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Premiação e homenagens marcam 30 anos do Programa Cana IAC

O programa atende a mais de 200 unidades empresariais distribuídas em 11 estados brasileiros

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Um dia marcado por premiações e homenagens

Um dia de premiações e homenagens. Assim foi a celebração, na sexta-feira (8), do aniversário do Programa Cana IAC, que completou 30 anos de atividade. Paralela às solenidades de aniversário, o dia também foi marcado pela entrega do Prêmio + IAC, que em sua segunda edição, segue com o objetivo de incentivar e valorizar as unidades produtoras que adotam as variedades desenvolvidas pelo IAC.

Com a participação de expressivas lideranças do setor sucroenergético, a festa reuniu pesquisadores que deram os passos iniciais para tornar o programa uma realidade. Entre eles o coordenador do programa e diretor-geral do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.

“Começamos em abril de 94, nós soltamos um documento e desde então, o que nós fizemos foi criar uma network com várias empresas. No primeiro momento nós tínhamos 16 empresas. Hoje nós temos quase 200 empresas nesse network, envolvendo 11 estados no Brasil, e estamos promovendo a produtividade no setor sucroenergético e também temos outras tecnologias, enfim, muita coisa sendo realizada pelo Programa de Cana IAC”, disse Landell que também foi homenageado por amigos, parceiros e funcionários, com uma placa, alusiva aos 30 anos do programa.

A pesquisadora Leila Dinardo Miranda, autora do livro “Nematóides e Pragas da Cana-de-Açúcar”, destacou que o programa de manejo integrado de pragas é utilizado por muitas usinas. “Se não integralmente, pelo menos uma grande parte”, disse.

Para o presidente da DATAGRO, Plínio Nastari, o programa contribuiu para o expressivo aumento de produtividade nas últimas décadas. “Um programa fundamental para evolução de produtividade, desenvolvimento de variedades, e técnicas de multiplicação do setor sucroenergético brasileiro. Esse desenvolvimento extraordinário é que permitiu que o Brasil passasse na década de 70 de uma moagem de 70 milhões de toneladas para as 718 milhões de toneladas na safra 2023/24″, disse.

Alan Pavani, diretor de marketing e inovação na BiomCrop, empresa com foco na agricultura regenerativa,  ressaltou a importância do Programa de Cana IAC. “É uma honra para a BiomCrop estar presente neste evento comemorativo.  O nosso objetivo aqui foi mostrar os resultados que a nossa tecnololgia apresenta para usinas e produtores de cana”, afirmou. Na ocasião, e também comentou sobre a parceria com a Procana, como um dos patrocinadores do CanaBio, que acontecerá no Centro de Cana, em maio.

Durante o evento, Thiago de Paula e Silva, gerente corporativo de Fitotecnia da BP Bunge, fez uma apresentação sobre o trabalho de manejo varietal desenvolvido pelas usinas do grupo. “Temos aqui a qualidade operacional, que é extremamente importante para todas as operações que a gente está atuando. O manejo de variedades, o manejo de água, com a mitigação do déficit hídrico e a nutrição fisiológica e maturação. Então, tudo o que a gente faz na BP Bunge é voltado para o agronômico, que está pautado nesses cinco pilares”, informou Silva em sua apresentação.

34 VARIEDADES

O pacote tecnológico desenvolvido pelo Programa Cana IAC inclui 34 variedades, que contribuíram para fazer a produtividade saltar de 70 para cerca de 87 toneladas de cana-de-açúcar, por hectare, na média de cinco cortes, mas com casos de unidades que atingiram mais de 100 toneladas/hectare. As ações também resultaram em ganhos de 30% na produtividade gerados pela Matriz de Ambientes, 90% de acertos na estimativa de safra obtidos com Prevclimacana IAC e o Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB) geraram resultados até 20 vezes superior ao obtido no plantio de cana tradicional mecanizado.

Nessas três décadas, o Programa Cana IAC também desenvolveu o modelo de manejo varietal com o conceito da Matriz do Terceiro Eixo e a caracterização de ambientes de produção por meio do levantamento de solos, realizado no Projeto Ambicana.

A rede experimental do Instituto Agronômico evidenciou clones IAC que, pelo desempenho, tornaram-se variedades atualmente cultivadas em regiões com expressivo déficit hídrico. Dentre elas, destacam-se: IAC91-1099, IACSP95-5000, IACSP95-5094 e IACSP97-4039.

“Todas essas têm adaptação muito boa a regiões com déficit hídrico e traz a perspectiva de otimizar a produtividade nas áreas secas, antes ocupadas por pastagens. As variedades IACSP-015503 e a IACCTC07-8008 que se destacam em ambientes mais restritivos”, comenta Landell.

