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Economias em busca de caminhos

Por Domingos Carnesecca Neto

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Chile e Brasil (2) (*)

O Chile nos últimos anos avançou na aquisição de empresas e participação no mercado brasileiro.

Em 2011 a empresa aérea chilena LAN assinou com a brasileira TAM um acordo de cooperação, e em 2015 adotam a denominação unificada LATAM. Aí se encerrou o sonho construído pelo falecido comandante Rolim Amaro de ter uma empresa nacional forte no segmento do transporte aéreo.

A LATAM assumiu o Centro de Manutenção de Aeronaves – LATAM MRO, que tinha sido inaugurado em 2001,  nas antigas dependências da CBT, junto ao Aeroporto Mário Pereira Lopes, em São Carlos. Este Centro faz a manutenção de grandes aviões de sua própria frota e de outras companhias aéreas, inclusive o Air Bus Presidencial do Brasil – e conta com 550 mecânicos aeronáuticos e mais 400 outros funcionários, segundo dados de 2016.

Vítima deste negócio o  Museu da TAM – Asas de Um Sonho, inaugurado para o público em 2006, foi fechado em 2016. Era o maior museu aeronáutico privado do mundo e nossa região perdeu um grande atrativo cultural e turístico.

A Refrescos Ipiranga, a tradicional fabricante e distribuidora dos produtos Coca-Cola em Ribeirão Preto e região, foi vendida, por US$ 540 milhões em 2013, para a empresa chilena ANDINA que desde então nos abastece com estes produtos.

A mesma ANDINA em parceria com a mexicana FEMSA comprou a Cervejaria Therezópolis, num negócio aprovado pela matriz da Coca-Cola dos EUA, e entrou no mercado de bebidas alcoólicas.

A economia chilena é pujante mas muito do que consome é importado. O Chile, por exemplo,  não tem fábricas de veículos automotores, a última fábrica por lá existente, a GM foi fechada em 2008, e assim o mercado chileno é abastecido por importações, a taxa zero,  que somam 71 marcas diferentes de automóveis. Os automóveis fabricados no Brasil tem pouca participação neste mercado.

O nosso país exporta ônibus urbanos e rodoviários para o Chile, das marcas Marcopolo e Mercedes Bens, e, somente em 2020, foram exportados pelo Brasil 258 ônibus financiados pelo BNDES para o setor de transporte chileno.

Para suprir a demanda, de vários produtos, no seu mercado, o Chile tem 22 Acordos de Livre Comércio com 60 países.

O Chile não faz parte do Mercosul, como membro pleno, mas é um Estado Associado, com acordo de Livre Comércio com os países do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, e como associado pode participar de reuniões que tratam de interesses comuns.

O Chile atualmente negocia a renovação de acordo com mantém com a União Européia, seu terceiro maior parceiro comercial atrás de EUA e China, modernizando e incorporando novos itens ao acordo existente. Ressalte-se que a União Européia, em especial a França, resiste a um acordo comercial com o Mercosul, mas busca um acordo específico com o Chile. As importações chilenas de produtos da União Européia totalizam US$ 8,9 bilhões, quase o triplo do que o Brasil exporta para o Chile.

Na nossa região, são diversas empresas que fazem negócios com o Chile. Dentre elas a EMBRAER, que no segmento defesa, instalado em Gavião Peixoto, já forneceu aviões Super Tucano para a FACh – Força Aérea do Chile. E,  através de uma startup, a Eve Urban Air Mobility, tem acordos assinados para fornecimento de “carros elétricos”, os e-VTOL (ElectricVertical Take-Off and Landy).

A Nestlé que produz leites condensados em Araraquara e outras partes do Brasil sofre a concorrência dos leites condensados produzidos no Chile  pela própria Nestlé, que elegeu este país para ser uma plataforma internacional de exportação do leite condensado.

O Brasil exporta para o mercado chileno petróleo e derivados, alimentos – carnes bovinas e suínas, produtos industrializados diversos, ferro e aço, farelo de soja para ração animal, papel e cartão, dentre outras mercadorias. Estas exportações totalizaram US$ 3,8 bilhões em 2020.

O Brasil importa do Chile cobre e outros minerais, frutas, vinhos, pecados em geral, totalizando em 2020 US$ 2,8 bilhões em produtos. O saldo da balança comercial entre os dois países é favorável ao Brasil em um bilhão de dólares.

O Chile é um grande exportador de frutas frescas para o mercado mundial, superando o Brasil neste quesito.

A Lupo, tradicional fabricante araraquarense de meias, meias-calças, artigos esportivos, lingeries, pijamas, máscaras de proteção e outros, tem o Chile,  como um dos destinos de suas exportações.

Este Chile, que vimos aqui alguns dados de sua produção e consumo, muda neste dia 11 de março a sua Presidência da República, com uma nova orientação política. Paralelo à isto,  uma Assembléia Constituinte escreve nestes dias uma nova Constituição que será submetida ao plebiscito popular dos chilenos. O que mudará na sua economia e política? Quais os reflexos destas mudanças para o Brasil?

O Portal RCIA vai acompanhar estes acontecimentos no Chile e estaremos trazendo várias reportagens nas próximas semanas.

(*) Domingos Carnesecca Neto, Bacharel em Economia/UNESP, Licenciado em História/UNINOVE.

**As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR