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Fogos de artifício: O horror de cães, gatos e pássaros

O assunto é antigo, mas mesmo assim, todo ano é preciso lembrar. Soltar fogos de artifício pode até ser bonito e divertido, porém ele prejudica – e muito – tanto os animais domésticos, quanto os silvestres, que muitas vezes nem lembramos que estão na nossa volta

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Confira o que diz a Especialista em Gestão Ambiental, Mestre em Farmacologia Aplicada à Produção Animal de Animais de Grande Porte e Bióloga, Roberta Trois, na entrevista que deu para a Bruna Lopes, onde explicou os principais danos causados pelos ruídos.

– Os pássaros, inclusive, podem abandonar o lugar onde vivem – alertou.

Natal e, principalmente, o Ano Novo, são os períodos onde mais cães e gatos fogem, são atropelados ou até se enforcam em correntes pelo horror aos fogos.

Seguinte: – Quais os principais danos que os fogos podem causar aos animais silvestres?

Roberta – O uso de fogos de artifício é um costume tradicional em muitos países e, desde o final do século XIV, há relatos da sua utilização para diversos fins. Apesar de ser apreciada pelos seres humanos, esta prática pode causar danos irreversíveis para os animais, principalmente devido aos distúrbios causados por ruídos altos que são produzidos pelos fogos. No Brasil, considerado o segundo maior produtor mundial de fogos de artifício, perdendo apenas para a China, o Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105) classifica-os em quatro categorias (A, B, C e D), de acordo com a quantidade de pólvora, que reflete no nível do estampido. Somente o tipo A não produz estampido e, provavelmente por este motivo, não seja tão popular entre os consumidores. Os estímulos associados ao medo desencadeiam respostas fisiológicas de estresse agudo por meio da ativação do sistema neuroendócrino, que resulta em uma resposta de luta ou fuga, observada por meio do aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição periférica, dilatação da pupila, piloereção e alterações no metabolismo da glicose. O animal, movido pelo medo, procura se afastar do estímulo estressor, tentando se esconder dentro ou embaixo de móveis ou espaços restritos; pode tentar fugir pela janela, cavar buracos, tornar-se agressivo; apresentar salivação excessiva, respiração ofegante, diarreia temporária; urinar ou defecar involuntariamente; as aves podem abandonar seu ninho em revoada. Há também possibilidade de ocorrer acidentes durante a tentativa de fuga, tais como atropelamentos, quedas, colisões ou o desaparecimento do animal, que pode percorrer longas distâncias em estado de pânico e depois não conseguir retornar ao seu local de origem

Seguinte: – O que é o pior: o barulho, a luminosidade ou o perigo de acertar em algum animal?

Roberta – Ainda que o uso de fogos de artifício seja esporádico, a preocupação com os danos provocados nos animais é legítima, pois as reações de medo frente a determinados ruídos específicos podem ser generalizadas para outros ruídos de tipos semelhantes. O medo do som de trovão, por exemplo, pode surgir secundariamente ao trauma causado pelo medo dos fogos. Além disso, devido ao aprendizado por condicionamento clássico, eventos que precedam a situação desagradável podem ser suficientes para desencadear as reações de medo e cada evento sem uma resposta positiva pode agravar ainda mais o problema. Segundo Beaver 13, 20% dos cães com fobia de ruídos possuem problemas suficientemente graves a ponto de seus proprietários procurarem ajuda profissional. O desencadeamento de problemas comportamentais é preocupante, pois, em muitos casos, podem ser motivo para que os proprietários abandonem seus animais. Blackwell e colaboradores15 questionaram 383 proprietários sobre reações de medo a ruídos apresentadas pelos seus cães. Dos entrevistados, 49% relataram resposta específica a ruídos altos, dentre eles, 96,8% relataram sinais comportamentais de medo, tais como procurar pessoas para se proteger, tremer, se esconder, fugir ou latir.

Seguinte: – Com certeza existem animais mais sensíveis do que outros, quais são eles? E quais os problemas de saúde que eles podem ter?

Roberta – Na Holanda, um estudo mostrou alta atividade das aves logo após a soltura de fogos de artifício na véspera de Ano Novo. A perturbação levou-as a voar a uma altura de centenas de metros, em contraste com os vôos registrados diariamente, que normalmente ocorrem em torno de 100 metros, e a percorrer uma distância maior do que a normal até pousar novamente. Embora os fogos de artifício não sejam diretamente letais para as aves, alguns fatores desencadeados por eles podem ser potencialmente fatais, tais como desorientação ou necessidade de voar em situações climáticas desfavoráveis durante a reação de desespero. Na cidade de Beeb, nos Estados Unidos, a repentina mortalidade de milhares de pássaros da espécie Agelaius phoeniceus, na véspera do Ano Novo de 2010, chamou a atenção da comunidade científica. Uma hipótese para este evento foi que os pássaros se assustaram com os fogos, ficaram desorientados e colidiram com obstáculos, sofreram estresse e tiveram que enfrentar condições climáticas inadequadas para o vôo, de modo que a combinação desses fatores culminou nos óbitos. Além deste caso, há outras notícias de pássaros que caíram misteriosamente do céu justamente durante as festividades do final do ano. É importante refletir sobre como uma conduta social considerada normal, aceitável e inofensiva pode ultrapassar os limites de bem-estar de outros seres que compartilham o ambiente com os seres humanos, inclusive aqueles com os quais são estabelecidas fortes relações afetivas. A forma como a sociedade ocidental industrializada atua em seu meio precisa ser urgentemente modificada e o fortalecimento da bioética ambiental pode ajudar a intermediar diálogos que possibilitem uma convivência harmônica entre todos os elementos da natureza e a aumentar a preocupação social com os danos que a ação humana causa no planeta.

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