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Joias das Arábias: advogados lutam para que Bolsonaro não seja denunciado

O sociólogo e jornalista José Maria Viana escreve sua coluna Bastidores aos domingos no RCI. Nesta edição ele relembra o caso das “Joias das Arábias” e que a Polícia Federal também já tem provas colhidas em mensagens de que Jair Bolsonaro recebeu dinheiro em espécie da venda delas.

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Michele, as joias e Bolsonaro

INCITANDO INSSURREIÇÃO
A Polícia Federal já chegou a elementos concretos do papel de Jair Bolsonaro na incitação de uma insurreição. Ele próprio confirmou que enviou notícias (falsas) ao empresário Meyer Nigri que atacavam a credibilidade das eleições e pedia ao aliado que repassasse “ao máximo” o texto a seus apoiadores nas mídias digitais. “Eu mandei para o Meyer, qual o problema? E daí? Lamento. Quer que faça o quê”, admitiu, fazendo pouco caso de pagar pelos riscos dos atos.

INCITOU OS GOLPISTAS
O então presidente usava o cargo e a autoridade para ampliar informações falsas que corroíam a credibilidade do processo eleitoral e que serviriam depois para ataques golpistas, insinuando uma trama liderada pelo TSE. A notícia se espalhou entre seus seguidores como um rastro de pólvora. Meses depois, esses mesmos seguidores, usariam aqueles argumentos num movimento golpista que culminou no 8 de janeiro: a invasão dos prédios dos Três Poderes.

POR TRÁS DO GOLPE
A Polícia Federal encontrou também mensagens distribuídas por Jair Bolsonaro que citavam um conflito violento como consequência da campanha de desinformação orquestrada por ele. “O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil”, acentua em um dos textos. Já sobram provas de que o então presidente era um membro ativo de uma conspiração que pretendia derrubar o governo eleito e que culminaram por fim nos ataques do 8 de janeiro.

CRIME DE PECULATO
No caso das “Joias das Arábias”, a Polícia Federal também já tem provas colhidas em mensagens de que Jair Bolsonaro recebeu dinheiro em espécie da venda delas. A luta de seus advogados é evitar que ele seja acusado de crime de peculato – desvio inadequado de dinheiro público por pessoa encarregada de o administrar – que poderia render no final uma cadeinha mínima de três meses e máxima de um ano. Se ficar, pega cadeia, se fugir, Haia o pega!

DELAÇÃO PREMIADA
Apesar de ficar calado o tempo todo – na investigação da Câmara do Distrito Federal – usando o seu direito constitucional de não se incriminar, Mauro Cid acabou por entregar a joia, na sua apresentação, ao dizer que era apenas “um ajudante de ordens do presidente indicado pelo Exército” e que só fazia aquilo que lhe mandavam fazer. Que autonomia nada! A Câmara Legislativa do DF pretende oferecer uma delação premiada a Cid para ele contar todo o resto.

IMAGEM ABALADA
O comandante do Exército, Tomás Paiva, expediu ordem interna para resgatar o brio dos militares e restabelecer a imagem da instituição abalada nos anos de Jair Bolsonaro (PL). Antes, porém, investigação duvidosa das Forças eximiram seus membros de responsabilidades nos ataques de 8 de janeiro, quando na verdade já há provas suficientes do envolvimento direto e indireto de militares tanto da ativa quanto da reserva em apoio e conivência aos atos.

PUNIÇÕES SEVERAS
Tomás Paiva detecta insatisfação na caserna de patentes inferiores que só veem benefícios aos superiores (salários, gratificações). Quer aumentar o soldo das baixas patentes insatisfeitas, pela sua análise, com a conjuntura política e a investigação de seus membros. A medida mais acertada do General seria cuidar da despolitização da Força, investigar e punir severamente os que se desviaram. Análise errada não limpa a Força. Aumenta o corporativismo e os privilégios.

LULA X LIRA-CENTRÃO
Lula qualificou o presidente da Câmara dos Deputados e líder do Centrão, Arthur Lira, como adversário e trata a aliança com o bloco como uma concessão amarga. Por isso demora na negociação, empurrando com a barriga. No governo não há garantia de que o Centrão entregue na Câmara os votos necessários à base, na proporção do tamanho do bolo que vão comer. O valor de face, pode ser maior que o retorno. Cozinha para ganhar tempo e manobra.

BRICS A REINVENÇÃO
Os Brics – união de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – nasceram com pontos comuns em vastos territórios, potencial econômico e contraponto à hegemonia dos EUA. Pouco de concreto foi levado adiante em 14 reuniões até agora. A recente cúpula em face das mudanças globais provocadas pela disputa comercial entre EUA e China, a crise advinda da Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia, mudaram os objetivos iniciais. O bloco precisa se reinventar.

MAL ACOMPANHADOS
A única coisa concreta do clube, é o Banco Brics, dirigido pela ex-presidente Dilma Roussef. Não se sabe para que serve e tem sua liquidez questionada. Lula propôs, como já fez com o Mercosul, a criação de uma moeda específica para o negócio entre os países e foi aprovada a entrada de seis novos sócios, os ricos: Arábia Saudita e Emirados Árabes e os falidos: Argentina, Etiópia, Egito e Irã. O desenho fortalece a China e Brasil assume posição secundária.

CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
O STF deve formar maioria para descriminalizar a maconha para usuários. Já o Conselho Federal de Medicina-CFM e a Associação Brasileira de Psiquiatria-ABP viajam na contramão da história ao dizer que a “maconha causa dependência gravíssima”. Pesquisa da ABP de 2022, diz: dependência da “maconha: 10%, álcool: 15%, opioides: 23% e tabaco: 32%”. E mais: que a “descriminalização amplia o poder do tráfico e contribui com o aumento da violência”. Balela!

FIQUEM CALADOS!
Estudos mostram que a “Lei Seca nos EUA” (1920-1933) explodiu a criminalidade e foi reduzida com a legalização das bebidas naquele país. Para Mark Thornton, pesquisador, “a legalização mina o tráfico porque abre concorrência para produtos melhores e retira as armas do meio do negócio”. O CFM e a ABP dizem ainda que só países que agiram com rigor contra as drogas conseguiram diminuir o consumo. É mentira! O tabaco nunca foi proibido e o consumo caiu.

NUNES E MARTA
O apoio do Partido Liberal-PL para que Marta Suplicy seja a vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes de São Paulo – Bolsonaro não aprova – pode turbinar de vez a candidatura do alcaide, deixando para trás Guilherme Boulos (PSOL) apoiado por Lula-PT. Os do contra dizem que Marta apoia LGBTQIA+ etc. e os favoráveis que ela é querida nos bairros da São Paulo e ninguém melhor que ela para dar a vitória a Nunes. A guerra é pela eleição de 2026! Veremos!