o alinhamento da política externa brasileira à dos Estados Unidos. A medida teve como contrapartida o consentimento do governo brasileiro à sua retirada voluntária do sistema de preferências para economias em desenvolvimento da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Os Estados Unidos continuam a preferir a ampliação a um ritmo mais lento levando em consideração a necessidade de pressionar pelo planejamento de governança e sucessão”, afirmou Pompeu na carta.

Quase ao mesmo tempo em que a reportagem da Bloomberg ia para o ar nesta quinta-feira, 10, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, demonstrou desinformação ao afirmar que “estamos prontos para integrar na OCDE. Nós e o setor privado acreditamos que isso será chave para o desenvolvimento do Brasil”, durante o chanceler pela manhã no Fórum de Investimentos Brasil 2019, em São Paulo.

O apoio dos Estados Unidos era considerado tão sólido pelo governo brasileiro que, em 1º de outubro, o deputado Eduardo Bolsonaro, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, postou no Twitter mensagem sobre a criação do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-OCDE, do qual tornou-se vice-presidente.

Um funcionário do alto escalão do governo americano disse à Bloomberg que os Estados Unidos apoiam a ampliação do bloco e um eventual convite para o Brasil. Porém, seu país está focado no ingresso da Argentina e da Romênia, devido aos “esforços de reforma econômica e o compromisso com o livre mercado”.

A decisão americana pode ter surpreendido a cúpula Itamaraty, mas alguns de seus segmentos jamais confiaram no apoio real dos Estados Unidos ao acesso do Brasil à OCDE neste momento. Em dezembro do ano passado, Washington já havia endossado o ingresso da Argentina – mesmo mergulhada em grave crise econômica – e da Romênia. Mas se contrapunha ao acesso dos demais países respaldados pela União Europeia – Bulgária e Croácia.

Para cumprir seu compromisso com Bolsonaro, Trump teria de ceder aos europeus. Outro país desconsiderado neste momento por Washington foi o Peru, ao qual a Casa Branca também prometera seu apoio. Segundo uma fonte do Ministério da Economia,  a rigor, os Estados Unidos não rejeitaram o Brasil, mas decidiram manter o processo de ampliação da OCDE bloqueado. “Na prática, tudo está parado”, afirmou.

Há anos, o Brasil faz parte oficialmente de 30 dos cerca de 300 comitês e grupos da OCDE. Atua como convidado em outros órgãos da instituição, como convidado. Desde que o governo brasileiro retomou sua intenção de ingressar na OCDE como membro, durante a gestão de Michel Temer, o Brasil enviou a Paris um representante exclusivamente para tratar desse tema, o embaixador Carlos Márcio Cozendey.