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Nicolau de Souza Freitas, 79 anos depois lembra as velhas histórias de família

Nascido e criado na roça, também aluno de escola rural, Nicolau guarda as lembranças e os atropelos da vida, mas agradece a Deus pelos 79 anos comemorados nesta semana ao lado dos familiares, que ele sente ser o estímulo para dar continuidade às conquistas como homem do campo.

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Nicolau de Souza Freitas em viagem à Alemanha para participar da Feira de Anuaga, uma das mais importantes do mundo na área do agronegócio
Casal Maria Teixeira Ferreira-João de Souza Freitas (pais de Nicolau); João chegou ao nosso país com apenas seis anos de idade e aqui construiu família

“A agricultura rapidamente vai se adaptando ao uso da tecnologia, mas a essência da atividade ainda é a mesma: o produtor rural trabalha com a natureza, utiliza os recursos do solo em conjunto com os maquinários e outros equipamentos para produzir”, conta o produtor rural Nicolau de Souza Freitas, que nesta semana completou 79 anos.

“Posso dizer que me sinto muito feliz, consegui realizar grande parte dos meus sonhos, sempre contando com a colaboração e o apoio dos meus familiares e amigos”, argumenta o homem criado na roça e em trabalho pesado, chegando à presidência do Sindicato Rural de Araraquara, onde permanece por mais de 25 anos.

Dois momentos da infância no Sítio São Paulo

Quando chamado para falar do passado, ele lembra até com enorme orgulho: “A vida era difícil; tinha que aliar os primeiros passos da escola com a roça. O primeiro ano escolar foi feito no Grupo Escolar Carlos Baptista Magalhães; o segundo e o terceiro anos aconteceram no Grupo Escolar Pedro José Neto. Ele e os irmãos Hilário e Isabel vinham de trem. O quarto ano acabou sendo feito na Escola Rural de Rosa Martins.”

Em 1930, João criou no Sítio São Paulo a Escola Santa Tereza para atender os filhos dos colonos que lá estudavam do primeiro ao terceiro ano, sob a direção do professor Bento Aragão (sentado na extrema direita). Ao seu lado está o antigo diretor da Delegacia de Ensino

Uma propriedade que hoje Nicolau possui faz parte do inventário familiar, décadas atrás, quando os avós vieram de Portugal; foi neste lugar que nasceram de maneira espontânea as frases simples aprendidas e ditas por ele, traços que mantém até hoje e que passaram a fazer parte da sua própria vida.

A humildade, uma característica do homem do campo, o colocou na lista de produtores e daí na presidência de um dos mais importantes sindicatos patronais do interior. “Ainda acredito que é possível manter acesa a chama da esperança por dias melhores para nossa classe. Sempre estarei lutando por este ideal”, confessa Nicolau, ainda hoje.

Nicolau ainda moço puxando cana para a Usina Santa Cruz; foi fazendo esse serviço que ele conheceu a esposa Iracema, em Santa Lúcia

Sua história de trabalho, no entanto vai bem mais além do que se imagina. Com 23 anos, continuava a trabalhar no sítio da família, indo também “puxar cana” para ter renda extra no final do mês. Nesta época, trabalhando na lavoura em Santa Lúcia, conheceu sua esposa Iracema Rosa dos Santos. Foi um namoro de 10 anos: casaram em junho de 1978. Tempos depois, sentindo a necessidade de tornar fácil os estudos para os filhos, Nicolau e Iracema se mudaram para Araraquara.

Hilário e o irmão Nicolau em 1960 levaram a mãe Maria até a Aparecida do Norte em um caminhão; também foram pagar promessa os trabalhadores do sítio, viajando na carroceria por 414 km, quase sete horas de viagem
Enlace matrimonial de Nicolau de Souza Freitas e Iracema Rosa dos Santos em 1978

O casal possui três filhos: João Henrique casado com Fernanda Bueno; Fernanda casada com Eduardo Abbud e Luiz Marcelo casado com Mariana. A família se completa com os netos Maria Clara, Laís e Lucas.

Em 25 de julho de 2016, Nicolau de Souza Freitas foi homenageado no Dia do Produtor Rural: uma grande festa para quem soube ao longo do tempo manter seus traços, prosperar e realizar uma gestão das mais significativas como presidente do Sindicato Rural.

O TRABALHO

Chegou um dia em que a propriedade da família foi dividida: era o momento em que cada irmão poderia tocar o seu próprio negócio. A divisão ocorreu entre Nicolau e seus irmãos Hilário e Antônio. Na verdade eles compraram mais terras, aumentando consideravelmente o patrimônio familiar.

Nesta foto dos anos 60, João já havia falecido e Maria reuniu os filhos para um momento histórico no casamento de Carmém e Hilário. Em pé da esquerda para a direita: Carmém, Nicolau, Hilário, Antonio, João, Adélia e Fátima; sentadas: Isabel, Umbelina, a matriarca Maria, Tereza e Cecília

“Quando fizemos o acerto e dividimos, cada um ficou com uma parte. O sítio onde cresci ficou com o meu irmão Hilário (nome em homenagem ao avô) que até hoje mora no mesmo lugar. Por aquele pedaço de chão, meu irmão tem um grande carinho”, diz Nicolau.

Naquele sítio, as primeiras plantações foram de café; anos mais tarde, devagar, seus pais Maria Teixeira Ferreira e João de Souza Freitas começaram a plantar laranja, junto com soja, milho e cana-de-açúcar. Segundo Hilário, irmão de Nicolau, era um tempo em que as coisas caminhavam de modo mais fácil: “Os custos da produção rural se tornaram elevados e quase que inviáveis”, arremata.

Em 25 de julho de 2016, Nicolau de Souza Freitas foi homenageado no Dia do Produtor Rural

No momento, Nicolau planta somente laranja e cana. Com seu irmão Hilário, ele demonstra muita esperança em melhores dias para o homem do campo: “Como dirigente de classe, devo admitir que a nossa luta tem sido grande, afinal o agronegócio é o que atualmente carrega a economia do país”, conclui o produtor.

Sua história sempre teve esse forte apelo e vínculo familiar. Como muitos outros imigrantes ainda que fosse um tempo de sonhos seria importante continuar mandando mensagens de otimismo para o outro lado do mundo, no caso à Família Souza Freitas oriunda do Funchal, na Ilha da Madeira, a partir de maio de 1888, quando Hilário (o avô) e seus familiares embarcaram no Porto de Lisboa com destino ao Brasil para se encontrar com Alfredo, o filho que a esta altura já estava empregado.

Toda família reunida, motivada pela força da união

No dia 16 de abril, se vivos estivessem – Maria e João, pais de Nicolau – estariam completando 100 anos de casados, também ao lado de outros 9 filhos: Tereza, Umbelina, Cecília, Adélia, João, Fátima, Isabel, Hilário e Antônio.