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Com apoio do Sindicato Rural de Araraquara, oposição tenta derrubar clã da Faesp

O ruralista Paulo Junqueira, de Ribeirão Preto, integra grupo que busca derrotar Tirso Meirelles, filho de presidente da federação desde 1975. O Sindicato Rural de Araraquara já manifestou seu apoio, inclusive fazendo parte da chapa.

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Afonso Baldin e João Henrique de Souza Freitas, protocolando a chapa Nova Faesp em São Paulo

A chapa “Nova Faesp” já está inscrita, preenchendo todos os requisitos para concorrer e tentar derrubar o clã formado por Fábio Meirelles que por mais de 50 anos está no comando da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo. As eleições estão previstas para 04 de dezembro, uma segunda-feira, e, prometem ser uma das mais acirradas na história da entidade. A chapa “Nova Faesp” tem o apoio do Sindicato Rural de Araraquara e nela aparecem nomes de produtores do agronegócio regional.

Esse é o cenário desenhado até o momento para a eleição à direção da Faesp e que colocou em lados opostos o produtor rural Paulo Junqueira, presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto e Tirso Meirelles, vice-presidente da instituição e filho de Fábio Meirelles, 95, no cargo há 48 anos.

A Faesp é a entidade patronal da agricultura paulista, com 235 sindicatos rurais patronais filiados e 340 extensões de base que abrangem os 645 municípios paulistas. Um dos sindicatos participantes das atividades desta federação, é o de Araraquara, que congrega agricultores na região central do Estado de São Paulo, envolvendo vários municípios como Américo, Santa Lúcia, Rincão, Nova Europa, Boa Esperança do Sul, Gavião Peixoto.

Embora minoritária, é uma das associações donas da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), principal feira do agronegócio brasileiro realizada em Ribeirão e que gerou R$ 13,29 bilhões em intenções de negócios neste ano. É de lá também o empresário agro, Paulo Junqueira que encabeça o movimento de oposição à Família Meirelles.

A entidade foi bancada historicamente pela contribuição sindical obrigatória. Com o fim da obrigatoriedade nos últimos anos, os recursos do tipo caíram, mas ainda assim acumularam mais de R$ 3 milhões em 2021. Em 2016, o repasse chegou a R$ 16 milhões (R$ 22,4 milhões, corrigidos pela inflação).

Com fortes críticas à atual gestão, Junqueira é tratado como pré-candidato desde março, quando o tema foi levantado num evento ruralista em Ribeirão, do qual também participou Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa na gestão Bolsonaro.

Ele afirma que a Faesp é um feudo, por ter um presidente há quase meio século e que agora busca eleger seu filho para o cargo, e não tem transparência em relação a investimentos e atos. Disse preocupar o que considera mistura do público e privado envolvendo a Faesp e filhos de Meirelles e que não vê retorno de viagens feitas por Tirso ao exterior para participar de eventos.

Tempos atrás a Folha de São Paulo chegou a publicar uma reportagem mostrando que a entidade era utilizada para atender aos interesses dos cinco filhos de Meirelles, que foi deputado federal pelo então PDS entre 1991 e 1995. Assim, desde o anúncio do interesse em disputar, Junqueira recebeu apoio de ruralistas de cidades como Araraquara, Araçatuba, Barretos, Batatais, São Carlos, Catanduva e Fernandópolis.

“Pretendo disputar juntamente com presidentes de outros sindicatos, diretores, que não estão satisfeitos com a atual gestão. A gente monta uma chapa, [mas] não sei se nós vamos conseguir, porque isso aí [Faesp] é um feudo, uma capitania hereditária, que tem um presidente há 48 anos, que foi diretor anteriormente, está lá há quase seis décadas dirigindo e presidindo a federação. Tem o filho como um dos vice-presidentes […], na realidade ele é o presidente de fato já há algum tempo, porque quem representa a federação em todo e qualquer evento, seja nacional ou internacional, não é mais o presidente de direito”, disse Junqueira, em relação a Tirso.

A chapa “Nova Faesp, foi protocolada com a garantia de moralização e transparência na entidade” na segunda-feira (9), quando vencia o prazo de cinco dias para inscrições, conforme edital publicado quarta (4) pela Faesp no Diário Oficial de SP.

Junqueira criticou o prazo curto, reduzido pelos dias do final de semana, e disse que informações solicitadas são negadas, seja por telefone, e-mail ou ofícios, e que a disputa não é transparente. “Não sei quantos sindicatos estão aptos a votar. Para votar, o sindicato não pode, por exemplo, ter anuidade em atraso.”

Junqueira, também presidente da Assovale (Associação Rural Vale do Rio Pardo), é um bolsonarista raiz, de primeira hora, que acompanha o ex-presidente em eventos e o hospeda em sua fazenda, em Ribeirão Preto.

Embora seja apontado como o nome de consenso do grupo oposicionista, ele disse que seu objetivo é participar de uma chapa para disputar a eleição e que não faz questão de ser indicado à presidência.

Liderar uma instituição como a Faesp dá muita visibilidade, pelo fato de São Paulo ser o maior produtor de cana-de-açúcar do país e ter a maior produção de laranjas do mundo, além de outras culturas importantes, como o café.

No dia 09 de outubro quando foi encerrado o prazo para a inscrição de chapas, os representantes da “Nova Faesp” lá estavam em nome de Paulo Junqueira, entre eles, o engenheiro agrônomo João Henrique de Souza Freitas, vice-presidente do Sindicato Rural de Araraquara e coordenador do Senar, além do advogado Afonso Baldin e Daniel Oliveira, responsável pelo setor de Comunicação, ambos do Sindicato Rural de Ribeirão Preto.

“Sabemos que é difícil o caminho a ser percorrido, mas temos o direito, dentro de um regime democrático de nos manifestarmos e demonstrarmos o nosso grau de insatisfação com as decisões que são tomadas pela atual diretoria da FAESP”, disse João Henrique de Souza Freitas. Para ele, é importante que a categoria produtora ruralista entenda que nem todos estão satisfeitos com o trabalho da atual diretoria da FAESP – é preciso que alguém inicie uma luta para inovações e mudanças. “E nós estamos começando”, concluiu.