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Mulheres do agro de Araraquara: De lambaris a tubarões

Em um ano atípico devido a pandemia o grupo vem se fortalecendo e conquistando um espaço cada vez maior

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Virginia Leal apresentou ao grupo Nelores com produção in vitro, vencedores em exposições

Na quarta-feira (09), a Zootecnista Ana Virginia Leal que administra uma fazenda premiada pela criação de Nelores, entre Araraquara e Boa Esperança do Sul, recebeu para última reunião do ano o grupo de Mulheres do Agro de Araraquara, onde apresentou o trabalhado a qual realiza com excelência.

Nelores premiados em grandes exposições

Em um ano conturbado devido à pandemia do coronavírus, as mulheres do agro, mesmo diante das adversidades deram um passo muito importante, fortalecendo os laços para que a produção possa ser maior e melhor elaborada com a junção de mulheres.

As agricultoras pretendem se reunir com mais frequência no próximo ano

Na reunião foram tratados diversos assuntos, entre eles as dificuldades da região em armazenamento de grãos para quem planta soja e milho, ou ainda para quem têm criação de gado, cana-de-açúcar. Problemas que elas pretendem encarar com união e troca de experiências.

Anna Paula Nunes, da Fazenda Jangada Brava e criadora do grupo Mulheres do Agro de Araraquara, diz que para 2021, as reuniões serão mais regulares para troca de conhecimentos.

As agricultoras pretendem agora trazer ao grupo cursos que estão disponíveis no SENAR, para agregar conhecimento, já que é disponibilizado gratuitamente pelo governo do Estado.

Carmem Verônica de Oliveira, se sente mais fortalecida junto ao grupo, ao seu lado Alice Morábito

Uma das novas integrantes, Carmem Verônica de Oliveira, advogada de formação trabalha em sua propriedade que fica entre Trabijú e Boa Esperança a Fazenda São Luiz. Ela está feliz por fazer parte do grupo, diz que se animou quando percebeu que existe ajuda mutua. “Tenho a fazenda desde os 6 anos de idade, onde meu pai, depois meu irmão tocavam, mas sobrou para mim, eu me sentia o lambari em meio aos tubarões, me sentia enganada, me fizeram de boba. Mas com o tempo fui aprendendo, posso até ser enganada hoje, mas muito menos”. Ri ela de um tempo que com certeza já passou.

Carmem cria gado, mas diz que não investe tão pesado “Não vou pagar R$ 10 mil de vaca, fico pensando, vai que uma cobra pica e eu perco tudo, mas agora junto ao grupo, me sinto mais forte, poderosa, se preciso de algo é só pegar o celular e perguntar ao grupo, muita gente aparece para ajudar e isso me deixa feliz, mais confiante e protegida de certa forma, e quando você diz que faz parte do grupo das mulheres do agronegócio, as coisas mudam de figura”, afirmou ela.

Anna Paula Nunes, muito tem contribuído para o fortalecimento do grupo

Anna Paula, diz que “nós mulheres temos esse defeito de nos sentir diminuída, temos que trabalhar para trazer cada vez mais mulheres para o grupo e assim conseguirmos todas ficar fortalecidas, o problema de uma é o de todas nós. Às vezes somos enganadas porque tínhamos medo de bater de frente, mas agora, nos protegemos”, ressaltou.

Maria Emília de Oliveira Souza Taddei, acredita que o conhecimento é a base de tudo

Maria Emília de Oliveira Souza Taddei acha importante pensar no histórico de submissão das mulheres diante do patriarcado. “Conhecimento é a base de tudo, porque aí deixamos de ser um lambari no meio dos tubarões, começamos a ser um pacuzinho, pois já conhecemos alguma coisa. O importante é saber que não estamos sozinhas e que temos referências. Estamos formando uma rede de comunicação que os homens sempre tiveram, se estão em um bar estão falando do gado, da soja, da cana trocando informações. E nós não vamos falar de vaca no grupo que troca receitas, elas não tem vaca. Temos inclusive que sair do lugar pequeno e partir para vôos mais altos e conseguir políticas públicas, incentivo do governo, algo maior que nós,  precisamos de silos para grãos, leilão para vender nosso gado, precisamos de representantes e assim conseguirmos ter voz, captar necessidades e trazer solução, é a voz e a vez da mulher”, disse ela.

Virginia apresenta os inúmeros troféus de Nelores campeões da fazenda. Foto: Alice Morabito

Elas pretendem também se juntar para as compras das fazendas e assim conseguir um preço melhor, seja no adubo, no sal. “Quando se negocia mil toneladas é um preço, dez mil já é outra coisa, somos muitas, e precisamos das mesmas coisas”, afirmam elas.

Todas foram unânimes em dizer que apesar do ano ser parado devido à pandemia, 2020 foi muito produtivo, e serve como base para que elas saibam onde podem chegar.

Anna Paula concorre agora a um cargo na diretoria do Sindicato Rural de Araraquara, onde definitivamente coloca em outro patamar os anseios das mulheres do agro, que a passos largos, conquistam seu espaço cada vez maior no mundo da agricultura.

Todas acreditam que 2020 foi um ano muito produtivo e que 2021, será ainda melhor