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Palmeirinha vai jogar, então é dia de festa na Vila Xavier

A história registra o espírito empreendedor dos esportistas que com o coração aberto, escreveram as gloriosas páginas do Palmeiras Esporte Clube de Araraquara, o PECA, nos anos dourados do futebol amador de nossa terra.

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Uma das formações clássicas do Palmeiras para ser campeão em 1969: o técnico Roberto Martini, Candinho, Demá, Fininho, Mauro, Pereira, Buri e o presidente Gaeta; João Zanin, Zéca, Everaldo, Pedrinho Marcomini e Peitada
Palmeiras Esporte Clube, da Vila Xavier

1945, 22 de agosto. É neste dia que tem início a história de um grande clube amador, que marcaria definitivamente sua trajetória, consagrando-se no cenário social e esportivo de Araraquara.

Dragão, Orlandinho, Carlão, Gildo, Chiquinho, Tamoio, Peixe, Emílio, Victor, Fogueira e Anésio, estão no Estádio Municipal “Tenente Siqueira Campos”, prontos para o primeiro jogo do Palmeiras em sua história. O técnico era Zé Palito (José Zavagli), que posou para o inesquecível momento ao lado dos seus diretores: Francisco Ópice, Bento Zaniolo e o querido Redicieri Zaniolo, primeiro presidente do Palmeiras.

Buri, capitão do time recebe a taça de Campeão Amador em 1969; ao lado, Turquinho (Wanderley Fazalaro), que foi transformado num dos maiores símbolos da história do Palmeiras da Vila

Na cidade não se falava em outra coisa senão da “descida de um time da Vila para jogar no centro da cidade”, num tempo em que ela se dividia pela linha do trem, imperando grande rivalidade entre os bairros.

Os palmeirenses da Vila queriam paz, pois as marcas deixadas pela II Grande Guerra Mundial entre os membros da colônia italiana ainda não estavam cicatrizadas e a maioria fazia parte do clube como que a desafiar as determinações do Governo de que nenhum clube ou associação poderia expressar admiração ou paixão pelos costumes trazidos por imigrantes no final do século XIX.

Inauguração da sede social do clube em 16 de outubro de 1969: prefeito Rubens Cruz, Miguel Tedde Netto, José Alberto Gonçalves (Gaeta), Gildo Merlos, Mário Destro e Roberto Martini

O pontilhão da Avenida São Paulo, única passagem de um lado ao outro para os veículos transitarem na época, naquele 22 de agosto de 1945, fervilhava. Os caminhões desciam lotados em direção ao Estádio Municipal. Os que vinham a pé da Vila, caminhavam em pequenos grupos, temerosos com a rivalidade criada entre o centro e a Vila Xavier.

Foi neste clima que surgiu o Palmeiras, nome oriundo de um marketing antigo e esperto: a colônia italiana predominava em toda a cidade e seria uma forma de se colocar um fim na suposta animosidade entre os bairros.

Na inauguração da piscina na sede social do Palmeiras, o prefeito Clodoaldo Medina não escapou de um banho, nem mesmo Gaeta, considerado um dos grandes presidentes do clube; na verdade, a agremiação cresceu pela influência política de Gaeta que chegou a vereador, presidente da Câmara e vice-prefeito. A Vila Xavier e o Palmeiras além do respeito e admiração por Gaeta, sempre o tiveram na conta de um dos seus filhos mais ilustres.

POR QUE PALMEIRAS?

1942 marca a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, ao lado dos aliados, fato que leva o governo Vargas a baixar lei obrigando todas as instituições esportivas com nomes estrangeiros a mudarem suas denominações. Caso se recusasse a atender essa determinação, o clube poderia ter sua sede e estádio tomados. Por isso, o Palestra em São Paulo viu-se obrigado a substituir seu nome e suas cores, abdicando da cor vermelha do uniforme. Assim, em 20 de setembro daquele ano, o Palestra Itália passou a chamar-se Palmeiras.