Para o enfrentamento de pragas e doenças, as equipes desenvolveram tecnologias de manejo de pragas e doenças e métodos de análise para diagnóstico de doenças.

O Programa Cana desenvolve e transfere ao setor estratégias de produção em cana irrigada, considerando que a irrigação é fator de segurança com grande potencial para a verticalização da produção.Os pesquisadores também conduzem estudos na área de nutrição, envolvendo a adubação convencional e com uso de resíduos. A identificação varietal é obtida pelo método Fingerprint, também criado pelo Programa Cana IAC com o objetivo de garantir a identidade e respectivas características de cada variedade.

Para colaborar na qualificação de profissionais, o Programa Cana IAC realiza cursos para o setor sucroenergético com abrangência nacional, anualmente.

COMO NASCEU O PROGRAMA

O IAC iniciou oficialmente seus estudos com cana-de-açúcar há 90 anos. Em 1934, no IAC, foi instalado o primeiro programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar no estado de São Paulo e iniciadas as primeiras experimentações de métodos de cultivo da cultura.

“Nas décadas seguintes, o Instituto realizou importantes trabalhos na área de calibração de nutrientes, o que possibilitou estabelecer uma tabela de indicação de adubação para cana-de-açúcar, por exemplo, e se envolveu com o Instituto Biológico no estudo das principais doenças da cultura”, lembra Landell. Naquela época, as áreas de cana-de-açúcar eram restritas ainda. A ampliação significativa veio com a criação do programa PROÁLCOOL.

Na segunda metade da década de oitenta, o mapa da canavicultura paulista mudou. A região de Ribeirão Preto e do Oeste paulista passaram a ser consideradas as principais regiões da “cana paulista”.

“A mudança da forma de colheita de cana queimada manual para cana crua mecânica demandou novos estudos e uma nova projeção das cultivares que viriam a ser lançadas nos anos que se seguiram pelos programas de melhoramento genético existentes”, comenta Landell.

Esses eram os acontecimentos externos que se davam em uma área que atualmente está em torno de três milhões de hectares e que antes ocupava menos de 1/3 desse espaço.

“No meio desse complexo contexto, foi criado, em 1994, o Programa Cana IAC, reunindo pequeno número de pesquisadores, que se lançaram em diversas parcerias com associações de plantadores e agroindústrias para execução de projetos direcionados às demandas prospectadas”, conta.

Além de contribuir com o setor no desenvolvimento de variedades e de sistemas de manejo, o Instituto Agronômico colaborou também na formação de programas de melhoramento da Planalsucar e Copersucar, no final da década de 60. Nessa ação, que dinamizou a agricultura canavieira do Brasil, participaram os pesquisadores do IAC Carlos Arnaldo Krug e Hermindo Antunes Filho.

Naquele momento, apesar de a programação científica do IAC ser direcionada para outras culturas, ainda assim eram mantidos 20 projetos na então chamada Seção de Cana-de-açúcar.

Em 1972, o IAC e a Copersucar firmaram convênio para introduzir novos materiais vegetais. Como fruto dessa parceria, 678 genótipos de vários países entraram no Brasil, até 1983.O convênio viabilizou também que, a partir de 1976, o IAC passasse a utilizar os campos de cruzamentos em Camamu, na Bahia, pertencentes a Planalsucar. A região baiana reúne condições climáticas adequadas para a hibridação. Naquela época, o IAC fazia os cruzamentos em Ubatuba, litoral paulista, que não tem as condições ideais para essa etapa do melhoramento genético.

REGIONALIZAÇÃO

A regionalização do melhoramento genético da cana teve início com o pesquisador Raphael Alvarez, no final da década de 1980, período em que os programas da Planalsucar e da Copersucar recuaram. Esse cenário proporcionou o reposicionamento do programa do IAC. Fez-se a extinção da forma administrativa de seção e o programa foi incorporado à antiga Divisão de Estações Experimentais do IAC, que reunia todas as fazendas do Instituto no estado de São Paulo. Essa reforma aumentou a interface das pesquisas com o setor sucroenergético de forma descentralizada. Nascia o Programa Cana IAC.

O objetivo era atender uma demanda do setor, que estimulou a implantação de um programa de cooperação para o desenvolvimento de variedades. Em outubro de 1994, foi oficialmente criado o ProCana: um convênio de cooperação entre o IAC, agroindústrias do açúcar e do álcool e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag).

O projeto principal focava o melhoramento genético visando variedades de cana mais produtivas, com maior teor de açúcar e outras características de interesse econômico. Projetos da área de fitotecnia interagem com estudos em fisiologia, fitopatologia, entomologia, pedologia, fertilidade, adubação, climatologia e matologia. Participam do Programa equipes do IAC e da APTA Regional de Piracicaba.