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Via Expressa: gargalos e histórias de uma obra subterrânea

Conheça alguns dos problemas da Avenida Maria Antonia Camargo de Oliveira e um pouco da história dessa importante via de Araraquara

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Alguns trechos da Via Expressa correm risco de afundar

Há muitos anos a Via Expressa preocupa a população e as autoridades, sobretudo em tempos de chuva, quando alagamentos chegam a dois metros de altura na baixada na região do terminal de integração.

A inundação assusta, mas o que de fato é motivo de temor é o que ninguém (ou pouca gente) vê: a precariedade da canalização que passa debaixo dela. Tanto que o Ministério Público do Estado de São Paulo, por meio da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo de Araraquara, ajuizou uma Ação Civil Pública para que a Prefeitura de Araraquara realize  “obras emergenciais em alguns trechos” da Avenida Maria Antônia Camargo de Oliveira.

Segundo o MP, um laudo técnico constatou diversas irregularidades nas galerias que canalizam o Córrego da Servidão, sob a avenida. De acordo com o setor de engenharia e perícias do Ministério Público, que vistoriou o local, há a necessidade de obras emergenciais para se evitar o colapso dessas galerias.

GARGALOS

Quem conhece a realidade da Avenida Maria Antonia Camargo de Oliveira, sabe que não é prudente transitar por lá quando chove muito, principalmente no trecho entre o Terminal Central de Integração e a Rodoviária.

As águas das precipitações pluviométricas descem da Vila e do Centro e desembocam na baixada da Expressa. As tubulações debaixo da via, que fazem a canalização dos córregos da Servidão, de um lado, e do Ouro, do outro, chegam ao limite da vazão.

O córrego do Ouro transborda. A falta de permeabilidade daquela área, devido a obras urbanas, ao solo rochoso e à sujeira, que entope bueiros e bocas de lobo, contribuem para as inundações.

A prefeitura sabe das condições atuais da tubulação. Para evitar que a situação se agrave ainda mais, já que na última década o local tem sido cenário de enchentes que chegaram inclusive a deixar vítima fatal, a administração corre contra o tempo para criar um plano de recuperação.

Córrego do Ouro transborda durante fortes chuvas

O PIOR ESTÁ POR VIR?

Na última década, o araraquarense vem assistindo à situação se agravando. Em 2012, a cidade ficou estarrecida com o desaparecimento de uma mulher idosa, levada pela fúria das águas durante um temporal. Terezinha Mansur, de 79 anos, sumiu após as chuvas. Ela e outras cinco pessoas estavam em uma van, que foi arrastada pela correnteza, próximo ao Terminal Rodoviário, um dos locais mais afetados pela força das águas do Rio do Ouro, que transbordou. Seus restos mortais foram encontrados mais de dois anos depois.

Via Expressa em dia de chuva forte fica intransitável

Em abril de 2017, o asfalto cedeu em um dos pontos da Via Expressa. Na época, funcionários da Prefeitura de Araraquara realizaram uma inspeção subterrânea na parte canalizada do rio, que passa debaixo da via, para avaliar suas condições.

Em março de 2018, parte do asfalto afundou novamente, abrindo um buraco em uma das faixas da Avenida Maria Antonia Camargo de Oliveira, próximo ao pontilhão da Barroso, no sentido Centro-Zona Norte. Na época, descobriu-se um lançamento clandestino de água vinda dos trilhos. Feito o reparo, não houve mais esse tipo de ocorrência na via.

INTERDIÇÃO EM CASO DE CHUVA

Embora descarte o risco iminente de rompimento de parte da tubulação, a Prefeitura já definiu medidas preventivas junto à Defesa Civil. “Em todo caso de chuva forte, a gente interdita a Via Expressa da Avenida Feijó até o balão da Avenida Sete de Setembro, pelo grande volume de água que pode ocasionar algum problema”, explicou Pelícolla em 2021.

Enquanto a preocupante situação no subterrâneo da Via Expressa não é resolvida, algumas ideias vão sendo ventiladas para sanar definitivamente essa questão da inundação no local para um futuro próximo. “Com a retirada dos trilhos, a intenção é que se faça um projeto de uma rede paralela, captando toda a água proveniente da Vila Xavier e jogando essa água mais para a frente, para evitar esse ponto de alagamento”, concluiu Pelícolla.

Projeto de canalização foi feito em 1935 e executado a partir da década de 1960

Em meados da década de 1930, o então prefeito Heitor de Souza Pinheiro elaborou um relatório sobre como deveria ser a obra

De acordo com documentos de 1935, publicados em 1937, o então prefeito Heitor de Souza Pinheiro elaborou um relatório sobre como deveria ser a obra. A Via Expressa seria chamada Avenida Araraquara e haveria um projeto de retificação e canalização do córrego da Servidão e abertura das duas marginais.

A canalização resolveria também uma questão de higiene, pois já naquele tempo a população fazia descarte irregular de lixo às margens do córrego da Servidão.

A avenida projetada abrangeria uma faixa larga de 45 a 50 metros, sendo de 15 a 20 metros para o canal e taludes e 15 metros para cada uma das marginais, com 9,50m na parte carroçável, capaz de comportar quatro filas de carros.  O comprimento da Avenida Araraquara iria do Campo de Aviação Bartholomeu de Gusmão até a estrada velha de Américo Brasiliense, nas proximidades da oficina da EFA. O projeto levaria de 6 a 8 anos para ser executado.

Clodoaldo Medina observa a obra de canalização do córrego, com 550m de comprimento, 8,4m de largura e 2,80m de altura

Porém, a canalização só teve início em 1963 com as obras do córrego da Servidão, durante o mandato do prefeito Benedito de Oliveira. A continuidade dessa obra e a conclusão do projeto do córrego do Ouro se deram em 1973, na gestão de Clodoaldo Medina. O projeto inicial da Via Expressa também sofreu várias alterações, inclusive em seu trajeto.

Canalização dos córregos: início das obras do Servidão foi feita pelo prefeito Benedito de OIiveira em 1963; continuidade do Servidão e conclusão do projeto do Ouro ocorreram na gestão de Clodoaldo Medina em 1973

TIPOS DE TUBULAÇÃO

São vários os perfis de tubulação ao longo da Expressa: Em arco, retangulares, ovoides e tubos. Em arco, medem 4,30m x 3,40m e 3m x 4,40m. Os retangulares são cinco tipos: 4m x 3,40m; 2,80m x 4m; 4m x 3,35m; 3,20m x 3m; e 2m x 3,10m. A de tubo mede de 1,20m de diâmetro e a ovoide tem 2,30m de altura. Cada trecho da Via Expressa tem um tipo de perfil. Há trechos com paredes de concreto, de pedra e de tijolos.

“A Via Expressa não foi feita por uma administração só. Foi uma obra feita por trechos. Uma administração começava, fazia um trecho, a outra fazia outro trecho. Devido a isso, existe diferença de perfis e tipos de construção”, contou o secretário.

A vazão máxima que a tubulação suporta, segundo o engenheiro Marcos Oliveira, da área de drenagem da Prefeitura, é de 100 metros cúbicos por segundo (100m³/s).

Agora, com a ação do MP, resta uma esperança de solução definitiva que acaba de vez com o receio do araraquarense de transitar pela Avenida Maria Antonia Camargo de Oliveira. Mas até tudo se resolver definitivamente, muita água vai passar por debaixo da Expressa.