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Paulo Mendes da Rocha fez conferência em Araraquara há 33 anos

Alcyr Azzoni lembra passagem de arquiteto e urbanista pela cidade em 1987

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Nascido em Vitória, no Espírito Santo e radicado em São Paulo, desde 1930, Paulo Mendes da Rocha (25/10/1928- 23/05/2021) foi professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Falecido no último dia 23 de maio, o arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha, tornou-se um dos profissionais brasileiros de renome internacional, pela produção, ao longo de mais de seis décadas, de projetos, nos quais se destacam o engajamento social e uma verdadeira poética do espaço, que lhe renderam o Prêmio Pritzker, em 2006, o Nobel da área, apenas concedido no Brasil a Oscar Niemeyer, seu amigo.

Nascido em Vitória, no Espírito Santo e radicado em São Paulo, desde 1930, Paulo Mendes da Rocha (25/10/1928- 23/05/2021) foi professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, focado nas grandes questões da arquitetura. Numa entrevista em 2012, comentou sobre alguns projetos, como o Cais das Artes em Vitória,um complexo cultural suspenso do solo, do qual se tem a vista livre da paisagem da cidade, e uma exposição com 20 outros projetos, no Museu Vale, em Vila Velha, evidenciando a ação da técnica sobre a geografia, as águas em especial, no redesenho da paisagem natural.

O historiador e geógrafo Alcyr Azzoni lembra bem de sua passagem por Araraquara. “Ao coordenar a realização em Araraquara, de 16 a 20 de novembro de 1987, do 2º Seminário de Planejamento e Espaço Urbano, com o tema central ‘O Futuro das Cidades Médias’, convidamos Paulo Mendes da Rocha, para conferência de abertura, abordando ‘O Planejamento Econômico e o Futuro das Cidades Médias’, sendo mediador o Arquiteto Renê Antonio Nusdeu. Naquela oportunidade, vinha defendendo idéias poderosas, para alguns, utópicas, como a Cidade do Tietê, uma proposta (1981) de construção de uma cidade-porto que integrasse redes de transporte rodoviário e ferroviário, compondo um sistema capaz de sustentar o desenvolvimento da cidade, como favorecer a integração tanto com a região amazônica, quanto ao Sul do Brasil’, recorda Azzoni.

O historiador araraquarense conhece bem a trajetória do arquiteto e urbanista. “Em 1998, foi convidado pela Escola de Arquitetura de Montevidéu, Uruguai, para participar de Seminário Internacional, no qual se buscava uma reconfiguração da Baía da cidade, para que ela fosse incorporada pela população, servisse ao transporte coletivo, ampliando o porto dentre outros projetos”, acrescenta.

“O mais importante era proporcionar maior capacidade de ligação fluvial com o Brasil, chegando até o Norte. Defendia a necessidade de criar uma navegação interior na América. Entendia que o sistema Tietê-Paraná-Uruguai com pequenas obras poderia se interligar com os rios Tocantins e Araguaia”, informa Azzoni.

ENTENDIMENTO DO OFÌCIO

Mostrando-se sempre como antítese do arquiteto superstar, da era das obras espetaculares, trazia nas falas o entendimento do ofício que exerceu desde 1954, quando se formou pela Universidade Mackenzie: a supremacia da ideia sobre a imagem, o desprezo pelo supérfluo, a preocupação com o social. Recusava a valorização da arquitetura enquanto imagem, a promoção do ego, tendo uma ética da singeleza. Quantos projetos mostram racionalidade e lirismo, como no exemplo do Cais das Artes.

“Nós pertencemos ao mundo. Ele é muito pequenino”, dizia. Ou ”arquitetura faz muito bem à saúde, você imagina que está realizando os desejos dos outros”. Entendia, há mais de 20 anos, que a cidade de São Paulo e outras grandes cidades cresciam de maneira inconveniente e, ao contrário de abrigar a todos, criavam novas áreas de exclusividade e de exclusão total. A cidade deixa a ver os escombros horríveis de algo que estava construído e se tornou inútil, como tantos prédios abandonados na área central.

MOBILIDADE URBANA

Alguns anos passados, numa entrevista, Paulo Mendes da Rocha já abordava a questão da “mobilidade urbana”, confrontando vantagens do transporte público, com os problemas do transporte individual, na metrópole. Concluo esta modesta homenagem a Paulo Mendes da Rocha, citando o que ele considerava fundamental em urbanismo e arquitetura: “Hoje (2000) mais do que realmente as obras realizadas, é a reflexão crítica, diante de tantos desastres, sobre a especulação e mau uso do espaço da cidade!”.

“É bom considerar, nos casos de projetos que não saem do papel, que eles não são especulações teóricas, porque foram exigidos estudos de transformação já existentes, como naquele caso da navegação fluvial do Rio Tietê ao Rio Paraná”.

PESQUISAS:

MENDES DA ROCHA APRESENTA PROJETOS LIGADOS À

ÁGUA. Folha de S. Paulo, Ilustrada, E 7,17 de Junho de

2000.

A ANTÍTESE DO SUPERSTAR. O Estado de S. Paulo, D 1, 24

de Outubro de 2012.

SEM ENTRE LINHAS. Como evitar o desastre nas cidades.

Entrevista. Móbile p. 31, MÓBILE, a Revista do CAU –

Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo.

Junho de 2014.

ALGUNS PROJETOS DE PAULO MENDES DA ROCHA

Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia. São Paulo.

Estádio Serra Dourada. Goiânia, Goiás.

Palácio Boa Vista. Campos do Jordão.

New National Coach Museum, Lisboa, Portugal.

Cais das Artes, Vitória. Espírito Santo.

Casa da Arquitectura. Matosinhos, Portugal.

Pavilhão de Portugal.

Centro Cultural de Belém.

Palácio Nacional de Belém.

Pinacoteca de São Paulo (Reforma).

Faculdade de Arquitetura.

Museu Nacional de Arte Antiga.

Parque de Serralves, Portugal.

Ginásio do Clube Paulistano.

Museu da Língua Portuguesa, São Paulo.

Marquise Praça do Patriarca, São Paulo.

Centro Cultural FIESP, São Paulo.