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Em entrevista realizada há quase cinco décadas, Rômulo Lupo conta o que fez por Araraquara e revela detalhes históricos

Material inédito é publicado na íntegra pelo Portal RCIA

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Rômulo Lupo foi prefeito de Araraquara por duas vezes

Entre os entrevistados de um trabalho de alunos da 8ª série do 1º grau do IEEBA em 1974, há alguns ex-prefeitos de Araraquara. O projeto dos estudantes Adil Fernandes Canicoba, Florisval Rodrigues Jr., Geanna Maria Hernandez e Vanessa Serra Bueno foi feito para a disciplina OSPB (Organização Social e Política Brasileira), sob a orientação da professora Emery do Carmo Granja Azzoni. 

O material atravessou décadas e foi recuperado pelo historiador Alcyr Azzoni. Ele conta que em 3 de junho de 1974, o entrevistado foi Rômulo Lupo, prefeito de Araraquara de 1956 a 1959 e de 1964 a 1969. Quase dois anos depois, ele faleceu, em 24 de abril de 1976. Confira a entrevista, publicada pela primeira vez na íntegra pelo Portal RCIA.

1). Dados biográficos:

Nascido em Araraquara, filho de Henrique Lupo e Judith Lupo.

2). Quando iniciou a sua carreira política?

Nunca, porque nunca fui político, só fui duas vezes prefeito, o que não quer dizer, por isso, que tenha feito campanha, prometido e não cumprido, que tenha procurado eleitor, e isso me deixa satisfeito, porque só fui duas vezes prefeito.

3). Qual a obra na qual o Sr. encontrou maiores dificuldades para realizar?

Foi o Teatro Municipal, porque dois anos levei para conseguir o terreno, que deveria ser trocado. Era na Av. La Salle, onde está construído o Hospital São Paulo, e se trocou pelo da Rua São Bento, que pertencia ao INPS. Por ser muito difícil a autorização da troca de terrenos, pois era preciso mexer muito, depois ir até o Rio de Janeiro, conseguimos, e então Osório de Souza Mello (já falecido), disse que era um milagre conseguir que se passasse logo a escritura, para não se voltar atrás. O terreno então ficou parado, porque não se fez o prédio. Depois se fez a Prefeitura, onde já estavam prontos os alicerces e o prédio acima da terra (a garagem subterrânea já estava pronta). Nesse terreno se teria construído um prédio de apartamentos de 22 andares, e com a venda dos apartamentos, seria construído o teatro. Com o novo prefeito, os planos se modificaram e não se fez o teatro, mas  o prédio da prefeitura, com 9 andares.

4). As obras que o Sr. realizou foram inteiramente aproveitadas pelo povo?

Acredito que sim, porque na primeira gestão, foi construído o Mercado Municipal, instalaram-se os ônibus elétricos, a prefeitura construiu o IEEBA e o Ginásio da Vila Xavier. Onde não se tinha, instalou-se água, luz, esgoto; asfaltou-se quase toda a cidade, assim também  o largo do Parque Infantil, e hoje é difícil encontrar ruas de terra. O Jardim Brasil, que era de favelas, asfaltaram-se duas ruas e também o “Risca Faca”, até a estrada do caminho do Rio do Ouro, onde hoje corre o ônibus, além de outras coisas de que não me lembro no momento.

5). O Sr. se candidataria novamente a prefeito?

Não. Já na segunda vez, não ia me candidatar, foi meu pai quem quis. A terceira vez eu me candidatei porque estava precisando de umas certidões da prefeitura para apresentar ao Tribunal de Contas (de acordo com a lei eles tem quer ser dados em quinze dias, depois do pedido), e já ia fazer oito meses sem recebê-las, então eu falei: “eu me candidato e tiro as certidões que são necessárias.”

6). O Sr. se considera um político realizado?

Bom, não entendo bem essa palavra “realizado”, porque não é a primeira vez que me é feita esta pergunta, e uma pessoa não se sente realizada enquanto for viva, porque sempre tem vontade de fazer alguma coisa. Desse modo, não posso dizer que me considero realizado, da forma como eu entendo essa palavra.

7). Como recebeu o fato de não ser eleito?

Como as certidões já tinham me sido entregues, disse dias antes que tinha medo de ser eleito, porque já estava comprometido como candidato. Mas eles mostravam, inventaram que já estava velho, que os moços deveriam votar nos moços e houve muitos presentes e promessas da parte contrária, prometeram tanta coisa, que até eu disse pelo rádio – “Se para ser eleito eu preciso fazer estas promessas, então eu não vou ser eleito, porque eu não vou fazer isto”.

Mas, no fundo, gostaria de ser eleito, mas não ser prefeito. Fiquei satisfeito de não ter sido eleito, porque não estou nessa confusão que tem gente… muito serviço… e no meu tempo o número de funcionários era pequeno, tudo era modesto. Agora eu teria continuado da mesma forma, como sempre fiz, porque sempre deu resultado. Sem muitas palavras, promessas, para aparecer ao público.

8). No ramo industrial, o Sr. Se considera um vitorioso?

Não me acho, mesmo se agora estou afastado da indústria, porque sempre existe algo a fazer.

9). A Estação Rodoviária foi uma ideia sua?

De um tempo para cá, com a construção de estradas, havia a necessidade de uma Estação Rodoviária, assim como outras coisas. O Ginásio de Esportes, não concluído, até a cobertura foi feito, mas deixamos verba para a conclusão da obra. 

10). Araraquara é conhecida pela tradição ou pelo o que produz?

Quando se terminar a construção do Hotel Morada do Sol, ela se tornará uma das mais conhecidas e apresentáveis. É conhecida pelo seu futebol, a Ferroviária.

Obs. Onde são vendidas as meias Lupo?

No Brasil, Paraguai, Bolívia, enfim, para os países da América do Sul, onde sempre foram bem vendidas e aceitas, desde o começo da Indústria. Nos Estados Unidos e na Europa também são vendidas.