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Dia Nacional do Fusca: em Araraquara a velha história do carro que nunca acaba

Araraquara sempre teve um vínculo muito forte com as raízes da Volkswagen. Por exemplo: já teve um clube chamado Aravolks que chegou a receber em doação uma área da Prefeitura Municipal para a construção da sua sede própria. Não bastasse tem um admirador profundo pelo fusca, Alício Torres Júnior, ex-diretor do SESI e que foi vereador na cidade.

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Alício Torres Júnior e o único fusca conversível da cidade
Modelo da última série fabricada no País: um carro cinza chumbo 95, modelo 96, adquirido por Alicio em 2000

Dizem que depois de certa idade, o homem é igual ao fusca. Não importa o ano de fabricação e sim o estado de conservação. Comparações à parte, fato é que o fusca exerce um grande fascínio em muita gente.

O barulho peculiar do motor, o cheiro característico de seu interior, a lembrança de uma passagem da infância e a memória de pessoas queridas mexem com os sentidos dos “fuscamaníacos”. Tanto que até datas comemorativas esse carro tem. Dia 20 de janeiro é o Dia Nacional do Fusca. Já o Dia Mundial é celebrado em 22 de junho.

Alicio Torres Junior, 74, herdou a paixão pelo fusca de seu pai, ainda criança. Mas foi a partir da década de 1960 que ele adquiriu o primeiro de uma série. “Comprei meu primeiro fusca em 1966. Era um modelo 62”, revela o aposentado que foi diretor do SESI, em Araraquara.

Passadas mais de três décadas, o sentimento se fortaleceu e, no ano 2000, Alicio comprou um modelo da última série fabricada no País: um carro cinza chumbo 95, modelo 96.

A partir desse veículo, ele começou a projetar o “fusca dos sonhos”. “Sempre tive vontade de ter um fusca conversível. A partir desse último modelo feito no Brasil fiz o projeto no ano de 2004”, acrescenta Alicio.

Com as imagens no computador, Alicio, com o auxílio de um amigo, também funcionário do Sesi, fez os cortes de como gostaria que ficasse o veículo. Mas ainda faltavam encontrar o carro a ser modificado e quem executasse o serviço.

Alicio Torres Jr e seu fusca conversível: carro é guardado com todo o cuidado na garagem de sua casa

“Certa vez, estava em um lava-jato lavando meu carro e vi uma vespa totalmente restaurada. Perguntei para o dono da motocicleta quem havia feito o serviço e ele me passou um funileiro da Vila Xavier chamado Nei”, relembra Alicio.

Detalhe do painel e direção do veículo

Ele procurou o profissional, que abraçou o desafio. Alicio, então, comprou um carro velho no Pinguim e, um ano e meio depois, seu sonho se tornava realidade. “Registrei todas as etapas do projeto e da execução e em 3 de fevereiro de 2006 ele rodou pela primeira vez”, recorda.

Detalhe da roda do fusca conversível

Da mesma maneira que Alicio foi inspirado por seu pai a ter o “fusca dos sonhos”, a filha Larissa também pegou gosto pelo carro popular da Volks. E já que o pai conseguiu ter o fusca conversível que tanto desejava, ela ficou com o modelo cinza-chumbo, da última série produzida em solo brasileiro.

Detalhe do câmbio do fusca de Alicio Torres Jr

ARARAQUARA JÁ TEVE UM CLUBE VOLTADO PARA A VOLKS

Era 1970 e um grupo de jovens senhores, proprietários de carros que compunham a linha Volkswagen decidiram fundar um clube: o Clube Aravolks. É verdade que os modelos da época eram poucos e o fusca ainda se sobressaía. Associados não muitos, uns 50, mas o suficiente para as promoções sempre voltadas para a marca.

Na antiga Arauto é que os integrantes do clube se reuniam graças a gentileza de Militino Nogueira e Dante Laurini; uma vez por mês a agremiação apresentava, através seus diretores as propostas. Em datas típicas como São João, Dia dos Pais, Dia das Mães, Confraternização no final do ano, os sócios se reuniam com seus familiares e assim por alguns anos o clube suportou o peso da responsabilidade. A chegada de novas marcas contribuiu para a troca de veículos, e, nem todos tinham mais o fusca.

Reunião da diretoria do Clube Aravolks de Araraquara em 1971 na antiga Arauto, concessionária Volkswagen

Lourenço Arone, professor da Escola Industrial era uma das lideranças do clube; Barros, do DER estava na diretoria, assim como Edmundo Vicentine e tantos outros que até fizeram festa quando o prefeito Rubens Cruz fez a doação de uma área de 18.156,10 m² para o clube construir sua sede própria. Mas, a sede não saiu do papel. O terreno voltou para a Prefeitura Municipal.

O QUE A HISTÓRIA CONTA

Quando a Volkswagen do Brasil produziu o primeiro Fusca nacional, em 1959, o carismático modelo criado pelo professor Ferdinand Porsche ainda se chamava Volkswagen Sedan. A marca alemã colocava nas ruas brasileiras um automóvel com características únicas de design e que seria um dos modelos mais icônicos não só da indústria global, mas também local.

