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Ferroviária 70 anos: A Taça dos Invictos foi a alegria em uma década difícil

Os 14 jogos de invencibilidade para a conquista da Taça dos Invictos foi a alegria nos anos 70 para o torcedor da Ferroviária. A década foi marcada por conquistas fora de campo e de perdas, como a despedida de Bazzani dos gramados e da tragédia envolvendo o goleiro Carlos Alberto, além do "Caso Tião da Galera"

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Um dos times da Ferroviária em 1971: Em pé: Getúlio, Baiano, Ticão, Mauri, Fernando e Zé Carlos; Agachados: Tonho, Zé Luís, Ademir, Lance e Nei

Passado os anos dourados, a RCIARARAQUARA resgata agora o terceiro período de existência da Ferroviária, talvez o mais difícil e determinante para os anos seguintes.

Antes, em 1971, a equipe chegava a mais uma grande conquista, um fato raro para os clubes do interior de São Paulo. Com 14 jogos de invencibilidade, a Ferroviária conquistou a IV Taça dos Invictos, promovido pelo jornal “A Gazeta Esportiva” na época.

A conquista veio durante o Torneio de Classificação, o popular Paulistinha, que dava vaga para o Campeonato Paulista. A sequência começou no dia 3 de outubro e seguiu até o dia 12 de dezembro. Foram seis vitórias e oito empates, sendo que marcou 17 gols e sofreu apenas sete, com sete jogos realizados na Fonte Luminosa e outros sete fora. Confira a sequência:

1º – 3/10 – Ferroviária 4×2 Noroeste
2º – 6/10 – Ferroviária 0x0 Paulista
3º – 10/10 – Botafogo 1×3 Ferroviária
4º – 24/10 – Ferroviária 3×0 Guarani
5º – 27/10 – Juventus 0x0 Ferroviária
6º – 31/10 – Marília 1×2 Ferroviária
7º – 7/11 – Ferroviária 1×0 América
8º – 14/11 – Comercial 1×1 Ferroviária
9º – 21/11 – Ferroviária 0x0 Portuguesa Santista
10º – 24/11 – XV de Piracicaba 1×1 Ferroviária
11º – 28/11 – Ferroviária 0x0 São Bento
12º – 1/12 – Noroeste 0x0 Ferroviária
13º – 5/12 – Paulista 1×1 Ferroviária
14º – 12/12 – Ferroviária 1×0 Botafogo

Após o Paulistinha, a equipe disputou o Torneio Laudo Natel em 72. Diante do América, empatou por 1 a 1 no tempo normal e venceu nas penalidades por 4 a 3. No jogo seguinte, encarou o Palmeiras, no Parque Antártica, e foi derrotada por 1 a 0, perdendo a invencibilidade de quase cinco meses.

O troféu foi entregue apenas no dia 19 de março, quando encarou a Ponte Preta, na Fonte Luminosa, e venceu por 3 a 2, válido pelo Campeonato Paulista.

A MORTE DE CARLOS ALBERTO

O episódio mais triste envolvendo um jogador da Ferroviária foi com o goleiro Carlos Alberto Alimári, que morreu aos 27 anos. Ainda durante a disputa do Paulistinha de 71, após a vitória no clássico contra o Botafogo no dia 10 de outubro, alguns jogadores da equipe realizaram uma pescaria no dia seguinte, no rio Mogi-Guaçu.

Junto com Carlos Alberto, estavam Ticão, Lula e Paulinho. No período da tarde, os quatro saíram com o barco e, em meio ao trajeto, uma forte correnteza acabou castigando-os e naufragaram. Os três amigos de Carlos Alberto conseguiram se salvar, menos ele.

As buscas por ele feita pelo Corpo de Bombeiros e Polícia Militar, junto com assistências de helicópteros, duraram dois dias e deixou toda a cidade apreensiva. No dia 13 de outubro, por volta das 23h, seu corpo foi achado preso a galhos de árvore, sem vida.

O seu corpo foi  velado na antiga sede da Ferroviária, na Avenida Duque de Caxias, e foi sepultado no Cemitério Campo Grande, em Santo Amaro, em São Paulo. O então prefeito araraquarense, Rubens Cruz, decretou luto oficial de três dias.

Em pé: Carlos Alberto, Baiano, Fogueira, Begluomini, Bebeto e Rossi. Agachados: Waldir, Leocádio, Almeida, Bazzani e Nei – Crédito: Terceiro Tempo

AQUISIÇÃO DA FONTE LUMINOSA

Ainda em outubro de 1971, através de concessão, a Estrada de Ferro Araraquara deixaria de existir, passando a ser da Ferrovia Paulista S/A (FEPASA). Com isso, todo o patrimônio da Fonte Luminosa e o Parque Aquático pertenceriam a nova sociedade anônima.

Porém, chegou um certo momento que o estádio precisaria passar por reformas para melhorar as suas instalações, principalmente nas arquibancadas. Para isso, era necessário adquirir a Fonte.

Muitas tratativas aconteceram ao longo deste período e, através do presidente grená, Dr. José Wellington Pinto, do deputado federal, Aldo Lupo, e da Prefeitura de Araraquara, concretizaram no dia 29 de janeiro de 1973 a aquisição de todo o complexo da Fonte Luminosa por Cr$ 500 mil.