Em Araraquara, a colônia italiana era imensa e pregava-se uma rivalidade entre o centro da cidade e o bairro. Os italianos da Vila achavam que o futebol poderia amenizar e evitar a discriminação que se falava. O Palmeiras seria esse pêndulo com a proposta de amizade e companheirismo dado o número de imigrantes em meio a uma população de 48 mil habitantes. Pode se dizer que a contribuição foi significativa e as muitas conquistas obtidas ao longo de sua história nos campos de futebol fazem do Palmeiras, um clube de respeito.

Os jogadores do Palmeiras aguardam o momento para enfrentar o Monte Líbano, de São José do Rio Preto, no Estádio Rubens Cruz que estava sendo entregue naquele 2 de abril de 1972. Foi uma festa que marcou época; anos mais tarde, o clube teve que vender seu estádio para o pagamento de dívidas contraídas ao longo da sua história.

A MARCA DE UMA LEMBRANÇA PINTADA EM VERDE E BRANCO

Com sua Rainha do Carnaval, o Palmeiras foi às ruas apresentando seu carro alegórico para mostrar que também era bom de samba. A animação tomou conta da Nove de Julho. A estratégia dos italianos em 1945 estava dando resultado: o clube se popularizava e o Palmeiras já não era uma agremiação só da Vila Xavier: estava conquistando a cidade.

A Vila Xavier sempre foi um celeiro de craques; aos olhares atentos do treinador Roberto Martini passaram atletas que  até hoje são lembrados pela forma honrosa que defendiam o time. Foi um período de ouro do nosso futebol amador e do Palmeirinha, impondo-se no campo de luta, graças ao amor à camisa, demonstrado pelos seus jogadores.

Naquele março de 1945, seria mais um dos muitos treinos ou “peladas” sob o comando de Rafael Magrini, num terreno baldio entre tantos existentes na época na Vila Xavier. Passava por alí o esportista José Zavagli, conhecido como “Zé Palito”.

Ele parou para olhar o treino no chapadão e viu muitos conhecidos do bairro fazendo o mesmo. Terminada a correria atrás da bola, surgiu de um bate-papo com Reinaldo Passerine e Ricardo Tellaroli, Benedito Corrêa de Toledo, Moacyr Bervethe, Antoninho Aiello, José Borsato, Ridicieri Zaniolo, Servideo Pachiega, Bento Zaniolo, Chico Ópice, Orlando Celli, a ideia de se montar um time de respeito e oficializá-lo no amadorismo local.

Antônio Carlos de Souza, presidente do Palmeiras, em junho de 2016

Novos encontros foram surgindo. Vitório Zaniolo, alguns dias depois cedeu sua residência na Avenida São Paulo (atual Santo Antônio), próximo à igreja de São Benedito, para as reuniões que passaram a ser costumeiras. Vez por outra as reuniões eram realizadas na residência de Orlando Celli em frente ao campo de terra na Avenida 22 de Agosto, um terreno cercado de mato por todos os lados. A casa de Celli também passou a servir de vestiário, onde os rapazes tomavam água fresca do poço.

O entusiasmo foi crescendo, outras pessoas foram prestando sua colaboração. O desejo tornava-se realidade. E foi na residência do abnegado Vitório Zaniolo, de tradicional família da Vila Xavier, que surgiu o “Palmeirinha”.

O presidente Toninho de Souza e sua esposa Maria Aparecida, contemplam a realização de um sonho: o fim das obras do Salão de Festas do Palmeiras

Era primeiro de janeiro de 1945 e  o Palmeiras da Vila formava sua primeira diretoria assim definida:

Presidente: Ridicieri Zaniolo

Vice-Presidente: Bento Zaniolo

Secretários: José Borsato, José Zavagli (Zé Palito) e Reinaldo Passerine

Tesoureiros: Ricardo Tellaroli e Servideo Pachiega

Diretores: Antônio Aiello Filho, Moacyr Bervethe, Orlando Celli, Francisco Ópice e Benedito Corrêa de Toledo

O campinho foi substituído por um terreno maior, adquirido após alguns anos e que não chegou a ser utilizado; foi trocado por outro para construção da sede social. Na gestão do prefeito Rubens Cruz, o vereador José Alberto Gonçalves (Gaeta), conseguiu a doação de um terreno onde foi construído o Estádio Rubens Cruz. O que era apenas um time de futebol transformou-se em um clube social, orgulho para a Vila.

