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Endividado o consumidor perde o poder de compra

Por Walter Miranda

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A PEC-Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela CNC-Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo, efetuada no último mês, constatou que 77,3% das famílias brasileiras estão endividadas. Isso representa um crescimento de 7,6% quando comparado com o mesmo mês no ano de 2021.

O endividamento junto às empresas de cartão de crédito, conveniadas ou não com os Bancos, representou 86,6% do total. A seguir vem os carnês, com 18,3%; os financiamentos de veículos com 10,8%. Neste universo a pesquisa apontou que 28,9% das famílias estão com as contas em atraso, ou seja, inadimplentes.

Entre os endividados 58% afirmaram o cartão de crédito com o principal vilão; 29% com empréstimos consignados; 26% com contas de luz, água; 17% dívidas entre amigos e familiares e 14% com cheque especial. Nas compras diárias o cartão de crédito é o recurso financeiro preferido pelos brasileiros.

As taxas de juros cobradas pelo sistema financeiro no Brasil é a terceira mais alta do mundo. Os juros anuais estão em 318,7% para o cheque especial, 300,3% para o cartão de crédito e 119,5% para empréstimos pessoais. Taxas elevadas têm contribuído para o desonesto e injusto endividamento dos brasileiros, ficam sem condições de comprar no comércio local.

É triste constatar que sete, em cada dez brasileiros, têm renda inferior aos gastos, entendidos como tal as despesas e as amortizações das dívidas pessoais. A maioria não tem o hábito de planejar adequadamente as suas finanças e da família. É claro que a maioria, por vários motivos, não tem renda suficiente para sobreviver.

Analisando a conjuntura econômica, com inflação alta e mesmo com o aquecimento do mercado de trabalho após a pandemia, os rendimentos dos trabalhadores, principalmente dos com menor nível de escolaridade e sem a necessária qualificação profissional não aumentou. O avanço da informalidade no emprego tem contribuído negativamente para a administração das finanças pessoais.

Em meio ao absurdo de uma política econômica e financeira planejada pelo Banco Central, os lucros dos grandes bancos têm batido recorde. A Folha de São Paulo, em matéria no dia 12 de agosto 2022, informou que aos quatro grandes bancos brasileiros, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, tiveram um lucro líquido de R$ 26,6 bilhões somente no segundo trimestre de deste ano. Isso indica que acumularão lucro líquido de R$ 110 bilhões somente neste ano.

O péssimo exemplo de favorecimento do sistema financeiro que nada produz, vem da própria União que enviou ao Congresso a proposta orçamentária para 2023 direcionando recursos públicos absurdos para o sistema financeiro.

Do total dos gastos previstos no montante de R$ 5.031 trilhões, R$ 2.010 bilhões será destinado ao pagamento de juros e amortizações de dívidas junto ao sistema financeiro, representando 40% de todos os gastos da União, recursos que deveria ir para a saúde, educação e recursos para serem direcionados para os trabalhadores eliminar as suas dívidas.

Eu não tenho dúvida que sem aprovar medidas que elimine a especulação financeira no Brasil e o endividamento da população, o presidente da república eleito não vai, de maneira alguma, fortalecer o poder de compra dos consumidores e, consequentemente, alavancar a produção e comercialização de bens, proporcionando emprego e renda para todos.

(*) Walter Miranda, Diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Saúde e Previdência do Estado de S. Paulo; militante da CSP Conlutas -Central Sindical e Popular; Diretor do Sindifisco Nacional-Sind.dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil/Delegacia de Araraquara.

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