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Ferroviária e Saulo: emoção, redenção e fim de um jejum dolorido

Por Rafael Zocco

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O sábado de 5 de agosto de 2023 foi de muita emoção para todos que acompanham a Ferroviária. No jogo mais importante do ano, a Locomotiva tinha como missão conseguir a classificação às oitavas de final diante do Hercílio Luz. E o histórico pesou para esta decisão.

Contra equipes da região Sul, a equipe não tinha bom retrospecto em mata-matas na competição, nunca conseguido passar de fase. Em 2019, também pela segunda fase, dois empates em 0 a 0 contra o Cianorte-PR e derrota nas penalidades.

Já em 2020, após empate em 0 a 0 no primeiro duelo, o Marcílio Dias-SC venceu a Ferrinha, de virada, por 2 a 1 em plena Fonte Luminosa, com o time catarinense todo desfalcado tendo apenas quatro jogadores de linha no banco, além de não ter o treinador da época, Waguinho Dias, todos positivados com coronavírus.

Na edição deste ano, o time araraquarense enfrentou o Leão do Sul, no estádio Aníbal Torres Costa, em Tubarão, o qual totalizou 29 jogos de invencibilidade, ou seja, quase dois anos sem derrotas em seus domínios.

Os catarinenses passaram do Grupo A8 com a melhor campanha, somando 29 pontos com oito vitórias, apontado como favorito para o duelo por toda a campanha feita. A bola rolou e tudo o que aconteceu foram com requintes de crueldade para ambos os lados.

Na primeiro lance do jogo, a Ferroviária conseguiu abrir o placar com o jovem Antônio, revelado nas categorias de base do clube e voltou a ocupar a titularidade depois de quatro jogos. Foi um susto para os mais de 2 mil torcedores hercilistas.

Porém, depois do gol, o Leão fez uma pressão incrível e desperdiçou inúmeras chances de, pelo menos, sair com o empate na primeira etapa.

O segundo tempo começou com a trave e Saulo salvando a Ferroviária. O goleiro se destacou no jogo de ida na Fonte, quando a equipe saiu com o empate em 1 a 1. Se não fosse ele, talvez a derrota teria sido eminente e o jogo em Santa Catarina teria um outro capítulo.

Mas, o arqueiro grená poderia ter se transformado em vilão. O empate hercilista surgiu através de cobrança de escanteio fechada na primeira trave. Saulo tentou afastar a bola e ela acabou indo na trave e voltou limpa, nos pés de Giovani, que teve apenas o trabalho de empurrá-la para o fundo das redes. No lance, os jogadores grenás reclamaram com a arbitragem de falta no goleiro, mas de nada adiantou.

A partida ficou morna, mas controlada pelo time da casa. Após algumas substituições, o Hercílio alcançou a virada com Vitinho, em boa trama pelo lado direito de ataque. O gol foi merecido de quem pressionou em boa parte do jogo. Mas, isso não quer dizer nada enquanto não tiver o apito final de jogo.

Mesmo em desvantagem, a Locomotiva teve combustível e começou a chegar com muito perigo ao ataque na parte final de jogo, quando o Leão se afugentou para a defesa.

Precisou ser a última bola do jogo para que a Locomotiva conseguisse a façanha do empate. Chorado, sofrido, aos 50 minutos. Do escanteio quase sem força de Marcos Nunes, pra um cabeceio do gigante Maílson, que precisou se apequenar para alcançar a bola e o desvio certeiro de Pablo, colocando a bola no canto direito de Rafael Pin, que tem um vagão de pesadelos com o time grená, desde os tempos de Inter de Limeira.

O gol teve o apito final. 1 a 1 aqui em Araraquara. 2 a 2 lá em Tubarão. Nos restou as penalidades. A última vez que o torcedor afeano havia festejado através do tiro livre direto foi em 2017, na decisão da Copa Paulista contra a Inter, de Pin.

De lá pra cá, foram mais quatro disputas de penalidades e todas foram com derrotas: Votuporanguense (decisão da Copa Paulista de 2018), Corinthians (quartas de final do Paulistão 2019), Cianorte (segunda fase do Brasileirão Série D) e Atlético Cearense (quartas de final, o jogo do acesso da Série D de 2021).

E, como mencionado no início, o retrospecto não era nada favorável para a Ferrinha, mas a energia e o sentimento foram totalmente diferentes para esta decisão em Santa Catarina.

A Ferroviária deu o pontapé inicial com Pilar, batendo no canto esquerdo de Rafael Pin, balançando as redes. No time hercilista, Anderson Ligeiro, aquele ex-Marcílio Dias, chutou para fora.

Lucas Rodrigues, Maílson e Pablo converteram as outras penalidades grenás, enquanto Juliano e Kaike fizeram para o time da casa.

Na última cobrança da série de cinco, coube a Dener, ex-Ferroviária, bater no canto esquerdo, mas Saulo conseguiu fazer a defesa, garantindo um grito que ecoou de várias maneiras: alívio, redenção, vitória e classificação, foram alguns destes tipos. A alma foi definitivamente lavada com as mãos.

Saulo merece este momento. O jogador de 37 anos e que mais vestiu a camisa afeana desde quando o clube virou empresa ajudou a encerrar tabus. Os três pênaltis defendidos contra o Atlético Cearense na decisão de 2021 não culminaram com o acesso, mas precisou de apenas uma defesa para soltar um grito e uma corrida que foram de libertação.

Parabéns, Saulo. Parabéns, Ferroviária. O sonho continua.

*Rafael Zocco é formado em Comunicação Social – Jornalismo na UNIARA e escreve regularmente sobre Ferroviária no Portal RCIA Araraquara.

** As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR