Há um ditado na região de Araraquara, segundo o qual diz: “As pessoas para o mundo vêm de Tabatinga ou de Taquaritinga”. Não poderia ser diferente com Rivadávia Autullo, o caricaturista que fazia rir no discurso e no desenho, com irreverência daqueles que o incomodavam mas que eram profundamente amados e reconhecidos pelos traços que discutiam, denunciavam e falavam de amor e simplicidade.
“Rivas”, como era mais conhecido, nasceu em Tabatinga, no dia 6 de outubro de 1914. Era filho de João Autullo Neto (italiano) e de Benedita de Almeida Autullo, sendo irmãos Djalma e Nereu.
Em 1929, a família de Autullo mudou-se para Araraquara, onde seu pai João Autullo, já fotógrafo, profissão que herdou de seu pai, montou o foto Stúdio3 Irmãos na Rua 9 de Julho, bem próximo à Praça de Santa Cruz.
Rivas começou a desenhar aos 9 anos de idade e desde então não mais parou de exercitar o traço e gostava de retratar seus professores, amigos da escola e o povo simples.
Copiava traços e exagerava nos pontos que chamavam sua atenção. Notabilizou-se pela habilidade que possuía em desenhar charges e caricaturas, as quais eram frequentemente publicadas nos jornais e revistas, não só da cidade, como também do Brasil e exterior, e várias delas foram premiadas.
Os trabalhos de Rivas eram tão bem feitos, que chegou a ser convidado para trabalhar nos estúdios de Walt Disney. Não viajou porque sua mãe não concordou com a ideia.
Ele era um autodidata. Além de caricaturas e charges, também fazia esculturas e óleo sobre tela. Gostava muito de retratar figuras folclóricas de Araraquara e os políticos do país, também não escapavam de suas obras.
Entre suas caricaturas marcantes citamos a do vendedor de bilhetes “Caçulinha”, a do catador de papéis “Sabugo”, do radialista Denisar Alves, a do artista plástico Paulo Mascia e dos médicos e seus amigos Francisco Logatti e Domingos Abritta, além de muitos outros personagens.
Rivadávia casou-se em 15 de fevereiro de 1942, com Maria, filha dos italianos José Cicaroni e de Amábile Cicaroni. E desse matrimônio nasceram cinco filhos: João Carlos, José Roberto (Tite), Rivamar, Sônia Aparecida e a cirurgiã dentista Rose Meire.
Através das molduras confeccionadas por seu avô Miguel, Rivas conheceu os trabalhos do artista plástico J. Carvalho; foi quando começou a frequentar aulas na Escola de Belas Artes de Araraquara. Mas o contato com o seu primeiro mestre ocorreu por volta de 1945, quando conheceu Francisco De Carli, que o levou para trabalhar e expor suas obras em inúmeras cidades do interior, principalmente em Santos.
Trabalhou ainda na Polícia Civil de São Paulo fazendo retratos falados. Caricaturando autoridades e pessoas do povo, comerciantes amigos e até os próprios filhos, Rivas convivia com todos os grandes artistas plásticos da cidade, com os quais mantinha sólida amizade: Paulo Mascia, Francisco De Carli e Ernesto Lia.
Com sua arte, pode criar seus cinco filhos. O artista Rivas semeou talentos em bicos de pena, óleo, pastel, além de desenhar caricaturas para revistas, jornais e quadros. Vendeu milhares de trabalhos no Brasil e exterior, e incursionou pelo campo do cinema, ao lado de Wallace Valentin Rodrigues, quando fotografou e ajudou a dirigir “Aurora de uma cidade”.
Rivadávia Autullo, o artista-poeta, angelical e às vezes irreverente, era uma pessoa alegre e descontraída que dignificou Araraquara e sua Tabatinga, de onde saiu para o mundo.
Faleceu aos 83 anos de idade, no dia 23 de julho de 1998, estando sepultado no Cemitério São Bento.
Seu nome está na rua através da Lei nº 5.183, de 13 de abril de 1999, de autoria do vereador Mário Joel Malara, sancionada pelo prefeito Waldemar De Santi, que denomina “Avenida Rivadávia Autullo” a via pública do município conhecida como “Rua J” do loteamento Jardim Dumont, com início na “Avenida B” e término na “Avenida E” do mesmo loteamento.