Sábado, 12 de janeiro de 1957, a Av. Sete de Setembro estava em plena efervescência. Era o principal corredor comercial depois da Rua Nove de Julho. A região desembarcava para as tradicionais compras de fim de semana. No Bar do Joanico, Avenida Sete de Setembro com a Rua 12, um pequeno grupo discutia a fundação de um time de futebol amador. Vários nomes na mesa, porém, entre uma cerveja e outra saiu Andaray – até por uma questão sentimental, pois Arino – que chefiava o grupo, queria homenagear seu pai Namedes, nascido no Bairro do Andary no Rio de Janeiro.
O clube Andaray tornou-se ao longo de uma existência de quase 20 anos num dos mais famosos e carismáticos times de futebol amador representando o bairro do Carmo. Seu começo foi nos “bate-bolas” em terrenos baldios da Rua Pedro Álvares Cabral, a Rua 10. O primeiro jogo de camisas e a primeira bola foram doados pelo pai do fundador, Namedes Rodrigues, lembra o filho Arino, que hoje reside em São José do Rio Preto. Andaray, na verdade provém da expressão indígena “Andirá-y”, que pode significar “Rio de Morcegos”.
SEDE ERA O BAR
Reuniões, campanhas, negociações e promoções, tudo seguia um ritual no Bar do Joanico, sede do time. Até mesmo a concentração dos torcedores que rumariam para o Estádio Municipal era feita alí; tanto na ida, quanto na volta, depois dos jogos, quando diretores, jogadores e torcedores “lavavam a roupa”, tudo com o maior respeito, afinal “dona Maria”, esposa do Joanico fazia parte do atendimento familiar. No bar também eram guardados os troféus conquistados pelo time.
Entre uma recordação e outra, 50 anos depois, Arino revelou que o mascote foi inspirado no “elefante vermelho” do Clube Atlético Linense. Ele foi o símbolo do Andaray em sua trajetória, mostrando força, resistência e ousadia. Daí surgiu o slogan “Elefantes do Carmo”, pelo saudoso repórter Geraldo Moreira, que escrevia para O Imparcial e depois Diário da Araraquarense. O slogan ganhou força no Programa Resenha Esportiva, da Voz da Araraquarense e Bola Número Cinco, da Rádio Cultura, nos fins de tarde.
Além das reuniões e confraternizações realizadas no bar, o clube fazia promoções para arrecadar fundos para manter o futebol. Feijoadas e jogos de Tômbola eram no “Encontrão”; apostas em resultados de jogos do amador (bolão) circulavam pelo bairro onde 40% eram do Andaray e 60% dividido entre os acertadores. Outra tradição era a famosa rifa do “pato assado”, preparado por “dona Maria”, todos os domingos no bar.
AS GRANDES CONQUISTAS
Dos atletas que jogaram pelo Andaray desde o início da sua fundação muitos já faleceram, no entanto, ficou para a história o trabalho de Arino e seus companheiros de diretoria, a dedicação e abnegação por um ideal, longe da vaidade e ganância do que se vê agora. As glórias são pontuadas pelo tempo e não há como apagar.
Em novembro de 1963, a cidade parou para acompanhar a grande decisão do Campeonato de Futebol Amador. O Andaray decidiria o título com a poderosa Usina Tamoio apoiada com o investimento financeiro da Família Morganti. Durante toda a semana, Dorival Falcone, da Voz da Araraquarense, deu força à grande decisão. Da mesma forma, Sidney Schiavon, pela Rádio Cultura. E, com o Municipal tomado pela torcida do Carmo e o grande número de torcedores que vieram de Tamoio, trazidos pelos caminhões cedidos pela usina, os dois times foram a campo.
Com gols de Lito e Colette, o Andaray venceu por 2 a 0 e a festa do título se espalhou por todo o bairro. É bom lembrar que Colette era reserva; entrou no time por força da contusão de um companheiro.
Da mesma forma, mantendo o elenco de 63, veio o bicampeonato em 64, quando o Andaray venceu o Estrela por 3 a 1. O time já não era mais o Elefante, mas segundo a imprensa, os “diabos rubros do Carmo”.
No ano seguinte, novamente na final do Amador, o Andaray perdeu para a Usina Zanin por 3 a 2; curiosamente, as finais que eram decididas no Municipal, em 65 foi levada para a Usina Zanin e até hoje corre o boato de que, a transferência de local foi arranjada há três dias do jogo final pela Liga Araraquarense de Futebol.
Em 1966, outra vez o Andaray disputou o título desta feita com o Santana. No Municipal, com gols de Cláudio Bombarda, o “Galo”, o Andaray venceu por 2 a 1, tornando-se tri-campeão.
Dentre os jogadores que passaram pelo Esporte Clube Andaray temos Dudú (Ferroviária e Palmeiras), Faustino (Ferroviária e São Paulo FC)
DIRETORIA / EQUIPE TÉCNICA
Durante muitos anos, o Andaray manteve uma estrutura formada por esportistas que tinham ideal com as tradições do Bairro do Carmo. Presidente de Honra: Namedes Rodrigues; Presidente: Arino Rodrigues Alves; Diretor de Futebol: Antônio Cabrera; Diretores: João Grego, Ari Rodrigues Alves, Arani Rodrigues Alves, Joanico, Neo, Roberto e Ademir. Técnicos: Eca e Spagaro; Massagista: Armandão Ribeiro, que durante anos serviu a Ferroviária e merecidamente tornou-se um dos lendários nomes do futebol amador e profissional.
O QUE A HISTÓRIA NÃO CONTA
A Câmara Municipal chegou a aprovar uma lei (N° 1263 de 27/08/1963) que doou terreno para o Andaray construir sua sede, porém, poucos dias depois, a lei foi revogada por motivos que nunca foram esclarecidos.
Segundo os comentários na época, desencontros políticos motivaram o cancelamento da lei de doação. O prefeito era Benedito de Oliveira e o presidente da Câmara, José Galli.
A doação ocorreu três meses antes das eleições em que Rômulo Lupo foi o grande vencedor. Tornou-se presidente da Câmara, o vereador João Vergara Gonzales.