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Nabor Rodrigues dos Santos: a cidade parava para ouvir seus tangos

Era mais um destes sábados dos anos 60; a cidade começava a escurecer e à meia luz, entrava no auditório da Rádio Cultura a partir das 19h, Nabor, o “Juanito”. Com sensibilidade, ele transformava Araraquara no pedaço mais romântico de Buenos Aires. Ainda era o tempo das cadeiras nas calçadas.

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O araraquarense Nabor Rodrigues dos Santos no centro velho de Buenos Aires

Filho do português Antonio Rodrigues dos Santos e Luzia Bonacorsi Rodrigues dos Santos, brasileira, Nabor Rodrigues dos Santos nasceu em Araraquara, no dia 12 de julho de 1913. Seu pai era ferroviário aposentado da EFA. Nabor teve ainda os irmãos Jonas, José, Haraldo, Ana, Maria e Nadir, todos falecidos.

Ele cursou apenas os dois primeiros anos do primário na Escola Estadual Carlos Baptista Magalhães. Ainda menino começou a cuidar da própria vida, trabalhando na Padaria Madalena, na praça de Santa Cruz e depois numa oficina como auxiliar de serralheiro. Moço feito, Nabor conseguiu seu primeiro emprego fixo, na Estrada de Ferro de Araraquara (EFA).

A elegância fazia parte do perfil de Nabor Rodrigues dos Santos, até mesmo no seu trabalho de alfaiate, primeiro na Alfaiataria do Chico Abritta e depois com Bruno Ópice

Mas não ficou muito tempo ali. Sua alma de artista falou mais alto e ele foi trabalhar em Campinas, com seu tio, Cândido Barini. Lá aprendeu o ofício de alfaiate. Certo dia o contra-baixista Eduardo Rocha ouviu Nabor cantando tangos; gostou do timbre da voz dele e incentivou-o a comprar um violão. Foi assim que Nabor começou a ter contato direto com a música, que nunca mais deixaria de lado.

Nabor era uma das atrações da Orquestra Marabá de Olavo Felipe em 1955

Voltando para Araraquara, Nabor conheceu a jovem Palmira Messora, filha dos imigrantes italianos Hector Messora e Carolina O. Messora. Casaram-se em 8 de setembro de 1934. Desta união nasceram os filhos Jandira (falecida), casada com Agostinho Reis e Silva; Alcides, casado com Odete Penteado Rodrigues dos Santos e Maria de Fátima, casada com Wagner Sita.

Em Araraquara trabalhou na alfaiataria Abrita, de Chico Abrita, que ficava na Rua Nove de Julho, em frente à Casa Barbieri. Foi ainda contra-mestre na alfaiataria de Bruno Ópice. Alí trabalhou muitos anos até se aposentar. Mesmo aposentado, dedicou-se à profissão, em sua casa, onde era muito procurado pela clientela.

Palmira sempre ao lado de Nabor, apaixonado pela noite e o tango; Com o filho Alcides Rodrigues dos Santos, funcionário público municipal dos mais conceituados em nossa cidade, hoje aposentado

Mas a grande paixão dele era realmente o tango e de suas atuações nasceu o apelido que tanto gostava. Nabor era conhecido também por ”Juanito”, nome artístico dado pelo araraquarense Benedicto Brasileiro de Souza.

Em programas de auditório, no Rio de janeiro, onde chegou a se apresentar, em 1950, no Papel Carbono, de Renato Murce, Nabor tirou o primeiro lugar.

Ele dedicou-se ainda à construção de telescópios, criando as próprias lentes. Existem ainda hoje, muitos telescópios construídos por Nabor, em funcionamento na cidade. Mas a dedicação maior de Nabor foi com certeza o tango.

Sonho de Nabor: conhecer o centro antigo de Buenos Aires. A felicidade estava em seu rosto

O artista manteve durante muitos anos na Rádio Cultura, aos sábados à tarde, um programa onde apresentava os mais belos tangos e alguns de sua autoria também. Aliás, foram as interpretações de tangos de sua própria autoria que levou Nabor a brilhar no sul do Brasil, onde realizou turnê, chegando a concretizar seu grande sonho, que era conhecer Buenos Aires.

Dedicado demais a tudo o que fazia, Nabor faleceu no dia 7 de fevereiro de 1989, uma terça-feira de carnaval, com 75 anos.

Seu nome está na rua desde o dia 16 de dezembro de 1991, através da Lei 3.924, que denomina de Avenida Nabor Rodrigues dos Santos, a via pública conhecida por Avenida 3 do loteamento Jardim dos Manacás, que tem o seu início na Rua 11 e término na Rua 7 do mesmo loteamento.