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A luta é, no mínimo, para mais 100 anos

Por Walter Miranda

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Assisti ao Ato Político na Faculdade de Direito da USP, neste 11 de agosto de 2022. Pena que o horário tenha impedido a classe trabalhadora, operária, de baixa renda, de comparecer.

Gostaria de estar lá, mas problemas familiares, de saúde, me impediram. Os discursos no anfiteatro da USP não foram diferentes dos que ouvimos em outros momentos da nossa história, como, por exemplo, nas lutas pelas eleições diretas.

Os discursos no Salão Nobre da USP e em frente à Faculdade, foram emocionantes, principalmente o da garota preta, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Manuela Morais; e da professora preta da Faculdade de Direito da USP, Eunice de Jesus Prudente, que se apresentou como filha de Ogum. O mesmo ato em defesa da democracia aconteceu em todo país.

Em outros tempos, quando morava em Jundiaí, na felicidade dos meus trinta e poucos anos, com muita saúde, próximo a São Paulo, estive sempre presente em todos os atos, como este do dia 11 de agosto, em São Paulo e toda região metropolitana. Tenho saudade, mas percebo que a militância política de esquerda não é mais a mesma. A classe operária e trabalhadora, mais pobre e explorada, estava trabalhando e não pôde participar do ato às 10 horas, mas foi para a manifestação às 17 horas, no MASP.

Os militantes políticos daquele tempo estão envelhecendo, cansados, doentes, e muitos se foram deste planeta Terra para outras galáxias. Vejo que não plantamos sementes adequadamente, de modo que não estamos ainda colhendo os frutos necessários para a verdadeira democracia neste país, que é conquistar a independência política e os interesses da classe trabalhadora, acabando com a miséria, a fome, o desemprego e todas as opressões sociais ‒ o que acontecerá somente com o fim deste capitalismo opressor.

Passaram-se mais de 40 anos, e é triste observar que setores da esquerda ainda não entenderam que os interesses dos trabalhadores e da elite capitalista exploradora são antagônicos. A história tem demonstrado que alianças entre capital e trabalho é como água e óleo, não se misturam.

No campo eleitoral não se pode falar em democracia sem eleições verdadeiramente democráticas, em que todos os partidos e candidatos ‒ independentemente do tamanho ‒ tenham direitos iguais nas campanhas eleitorais ainda precisam ser conquistadas. Como falar em democracia com 77% da população endividada, quase 30% inadimplentes. Quase 35% das famílias estão endividadas junto ao Sistema Financeiro Nacional.

Estamos envelhecendo, cansados, e vejo que não plantamos sementes adequadamente, e portanto ainda não colhemos os frutos para ter uma sociedade verdadeiramente democrática, com sementes saudáveis e férteis para produzir lindas árvores e deliciosos frutos. Por eleições livres, sem ameaças golpistas. A luta é para, no mínimo, mais 100 anos.

(*) Walter Miranda, pós-graduado em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica de SP; Gestão Pública pela UNESP/Araraquara; militante da CSP Conlutas-Central Sindical e Popular.

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