No Dia Nacional do Fusca, a VW celebra a história do seu mais tradicional modelo, recebe membros do Fusca Clube do Brasil e Fusca Club ABC, e apresenta em detalhes três unidades preciosas que compõem seu acervo de clássicos. É na Garagem VW – parte II, recém-inaugurada, que modelos dos anos de 1986, 1993 e 1996 repousam, sempre aos olhares atentos do time da engenharia da marca. “A oportunidade de gerenciar um acervo de veículos clássicos traz um misto de desafio, ao preservar essa história pelos próximos anos, e também de muita nostalgia, por poder viver cada produto, pensando em como aquela unidade marcou a indústria do País”, diz André Drigo, Gerente Executivo do Desenvolvimento do Produto.

O Fusca é sinônimo de curiosidades e boas histórias. Entre algumas particularidades, o modelo que saía da linha de produção da Anchieta em 1959 já era diferente do CKD, montado no Ipiranga desde 1953. Uma das novidades para o fabricado foi a introdução de uma barra estabilizadora para o eixo dianteiro. Na ocasião, o Fusca tinha um índice de nacionalização de 54%. Em seu primeiro ano de produção, o Fusca vendeu 8.406 unidades e, a partir de 1962, já era o grande líder do mercado, com um total de 31.014 unidades. E esse era só o começo de uma próspera história do modelo no Brasil. O Fusca foi líder do mercado por 23 anos!

CONHEÇA OS FUSCA DA GARAGEM VW

Fusca 1986, o último antes do hiato

A unidade, que saiu diretamente da linha de produção, está entre os últimos fabricados na “primeira fase” do modelo, que foi de 1959 a 1986. Esse simpático Fusca vermelho é equipado com motor 1.600 cm³ a álcool.

O sonho de qualquer um era ter um fusca

Fusca 1993, o Fusca Itamar

Fora de linha desde o fim de 1986, o Fusca voltaria a ser fabricado em 1993. O renascimento, inédito no mundo, veio de um pedido do então Presidente da República, Itamar Franco, que via na retomada da produção um caminho para a geração de empregos e um estímulo econômico. Um programa de isenção tributária foi especialmente moldado à motorização refrigerada a ar de Fusca e Kombi.

O exemplar que faz parte do acervo tem chassi número 9BWZZZ11ZPP00001, é o primeiro exemplar produzido na segunda fase de manufatura e o mesmo veículo apresentado a Itamar Franco na celebração do retorno da produção. Seu valor histórico é inestimável.

Uma linha especial com a pequena faixa verde e amarela

Cabelos ao vento no Fusca 1996

Em 1996, três anos após ter sua produção retomada a pedido do então Presidente da República Itamar Franco, o Fusca deixaria novamente a linha de produção da Planta Anchieta. Para a aposentadoria definitiva, a Volkswagen criou a Série Ouro: 1.368 exemplares diferenciados dos demais Fuscas “Itamar” por faróis auxiliares, lanternas escurecidas, logotipo nas laterais e a plaqueta “Fusca”, na tampa do motor, em dourado. No interior, bancos com revestimento de Pointer GTI, volante de Gol, painel com fundo branco e vidros verdes.

Encerrada a produção do Série Ouro, outros três exemplares foram convertidos em conversíveis pela Sulam (tradicional transformadora de veículos fundada em 1973). O último desses, chassi número 9BWZZZ113TP006623, pertence ao acervo histórico da Volkswagen do Brasil. Pintado na cor branca, com capota preta, o Fusca conversível do acervo traz o 1600 cm³ a gasolina, com motor injetado para o mercado mexicano.

Cabelos ao vento pois se tratava de um conversível

FUSCA, UMA HISTÓRIA QUE NUNCA ACABA

Carro que iniciou as operações da Volkswagen no Brasil, em 1953, montado em um galpão no bairro do Ipiranga. Seu motor tinha 1.200 cm³. A partir de 1959 começou a ser fabricado no País, já na unidade Anchieta, até 1986.

Durante todo esse período o Volkswagen Sedan foi sempre equipado com diferentes versões do motor quatro-cilindros refrigerado a ar — o câmbio foi sempre manual de quatro marchas e a tração, traseira. Primeiro, o motor passou de 1.200 cm³ para 1.300 cm³, a partir de 1967, com 45 cv brutos.

Em seguida, ganhou a versão de 1.500 cm³, introduzida em 1970, com 52 cv brutos. A potência veio associada à bitola traseira 62 mm maior, o que alterou o porte do modelo e lhe rendeu o apelido de “Fuscão”.

A versão de 1.600 cm³ viria em 1974, com dupla carburação, que rendia 65 cv brutos. Essa mudança veio acompanhada de aumento também na bitola dianteira, além de para-brisa maior, sistema de ventilação interna e pisca-alerta.

Ao longo dos anos foram sendo introduzidas melhorias como a coluna de direção bipartida, duplo circuito de freios independentes e comando do limpador de para-brisa na coluna de direção (1977), volante de polipropileno texturizado e as lanternas traseiras grandes e arredondadas apelidadas de “Fafá”(1979), aquecimento interno e ignição eletrônica (1983), entre outras. O modelo teve também várias reestilizações e séries especiais, como a Prata, de 1979.

Do original Volkswagen Sedan, o nome foi oficialmente substituído por Fusca em 1983. Em 1984, o modelo ganhou freios a disco na dianteira e passou a ser produzido apenas na versão 1.600 — no ano seguinte receberia versão 1.600 movida a etanol. Sua produção foi retomada em 1993 e durou até 1996. “É um privilégio poder mostrar três unidades raríssimas e totalmente preservadas durante as comemorações do Dia Nacional do Fusca. Foram 30 anos de produção do carro no País e mais de 3,1 milhões fabricados por aqui. O Fusca não é só um queridinho nosso, mas do mundo inteiro”, completa Drigo.