A solenidade contou com o prefeito Rubens Cruz e do vice José Alberto Gonçalves, além do governador do estado de São Paulo, Laudo Natel, e do Secretário de Transportes, Paulo Maluf.

A DESPEDIDA DE BAZZANI

É difícil quando se menciona Ferroviária não “a Ferroviária de Bazzani”. Nascido em Mirassol, Olivério Bazzani Filho se identificou com a camisa grená logo em 1955, quan

Busto de Bazzani na entrada no estádio da Fonte Luminosa – Crédito: Paulo Micali

do ajudou a conquistar o primeiro acesso do clube na elite Paulista.

Não jogou na Locomotiva entre 63 e 64, quando foi adquirido pelo Corinthians. O sistema tático implementado no time paulistano não favorecia o meio-campista, que se sentiu “preso”. De volta a Ferroviária, esteve presente no acesso de 1966 e participou das três excursões no exterior (60, 63 e 68) e ficou até 28 de março de 1973, quando foi realizado um amistosos de despedida.

A derrota para o Guarani por 1 a 0 pouco importou, mas era a última deixa de Rabi. Aliás, não foi. Se perpetuou e é lembrado até hoje não só como jogador, mas como pessoa. Foram 758 partidas com a camisa grená, anotando 244 gols.

TEMPO DE VACAS MAGRAS

Mesmo com aquisição e reformas na Fonte Luminosa, dentro de campo o desempenho não foi o mesmo.

A conquista da Taça dos Invictos foi o que consolou a década de 70 afeana. Sem contar mais com ajuda de recursos vindo da EFA, a equipe fez campanhas irregulares no Paulista e Paulistinha, lutou contra as últimas posições e participou de diversos torneios deficitários.

As dividas foram pagas ao longo dos anos, mas conseguiu resistir. O trunfo começou a vir das categorias de base, surgindo nomes como Sérgio Bergantim, Mauro Pastor, Wilson Carrasco, Marinho, Douglas Onça, Ademir, Muri e entre tantos outros.

A TAÇA DE PRATA E O “CASO TIÃO DA GALERA”

Já no fim dos anos 70 e começo de 80, a Ferroviária foi convidada pela Confederação Brasileiro de Futebol para participar da Taça de Prata, equivalente a Série B do Campeonato Brasileiro.

Com a participação de 64 clubes, foram divididos oito grupos com oito equipes em cada, disputado em turno único. Na segunda fase, os campeões de cada grupo disputaram o sistema mata-mata, sendo que os vencedores já garantiriam vaga para a Taça de Ouro (Série A do Brasileiro).

Na primeira fase, a Ferroviária terminou na segunda colocação do Grupo F com nove pontos, atrás apenas do Bangu, que terminou com 11 e conseguiu o acesso. Outras equipes que estavam na chave eram Botafogo de Ribeirão Preto, Internacional de Limeira, Noroeste, Goytacaz, Campo Grande e Serrano.

Com a vice-liderança, a Locomotiva disputou mais uma fase de grupos com outros 19 clubes e foram divididos em quatro grupos com cinco equipes em jogos únicos, onde o campeão de cada grupo se classificava às semifinais.

A equipe grená ficou no Grupo P, com ABC-RN, América-MG, Juventus e Uberaba, e passou na primeira colocação para encarar o CSA-AL no mata-mata. A outra semifinal foi entre Botafogo de Ribeirão Preto e Londrina.

Em jogos de ida e volta, a Locomotiva acabou sendo derrotada por 1 a 0, em Alagoas, e precisava reverter o resultado na Fonte Luminosa, mas acabou sendo novamente derrotada por 1 a 0.

No início da segunda etapa deste prélio, quando já perdia por um tento, o atacante Paulo Borges acabou desperdiçando penalidade, o que poderia trazer um ânimo diferente na partida.

Em pé: Vica, Tião da Galera, Samuel, Carlos, Zé Rubens, Nandes e Zé Roberto.
Agachados: Paulo Borges, Douglas Onça, Volnei, Washighton, Bispo e Galdino

Porém, o que chamou atenção na partida foi a atuação do arqueiro grená, Tião da Galera. O gol sofrido foi de duras críticas por parte da torcida e da imprensa araraquarense, pois, segundo relatos, era uma boal defensável, o que levantou suspeitas.

Dois anos depois, a Revista Placar publicou uma matéria em que seria feita a denuncia da “Máfia da Loteria”, onde vários empresários “compraram” jogadores para obter resultados favoráveis  em suas apostas na Loteria Federal.

Na lista de denunciados, estava o empresário húngaro, Janos Tratai, que era conhecido de Tião desde os tempos de CSA, que também defendeu antes de jogar pela Ferroviária naquele ano.

Em 80, o repórter Wagner Bellini, encontrou Tratai na cidade, mas o empresário utilizou o nome de Juan, tratando-o como “empresário mexicano” e que estaria interessado na contratação de Tião para um clube.

Na matéria publicada por Flávio Moreira na Placar, confirma que Tratai realmente “comprou” o goleiro.

Após o término da competição, Tião da Galera foi vendido para o Bangu do Rio de Janeiro.

Fontes: Blog “Ferroviária em Campo”, de Vicente Baroffaldi; Livro “Fonte Luminosa”, de Luis Marcelo Inaco Cirino