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Atravessando o tempo Santa Casa de Araraquara celebra hoje 120 anos de fundação

Ainda que com dificuldades financeiras bem acentuadas nestes últimos anos e sempre disposta a investimentos, a Santa Casa de Araraquara comemora 120 anos de fundação neste dia 25, pontuando suas atividades no tratamento dispensado aos mais humildes.

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Cem anos atrás a Santa Casa comemorava o seu 12° ano de vida e o centenário da Independência do Brasil (7 de Setembro de 1922)

Em nota distribuída na manhã desta sexta-feira (25) a Santa Casa de Misericórdia diz que hoje está completando 120 anos de atividades e sua trajetória tem sido marcada por um trabalho solidário de doadores, da contribuição de voluntários e até da dedicação muitas vezes sobre-humana dos profissionais de saúde.

O fato inconteste, no entanto, é que a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Araraquara enfrentou e superou cada um dos obstáculos até aqui para comemorar neste 25 de fevereiro, 120 anos de existência. “É uma história de amor ao próximo”, resume o diretor-geral da Santa Casa de Araraquara, Rogério Bartkevicius. Nenhum organismo público ou privado, de qualquer natureza jurídica, nasce patrimônio afetivo de uma cidade. Torna-se. E a Santa Casa tornou-se.

É verdade que o hospital está na lembrança dos mais velhos, como o ginecologista Leonardo Cunha, cujo primeiro contato com o hospital se deu numa das relações mais puras, e por isso mais sublimes, que existem: a de avós e netos. Há 80 anos, em janeiro de 1942, quando ele contava 11 anos, a avó de Cunha faleceu no hospital. E ele tinha vindo de Itápolis (SP) visitá-la, com o pai, que era médico. Em 1970, Cunha muda-se para Araraquara. Aos 91 anos, ele é professor do Centro de Ensino e Pesquisa da Santa Casa. Chama a atenção que lá atrás a Santa Casa já fosse referência regional.

Ou então do pediatra e hoje diretor-secretário Valter Curi Rodrigues, à frente da instituição desde 2005, liderando as inúmeras conquistas recentes do hospital em gestão, processos, estrutura física, tecnologia e pessoas, além da recuperação da filantropia, da formação e organização do hospital de ensino e da parceria com a Universidade de Araraquara (Uniara). Ele se recorda dos médicos que, recém-chegado da residência médica no Rio de Janeiro (RJ), em 1968, convidaram-no para ingressar na Santa Casa: Cláudio Curti, Dudu Lauand e Bertolino Bruno de Almeida.

E está também nas lembranças dos mais novos, como o estagiário do departamento de Comunicação Pedro Santos. Quando a família dele veio de São Paulo (SP) para Araraquara, o primeiro emprego de sua avó foi na Santa Casa. Seu irmão nasceu no hospital. A maternidade seria transferida para a Gota de Leite em 2012. Para os jovens, além dos arquivos, a Santa Casa faz parte ainda dos sonhos. Pedro Henrique sabe que o hospital funciona como um fator de equilíbrio social.

Entrada da Santa Casa, pela Avenida José Bonifácio em 1930 com as irmãs que trabalhavam nos diversos setores do hospital

ANOS DE ESTRUTURAÇÃO

O provedor da Santa Casa, Marco Antônio Castelli Brandão, lembra que há cerca de 15 anos a instituição, sob a direção de Valter Curi Rodrigues, com o apoio do cardiologista Othon Amaral Neto e do gestor Jader Pires, vem seguindo uma tendência que pautava os hospitais filantrópicos, buscou a profissionalização da gestão, justamente idealizando a sustentabilidade da Santa Casa.

“Na realidade, o SUS foi evoluindo desde 1988 e os hospitais precisavam se profissionalizar, modernizar a administração, ser transparentes no uso de recursos públicos repassados por contratualizações, oferecer acolhimento, humanização e qualidade, ser eficientes no atendimento de alta complexidade, e por aí vai”, comenta. “E foi isso que a Santa Casa fez.”

Desde a participação, em 2009 e 2010, no Programa CPFL de Revitalização de Hospitais Filantrópicos, parceria entre a concessionária de energia elétrica e o Governo do Estado de São Paulo, a Santa Casa alcançou consecutivamente importantes avanços para a comunidade regional. Na ocasião, a diretoria da Santa Casa conheceu o pediatra especialista em saúde pública e administração hospitalar Giovanni di Sarno, hoje consultor do hospital, figura central para a obtenção da acreditação QMentum IQG International – Diamond.

Então, de 2014 para cá, vieram o ingresso como hospital estruturante do programa Santas Casas SUStentáveis; o Centro de Diagnóstico por Imagem; os novos leitos SUS e de convênio; a reforma do Centro Cirúrgico; a implantação do Soul MV Hospitalar, com o qual a Santa Casa tornou-se o primeiro hospital filantrópico do Brasil com software de gestão instalado na nuvem; a presença frequente na lista das melhores empresas para se trabalhar; a nova recepção e a revitalização da fachada histórica do hospital; a Clínica Santa Casa; o Hospital do Câncer de Araraquara; a primeira Santa Casa do estado a receber a acreditação QMentum IQG International – Diamond, metodologia de origem canadense que orienta e monitora padrões de alta performance em qualidade e segurança na área de saúde; e o plano de saúde próprio HSaúde.

Uma das remodelações em 1955

“Eu gostaria de dizer que o legado do Valter é imensurável, mas isso é elitista, e até injusto com ele. Porque as pessoas que só podem contar com o SUS, com a Santa Casa, que precisam do hospital, elas conseguem mensurar, sim. Elas sabem que a Santa Casa melhorou. O legado do Valter é facilmente perceptível para quem usou e quem usa a Santa Casa, é só comparar”, avalia Brandão.

No entanto, ele ressalta que as evoluções geram custos. “Aquela máxima que gestores de saúde costumam usar é totalmente verdadeira: vidas não têm preço, mas cuidados médicos têm custo. A aquisição – e a manutenção constante – de equipamentos, materiais hospitalares, medicamentos, tudo isso custa. Custa caro. E hoje em dia custa mais caro ainda”, diz.

A CONTRIBUIÇÃO DAS PREFEITURAS DA REGIÃO

A Santa Casaé referência em 30 especialidades de alta complexidade, como urgência e emergência, cardiologia, ortopedia, oncologia, neurocirurgia e oftalmologia, para 24 municípios, que totalizam mais de 1 milhão de habitantes.São cerca de 300 mil atendimentos por ano, entre cirurgias, internações, consultas, diagnóstico por imagem, exames laboratoriais e tratamentos oncológicos, o que demanda ampla estrutura física e operacional. A Santa Casa tem 23 leitos de Urgência e Emergência, 18 leitos de UTI Adulto e 156 leitos de hotelaria. São mais de 900 funcionários ativos, quase 300 médicos, perto de 500 alunos e estagiários e aproximadamente 60 residentes.

O hospital serve algo em torno de 250 mil refeições por ano para os pacientes internados. Só de arroz, são 2.395 quilos por mês – 28.740 quilos por ano. “É o maior restaurante de Araraquara!”, brinca o gerente financeiro da Santa Casa, Alexandre Durante.

O hospital revitalizado nestes últimos anos