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Criação da Semana de Direitos Humanos ‘Luiza Augusta Garlippe’ é aprovada na Câmara 

Iniciativa, da vereadora Fabi Virgílio (PT) e do vereador Guilherme Bianco (PCdoB), faz homenagem a araraquarense morta durante a ditadura militar 

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A araraquarense Tuta Garlippe era militante crítica contra a ditadura militar no Brasil (1964-1985)

Projeto de lei aprovado pela Câmara institui e inclui no calendário de eventos do município a Semana Municipal de Direitos Humanos “Luiza Augusta Garlippe, a Tuta”. A iniciativa é da vereadora Fabi Virgílio (PT) e do vereador Guilherme Bianco (PCdoB). O texto, agora, irá para sanção do prefeito Edinho Silva (PT).

A semana municipal, a ser comemorada anualmente na segunda semana de dezembro, tem como objetivo promover, difundir e fomentar os direitos humanos. A data pode ser celebrada com reuniões, palestras, seminários, eventos e diversas ações educacionais, culturais e inter-religiosas.

Durante a Sessão Ordinária da última terça-feira (16), quando a proposta foi aprovada, a Tribuna Popular foi utilizada por Luiz Armando Garlippe, sobrinho da homenageada e gerente de Reabilitação na Secretaria Municipal de Saúde. Ele falou sobre o histórico de Tuta e fez a defesa do projeto.

A araraquarense Tuta Garlippe era militante crítica contra a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Segundo a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, ela foi perseguida pelo regime e passou a viver na região do Rio Gameleira, próximo ao Rio Araguaia (fronteira entre Pará, Maranhão e o atual estado do Tocantins).

Tuta foi vista viva pela última vez em 25 de dezembro de 1973. Investigações posteriores registraram que a araraquarense foi morta em junho de 1974, aos 32 anos de idade, no episódio conhecido como Guerrilha do Araguaia.

“O que justifica matar uma enfermeira que fazia um trabalho tão importante para aquela população? O quão violenta ela era? Em nada, ela era violenta. A semana de direitos humanos premia e dá o nome de uma filha de Araraquara que foi a última, junto com a companheira Dina, a cair naquela guerrilha em 1974. Em nome da minha família, eu agradeço”, afirmou o sobrinho de Tuta.

Fabi Virgílio destacou que 10 de dezembro é a data em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nesta data, em 1948, foi proclamada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

“São os Direitos Humanos que nos protegem da barbárie do passado para a evolução dos direitos de existência. Falar de Direitos Humanos é garantir que o assombroso passado de injustiças não volte a sucumbir a humanidade. Falar de Direitos Humanos é falar de liberdade, do princípio da indivisibilidade, princípio da interdependência e da inalienabilidade. E poder homenagear Luiza Augusta Garlippe, a Tuta, é poder enaltecer o avanço dos Direitos Humanos, honrar sua história e reafirmar nosso pacto civilizatório”, disse a vereadora.

Guilherme Bianco também enalteceu a militância de Tuta. “Nós, que acreditamos no mundo democrático, sem fome e justo, que acordamos todos os dias na disposição de transformar a nossa realidade, temos como referências pessoas como a Tuta, que deram seus últimos suspiros em defesa daqueles que acreditavam, daqueles que lutavam”, afirmou o parlamentar.

HOMENAGEADA

Luiza Augusta Garlippe estudou até o fim do curso científico em Araraquara e mudou-se para São Paulo para cursar enfermagem na Universidade de São Paulo (USP), formando-se em 1964. Em seguida, passou a trabalhar no Hospital das Clínicas, chegando a enfermeira-chefe do Departamento de Doenças Tropicais, assunto em que se especializou. Participava da Associação dos Funcionários do Hospital das Clínicas, distribuía panfletos e organizava seus colegas de trabalho.

Tuta se destacou na luta pela democracia. Com sua militância crítica contra a ditadura, ela se juntou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Ela começou a ser perseguida pelo regime e, na iminência de ser capturada, foi obrigada a sair do estado de São Paulo para a região norte do Brasil.

Com seu companheiro, Pedro Alexandrino (desaparecido em 4 de agosto de

1974), foi viver na região do Araguaia, onde desenvolveu intenso trabalho relacionado à saúde, destacando-se como parteira.

Um relatório do Ministério do Exército, de 1993, afirma que Tuta era “[…] considerada desaparecida desde 5/74”. Outro relatório, do Ministério da Marinha, diz que teria sido “[…] morta em junho/74”.

Em entrevista dada à Revista Playboy de dezembro de 2006, o tenente-coronel

Sebastião Rodrigues de Moura, o major Curió, afirmou ter assassinado as guerrilheiras Dinalva Teixeira e Luiza Augusta Garlippe.

Já em depoimento feito no livro “Mata! O Major Curió e as Guerrilhas no Araguaia”, do jornalista Leonencio Nossa, o oficial oferece outra versão, afirmando que as entregou vivas ao chefe do Centro de Triagem e Informações, o tenente-coronel Léo Frederico Cinelli.

Outra possibilidade para o modo de como a araraquarense foi morta pode ser obtida no documentário de Belisário França, “Soldados do Araguaia”, por meio dos relatos dos sentinelas que faziam a vigia do local onde estavam aprisionadas Tuta e “Dina”. Os soldados descreveram que os militares costumavam levar os prisioneiros e prisioneiras em “viagens” de helicóptero e, em seguida, voltavam sem os “passageiros”. Os próprios soldados, apesar de não terem presenciado o ato, relatam que provavelmente os prisioneiros eram jogados do helicóptero na selva.

Em 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o Brasil pela desaparição de 62 pessoas na região do Araguaia. Dentre elas, está Tuta Garlippe.

Mais informações sobre Tuta Garlippe podem ser encontradas no site da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo.