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Vítima da Covid morre o Tenente Isaias, ícone da Ronda 13 em Araraquara

“Heróis não morrem, vivem para a eternidade”. Essa é a frase que pai e filho (Isaias e Márcio) sempre ponderavam nas suas conversas ao recordarem atos de ousadia e coragem dos policiais militares no cumprimento de uma missão. Isaias, brilhante militar, foi sepultado nesta sexta-feira e ao longo da sua carreira tornou-se um orgulho para a corporação.

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Isaias, com o kepe da Aeronáutica em Pirassununga, onde serviu

Nos anos dourados da Polícia Militar em Araraquara o então sargento Bento Carlos Isaias, ou simplesmente Sargento Isaias e as vezes somente “Cal”, se tornou uma das principais peças em defesa da segurança pública. A frase “Araraquara dormia tranquila” parecia ser então componente da cidade emergente que começava a receber empresas de grande porte para suporte a nossa economia. Paralelamente, nestes anos 70/80, também o município saltava no seu índice populacional com o surgimento de bairros como o Selmi Dei com mais de mil casas.

A Ronda 13, da qual Isaias fazia parte tinha a marca da segurança; ele era o chefe de uma equipe (13.113) que se completava pelos policiais Teixeira, Gianini e Mota. As outras duas equipes tinham Sccozaffe, Cabo Hugo, Marcão, Cagnin, Sitta e Reis com revezamento cada 12 horas. “Ele sempre foi um excelente profissional, respeitoso, cumpridor das normas e também o regimento da nossa Polícia Militar”, conta o coronel Valter Gomes de Oliveira, que por longos anos foi um dos profissionais mais ativos da corporação.

Ainda jovem em atividade na FAB em Pirassununga

Cinquenta anos depois desta epopéia vivida por militares que serviram a Ronda 13, familiares e amigos se reuniram nesta sexta-feira (26), por volta das 14h, para se despedirem do agora Tenente Isaias, vítima da Covid-19. Ele vinha trabalhando como supervisor de serviços ambientais em uma pedreira na cidade de Mogi das Cruzes, onde também vivia com a esposa Selma. Isaias, além de cuidar da retirada das pedras acompanhava o reflorestamento das áreas devastadas.

Pouco antes do sepultamento o cerimonialista destacou – “Estamos aqui para homenagear a vida e a história do grande homem que foi Bento Carlos Isaias que nos deixa aos 74 anos obedecendo a um plano de Deus. Militar por profissão na patente de Tenente da nossa querida Polícia Militar trabalhou por 30 anos na Ronda 13. O Tenente Isaias foi sempre figura marcante nas unidades em que serviu. Dotado de incontestável liderança, conhecimento técnico, iniciativa e espírito de equipe, serviu sempre como referência a seus subordinados, pares e superiores”.

Uma das históricas equipes da Ronda 13 nos anos 70: Teixeira, Gianini, Hélio e Isaias, que comandava o grupo

Mais adiante vieram palavras que pontuaram sua vida familiar: “Cal, como chamado carinhosamente viveu um grande amor com dona Selma, foram 50 anos de amor, companheirismo, dedicação, carinho, amizade e até alguns desentendimentos. Deste lindo amor vieram os filhos Marcio, Alessandra e Carlos e alguns agregados, as noras e o genro. Como pai Cal foi ensinamento, respeito, amizade, carinho o grande herói dos seus filhos. Pai duas vezes, já que foi avô do Fabinho, do Neto, da Gabriela, Paulo, João Pedro, do Davi e da Maria Eduarda; também bisavô da Maria Luiza e da Marina e fazia questão, mesmo morando longe, de ver as bisnetinhas todos os dias pelo WhatsApp”.

O filho Márcio disse ao RCIA que o pai Isaias pela atividade profissional que exercia em Mogi das Cruzes tinha que fazer o teste para covid – cada 15 dias e todos vinham apresentando resultado negativo, inclusive o que foi feito nesta terça-feira: “Ontem ele me ligou, reclamou de dores no peito e disse que passaria por consulta. No final da tarde soube após os exames que 85% dos pulmões estariam comprometidos e no começo da noite ao ser intubado teve parada cardíaca, entrando em óbito”, comentou. Até então, Isaias trabalhou normalmente na parte da manhã.

Festa familiar sempre foi uma das características do casal Selma-Isaias

No final da cerimônia de sepultamento a homenagem teve seu ponto de reflexão: “ A morte para os salvos não é o fim da vida, mas um novo começo. Para o salvo, morrer é ser liberto das aflições deste mundo e do corpo terreno para ser revestido da vida e glória celestiais. Não importa aonde você parou e em que momento da vida você cansou, o que importa é que sempre é possível e necessário recomeçar. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida, e o mais importante, acreditar em você mesmo de novo. Hoje o Cal se encontra com seu filho e sua neta, mas deixa aqui muita saudade e inspiração”.