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Sem aulas e com filhos em casa, mães correm risco de perder emprego

“Como trabalhar se não tenho com quem deixar meus filhos, o parente mais próximo fica há 700 km daqui. Monitoro meus filhos de 6 e 11 anos pelo celular”, diz a mãe que teme entrar para a estatística do desemprego

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"Não faz sentido não ter aula presencial, mas ter acolhimento emocional e reforço para 35% da classe, acaso o coronavírus é tão seletivo"

Uma questão vem deixando algumas mães sem muitas alternativas, à volta às aulas, que foram suspensas e devem retornar 1° de março devido a Pandemia da Covid-19. Em um grupo de WhatsApp, muitas mães discutem formas de como trabalhar e deixar seus filhos sozinhos em casa.

FILHOS SOZINHOS

Um caso em especial chama a atenção pelo desespero de E.C.O.L., moradora do Jardim Imperador, mãe de duas crianças, um de 6 anos e outra de 11. Divorciada, não tem família em Araraquara e nem parentes, portanto não tem com quem deixar seus filhos e precisa trabalhar.

A empresa quer trabalho presencial, mas conseguiu um acordo onde faz meio período home Office e outro presencial até março, para que as crianças não fiquem sozinhas o dia todo. Do trabalho, via celular ela monitora os filhos e seus vizinhos ficam de olho na casa para alguma eventualidade.

Ao Portal RCIA a mãe diz que é uma incoerência o que está acontecendo na cidade. “Não faz sentido não ter aula presencial, mas ter acolhimento emocional e reforço para 35% da classe, acaso o coronavírus é tão seletivo (e complacente) a ponto de não contaminar alunos e professores de reforço, em detrimento aos demais que iriam ter aula no “novo normal” na escola?”, ressalta ela.

“Tentei várias alternativas sem sucesso. Estou trabalhando e passei a período integral, meus filhos ficam sós na parte da manhã, situação que seria provisória por 2 semanas, pois já na 1ª semana de Fevereiro o mais novo começou a ir para uma escola particular, e a mais velha na 2ª semana iria para o Ensino Estadual. Porém ficou essa briga judicial de ”pode e não pode” voltar presencial e, quando conseguimos o “sim”, passaram a cidade de Araraquara pra fase vermelha. Até março, dizem, mas eu duvido. Olhando como fizeram no ano passado, acredito que vão arrastar tal situação por mais um ano, eu espero estar errada. O ano passado foi perdido para a minha filha de 11 anos”, diz a mãe agoniada com a situação.

Ela afirma ainda que não conseguiu encontrar alguém que ficasse com as crianças pela manhã, só até março. “No meu trabalho consegui negociar de ficar até março home office meio período ( à tarde ),  entretanto o problema da escola foge à minha alçada e a empresa precisa que eu volte integralmente. Não posso parar de trabalhar, tenho dois filhos para sustentar, vou trabalhar para pagar escola particular para os dois, mas nem elas podem voltar. O que fazer entrar para as estatísticas do desemprego?” perguntou.

A mãe pensa em mandar confeccionar faixas e se sentar em frente à prefeitura pedindo a volta às aulas, pois caso a situação permaneça, ela não sabe mais o que fazer. “Será que não tem mais mães na mesma situação, impossível que seja somente eu, temos que fazer alguma coisa para que as crianças voltem para a escola. A cabeça e o coração das crianças e dos pais que tem que trabalhar não aguentam mais e ainda temos que lidar com a instabilidade dos governantes.

GRUPO DAS ESCOLAS PARTICULARES

A organizadora do Gepa (Grupo das Escolas Particulares de Araraquara), Ana Paula Freitas Ribeiro Alves, falou ao Portal RCIA sobre a reunião que tiveram com a prefeitura.

“Na reunião tivemos a participação de quase todos os representantes das escolas particulares de Araraquara. Dentre os principais pontos que foram discutidos foi o fato de entendermos a educação como essencial. Nosso posicionamento não é de querer voltar às aulas no pior momento da Pandemia, mas de se construir um diálogo e que seja traçado um horizonte no qual a educação tenha seu devido valor. As crianças já sofreram prejuízos imensos e talvez irreparáveis por esse período que ficaram longe da escola. Não é mais aceitável que haja flexibilização em outros setores sem que a educação esteja funcionando dentro das normas de porcentagem de atendimento e protocolos de segurança estabelecidos pelo decreto municipal. Também foi ressaltado que sem a conscientização coletiva, de uma mudança no comportamento da população, não vamos conseguir melhorar esses altos índices de contaminação dos últimos dias e que, portanto, a educação seria uma maneira de conseguir fazer essa mudança”, finaliza ela.

MÃE DE ALUNO NO GRUPO

Uma das participantes da reunião afirma que ela foi positiva. “Vai ser criado um grupo de Whatsapp entre a Prefeitura e alguns participantes da reunião. Eliana Honain mostrou que os casos estão subindo muito e estamos no pico. Que o intuito do Decreto Municipal foi diminuir a circulação de pessoas para diminuir o contágio. Que a sociedade contribuiu para o aumento de casos e a sociedade precisa agir para a diminuição. Que o acolhimento é possível, reforço, tutoria pedagógica, plantão de dúvidas, mas aulas com matéria nova só a partir de 1° de março se a pandemia permitir. Por isso, cada um tem que fazer a sua parte. Eles estão cientes da necessidade de retorno, algumas mães só faltaram pedir o retorno de joelhos. Só não retornou agora devido a esta piora da pandemia, inclusive, mudado o padrão e atingido os mais jovens. Foi positiva. Criou-se um canal, uma ponte. As perspectivas são positivas, mas a sociedade tem que manter o distanciamento social no momento para que não agrave e as aulas possam voltar.

A reunião com escolas particulares aconteceu de forma virtual nesta segunda

REUNIÃO DA PREFEITURA COM ESCOLAS PARTICULARES

Devido ao agravamento da pandemia, as aulas regulares e presenciais nas escolas só poderão retornar em 1⁰ de março (antes, estavam previstas para o início deste mês). Até lá, são permitidos reforço, recuperação, plantão de dúvidas e acolhimento emocional para até 35% da capacidade, seguindo o que é estabelecido pelo Plano São Paulo.

“A situação da pandemia é muito grave e é necessário cair a contaminação para evitar o colapso do sistema de saúde. É um cenário que exige ainda mais esforço do que todos nós temos feito. Araraquara sairá dessa se todos estiverem unidos e ‘remando no mesmo barco’. É Araraquara unida em defesa da vida”, afirma Edinho.