COM OS PÉS EM TERRA FIRME

Cancha de Bochas do Palmeiras

Alguns devotados palmeirenses decidiram se juntar e reerguer o clube. Entre eles, Toninho, que passou a contar com apoio da própria família.

Orgulho do clube e maior obra desde a fundação, a diretoria do Palmeiras pretende inaugurar no segundo semestre de 2016 o novo salão social com seis camarotes, bilheterias e sanitários. O projeto iniciado nos anos 90 contemplou dois ambientes, um salão no térreo e um pavimento superior.

Segundo o presidente Antônio Carlos de Souza, o Toninho, o salão de entrada será destinado a bailes, festas de casamentos, aniversários, palestras e outros eventos sociais; no andar de cima funcionará a academia de musculação também com aulas de dança.

 “Um sonho que conseguimos concluir com a colaboração dos associados”, relata Toninho.

Com o novo salão, o antigo será totalmente reformado. “Uma das principais fontes de renda que temos são os bailes aos sábados e por conta disso ficava impossível qualquer obra com apenas um salão. Agora com dois salões, teremos tempo para revitalizar o salão histórico do clube que foi palco de muitas emoções, com grandes bailes, carnavais e festas da comunidade”, explica.

A tesoureira do clube, Maria Aparecida Ferreira de Souza, diz que as verbas para a reforma do antigo salão virão dos aluguéis da quadra, minicampo e dos festivais.

“Em 2012 inauguramos o Palácio das Bochas  “Manoel Guidolim”  com duas modernas canchas e placar eletrônico. Com a venda da Sociedade dos Amigos do Carmo (SAC) à Prefeitura, que mantinha canchas de bochas, o objetivo agora é intensificar a união dos bochófilos nas canchas do Verdão”,  afinal são modernas e comportam grandes competições, adianta Toninho.

Diretores do Palmeiras em um dos seus festivais de prêmios

ESCOLINHAS

O Palmeiras sempre cuidou da base  e pelo clube fizeram carreira – o goleiro Abelha, ex-Ferroviária, Flamengo RJ, São Paulo FC e seleção brasileira de novos e também Douglas Onça, ex-Ferroviária, Coritiba, Atlético Goiano, Sport Recife e depois técnico tetracampeão da Ferroviária Fundesport. As revelações continuam com as escolinhas de basquete, voleibol, futsal e futebol em parceria com a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer. “Investir no jovem por meio do esporte é formar cidadãos conscientes”, enfatiza o diretor de esportes, Carlos Rogério Pegrucci de Souza.

O futsal mantém a tradição do clube nas disputas oficiais da cidade. “Conseguimos montar boas equipes nos mais recentes campeonatos da LAFS, 2011 e 2012, e a intenção é renovar o grupo para que possamos voltar forte nos próximos anos”, avalia Rogério, que trabalha com cerca de 15 garotos.

DANÇA DE SALÃO

A diretora social Gislaine Pegrucci de Souza, se desdobra para atender as turmas mistas de aulas de dança de salão. As vagas nos horários nos dois dias da semana, segunda e quarta-feira, estão no limite e a diretoria estuda a formação de novas turmas.

FESTIVAL DE PRÊMIOS

Aberto aos colaboradores do clube, o Palmeiras promove o festival de prêmios as quintas-feiras, a partir das 20h. Confraternização entre amigos com o objetivo de melhorias e manutenção nas dependências do clube.

É FÁCIL SER ASSOCIADO

Com a categoria sócio comum sem necessidade de compra de título, o Palmeiras oferece ao associado: piscina, sauna, quadra poliesportiva, minicampo, salão social, academia, canchas de bochas, playground e área livre para happy-hour. Mais informações na sede do clube, Av. João Batista de Oliveira, 333, telefone (16) 3322-0676.

Observação: o texto faz parte da publicação “Lembranças com pé no chão”, editada pelos jornalistas Rafael Zocco e Ivan Roberto Peroni , em junho/2016. As informações da época tiveram mantidas sua originalidade.