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Dia da Consciência Negra representa superação e necessidade de reflexão para médicos

Profissionais, nascidos em Angola e Camarões, relatam trajetória marcada por desafios e afirmam que a data é um momento de reflexão sobre diversidade e igualdade

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Doutora Arminda com sua equipe de trabalho

Os médicos Arminda Mateus Vandunem, nascida em Angola, e Lawrence Aseba Tipo, nascido em Camarões, afirmam que o Dia da Consciência Negra representa uma reflexão envolvendo a superação dos obstáculos e uma data para refletir sobre a diversidade e igualdade na sociedade.

Os dois profissionais, que atuam no Grupo São Francisco, que faz parte do Sistema Hapvida, relatam uma origem humilde e uma trajetória, até a formação em medicina, de luta e superação de desafios em diversos setores da vida pessoal e acadêmica.

Arminda chegou ao Brasil, em 1994, onde cursou medicina na Universidade Federal de Santa Maria (RS)

Arminda, que atua como médica de Resgate no Grupo São Francisco, chegou ao Brasil, em 1994, onde cursou medicina na Universidade Federal de Santa Maria (RS) e se naturalizou brasileira. Ela conta que enfrentou as dificuldades da guerra civil no país natal, quando perdeu seus país, e atuou na área de saúde e no setor militar antes de vir para o Brasil. Após sua formação em medicina trabalhou em prontos socorros, pronto atendimento, SAMU, Santas Casas e UPAs antes de trabalhar no atendimento aos usuários de rodovias.

De acordo com ela, uma das maiores dificuldades foi a adaptação em relação ao clima e cultura do país e a distância da família, principalmente, do marido.

“Meus maiores desafios foram vir para um país desconhecido e frequentar uma faculdade de medicina, como primeira africana e única no local. Neste momento, também havia sido contemplada com a dádiva de estar grávida e ser mãe e, naquele momento, meu esposo ainda permanecia em Angola, e só conseguíamos nos ver em períodos de férias. Enfrentei o impacto do clima e costumes diferentes, mas graças a Deus fui bem acolhida no Brasil”, afirma Arminda.

Lawrence Aseba Tipo, é chefe de serviço de urologia do Grupo São Francisco

Lawrence Aseba Tipo, que é chefe de serviço de urologia do Grupo São Francisco, possui formação em medicina pela USP e atua como professor de urologia, relata que nasceu em uma tribo africana e que foi o único, entre 27 irmãos, a conquistar um diploma universitário

“Enfrentei muitos desafios, principalmente, no início da faculdade sem ter onde morar e o que comer. Não tinha nada de dinheiro, passei por muita discriminação por alguns colegas no início da faculdade de medicina na USP, mas sempre soube me posicionar. Hoje graças a esse esforço, sou professor de urologia onde treino e formo 6 residentes de urologia, pai de quatro filhos, amo o que faço e vivo muito feliz”, comenta Tipo.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Em relação ao dia de comemoração da Consciência Negra, Arminda diz que seu maior desejo é que a humanidade deixe de olhar o negro com olhos diferentes, já que todos são iguais.

“Acredito que minha missão neste mundo é cuidar de outras vidas, independente de classe social, econômica e racial. Não saberia fazer outra coisa em minha vida, sou apaixonada pela minha profissão e minha família”, declara.

Já Tipo ressalta que nesta data é importante inserir na consciência de qualquer negro que a cor de pele não limita ninguém e que o importante é o caráter e o esforço pessoal, além de jamais pensar que ele é menos que ninguém.

“Eu lido com a vida assumindo cada e total responsabilidade de tudo que acontece na minha vida. Nunca culpo ninguém por nada que acontece na minha vida. A minha maior paixão é ajudar o próximo. Sou muito humano e a medicina é a minha paixão, já que por meio dela eu posso ajudar muita gente”, conclui o urologista.