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Enfrentamento à Covid-19 foi tema de Audiência Pública

O debate foi convocado pela vereadora Thainara Faria (PT) e aconteceu na noite desta quinta

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Araraquara já registrou mais de 12.800 confirmações de Covid-19 e mais de 160 mortes em decorrência da doença. Nos últimos dias, com o aumento considerável da taxa de ocupação dos leitos, as medidas de restrição foram intensificadas na cidade. Para entender quais são os principais desafios nas próximas semanas, a vice-presidenta da Câmara, a vereadora, Thainara Faria (PT), por meio do Requerimento nº  136/2021, convocou a Audiência Pública: “Ato pela vida – os poderes e a sociedade no combate ao COVID-19”.

O debate foi realizado durante a noite da quinta-feira (18), no Plenário da Câmara Municipal. Além da vereadora, participaram: o defensor público, Marcos Henrique Caetano do Nascimento; o diretor técnico do Hospital de Campanha Municipal, Ademir Sala; o Secretário de Cooperação dos Assuntos de Segurança Pública, João Alberto Nogueira Júnior; o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Haroldo Campos; a diretora  da Fundação Municipal Irene Siqueira Alves – FunGota, Lúcia Ortiz, e, representando a Secretaria Municipal de Saúde, Fabiana do Carmo Araújo. A chefe da pasta, Eliana Honain, não pôde comparecer, já que foi diagnosticada com Covid-19.

De acordo com Fabiana, nos primeiros 49 dias de 2021, o número de casos chegou a 73% do registrado durante os 365 dias de 2020, e o número de óbitos, somente nesse período, equivale a 50% do ano passado. Por outro lado, a taxa de ocupação de leitos é de 100%, ainda que, de acordo com ela, a Prefeitura esteja seguidamente fazendo a ampliação em seu número.

Nesse sentido, ela reforça a necessidade da população aderir ao “combo” das medidas protetivas, tanto individuais quanto coletivas. “O mundo tem nos mostrado que é necessário aumentar a assistência e diminuir a transmissão. O contato pessoa a pessoa é muito relevante na transmissão e, por isso, fazemos o apelo para que as pessoas só saiam para o essencial”. Pensamento semelhante foi compartilhado pelo diretor do Hospital de Campanha: “Nesse momento a gente precisa mais do que nunca que se faça a educação para o controle da doença. Se a gente não fizer, pode ser que não consigamos abraçar todos que precisam da assistência”, frisou Sala.

Sistema de saúde em colapso

Os dados da FunGota, responsável por gerenciar as unidades de atendimento à população, reiteram a gravidade do momento. Segundo Lúcia Ortiz, durante os meses de julho e agosto do ano passado – momento no qual os gestores acreditavam ser o pico da pandemia – o número de atendimentos diários na UPA da Vila Xavier (unidade referência de atendimento para os casos de Covid-19) era em torno de 267, nos últimos dias a média atingiu a marca dos 400. E o número apenas não foi maior porque mais seis unidades de saúde da cidade ampliaram o horário de funcionamento para receber a alta demanda para triagem dos casos com síndrome gripal, uma das suspeitas de infecção pela doença.

Além da garantia dos recursos materiais, como equipamentos, oxigênio, máscaras, luvas, o grande desafio do momento é o recurso humano. A sobrecarga de trabalho ao longo de um ano, bem como a necessidade de especialização para a atuação em unidades de terapia intensiva limitam a oferta de profissionais de saúde para atuar na linha de frente. Por isso, há uma preocupação da FunGota com a saúde mental, emocional e física dos trabalhadores da saúde, que podem contar com o acompanhamento psicológico na própria rede. “É muito sofrido para a equipe ver os pacientes se acumulando. A gente precisa que vocês nos ajudem. E a forma de ajudar é ficando em casa, interrompendo a transmissão. A rede não é elástica, ela tem um limite”, destacou Lúcia.

O presidente do Conselho Municipal de Saúde ainda alerta para as complicações severas advindas de um estrangulamento do sistema de saúde. “Se você precisar de uma internação por qualquer coisa que não seja o coronavírus, pode não conseguir também”. Ou seja, até mesmo os jovens que, em grande parte dos casos, são assintomáticos, ficam prejudicados com o colapso do sistema de saúde.

Fiscalização

Quando o assunto é obediência às restrições estabelecidas no Decreto nº 12.485, instituído no último dia 12, o líder da pasta de segurança lamenta que ainda existam muitas pessoas que estejam descumprindo a lei na cidade. Nogueira lembra que o momento é de preservação de vidas, e exige consciência, compaixão e não somente o receio de ser multado. “Peço que as pessoas cumpram o decreto, não porque é lei, mas sim por amor, respeito e cuidado com o próximo.” Ele ainda reforça que “os profissionais de segurança também estão estafados” e que são comuns os casos em que é necessário prender os infratores e levá-los para a delegacia de polícia. “Isso é um absurdo!”, desabafa.

Liberdade de ir e vir?

Durante as restrições mais severas, é muito comum que a população questione as regras, sob a justificativa de que é constitucional o direito de ir e vir para todos os brasileiros. Contudo, o secretário de segurança esclarece que existem mecanismos legais que permitem o município fazer restrições individuais, em nome de um objetivo coletivo: a saúde pública. Aliás, a necessidade de um pensamento coletivo para combater uma doença comunitária foi reforçada por todos os participantes da audiência. Thainara relembrou a importância da não normalização do absurdo. “Normalizamos a morte, estamos nos acostumando. O Brasil perde mais de 1000 pessoas por dia e as pessoas continuam a se aglomerar. Nós não somos invencíveis, nós não somos imortais, mas mesmo que fôssemos, ainda podemos transmitir a doença para outras pessoas”, frisou.

Vulnerabilidade social

O cuidado com as pessoas em situação de vulnerabilidade social também foi abordado. Segundo o defensor público, a crise sanitária potencializou problemas sociais, como o alcoolismo, a pobreza, a violência contra a mulher e, também, problemas de saúde mental. “Nós sabemos que esses problemas continuam, mas, muitas vezes, não chegam à Defensoria Pública, devido ao atendimento virtual. Entendemos que não é possível funcionar presencialmente agora, mas é preciso desenvolver um atendimento mais humanizado, para abarcar não apenas as questões jurídicas. Precisamos reforçar a cobrança social pela vacinação em massa, o combate às fake news e os canais de denúncias” destacou o defensor público.

Ao final do debate, o público pôde fazer perguntas sobre o tema em discussão. A participação foi feita de forma virtual pelos canais da TV Câmara, devido às medidas de combate à Covid-19.